Disco: “Bonanza”, Ramirez

/ Por: Cleber Facchi 07/05/2011

Ramirez
Brazilian/Indie/Power Pop
http://ramirez.art.br/

Por: Cleber Facchi

A primeira vez que tive acesso ao trabalho da Ramirez foi folheando as páginas da extinta Revista MTV, que entre as pequenas constatações sobre o grupo, colocava o quarteto carioca dentro do mesmo patamar de bandas influenciadas pelo Los Hermanos. Na busca, portanto, de alguém que desse continuidade ao trabalho de Camelo e Amarante, a audição do disco de estreia da grupo, (lançado em 2005) foi mais do que urgente. Em meio a uma instrumentação tocada pelo Power Pop e letras joviais e sinceras, o simplista debut acabou se revelando como um disco de fato interessante, culminando no fluxo de sensações e emoções típicas da pós-adolescência.

Faixas como Menininha, Feliz sem Mim e Deixar Pra Trás, sem mencionar o hit Matriz caíram facilmente no gosto popular, e mesmo que embarcadas pelos errôneos rótulos de “emo”, por conta da explosão de bandas ligadas ao estilo, se desvinculavam fácil das repetições de outros artistas, dando à banda um direcionamento totalmente próprio através de seus versos verdadeiros. O tempo e as sensações dos integrantes da banda (e dos ouvintes) foi passando e a mesma temática no poderia seguir em frente, tanto que ao lançar Desembarque (2008) o grupo realmente evoluía. A sinceridade e os versos fáceis ainda estavam lá, embora o sentimento fosse outro, apontando traços de maturidade.

Com Bonanza (2011), terceiro trabalho de estúdio da banda, o retrocesso é infelizmente o elemento mais marcante de todo o álbum. As canções de amor dão lugar à existencialismos banais, que beiram a auto-ajuda, sem contar no vergonhoso número de casos sem sentido e uma instrumentação que tenta se preencher de excessos e acaba se tornando uma sequência lamentável de acordes e pluralidades instrumentais. Esqueçam a vivacidade de outrora e deem olá a um Ramirez “adulto” e sem graça.

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O primeiro, e talvez mais expressivo erro do álbum está impresso nas letras de Bonanza. Enquanto em um passado recente a banda brincava com elementos como a “calma” e a “rapidez” (Não sou um só), ou transformava sofrimento em poesia, como o que era explorado em Desenhos e Frustrações Infantis, dois verdadeiros clássicos apesar pouco evidenciados, agora todas as letras vem carregadas de um vazio, meticulosamente programadas, despontando todo um caráter ambicioso e insincero. Por maior que sejam os esforços, não há como deixar passar os desnecessários versos de Bem Vindo ao Show e Jovens Demais, ou ainda pior Acorde e venha ver o Sol Nascer, digna de constrangimentos através de suas rimas fracas e simples demais.

O erro torna-se ainda maior, quando as letras se encontram com uma instrumentação imprecisa e desnorteada. Havia em Desembarque uma clara percepção de que os rumos da banda eram outros, como se percebia em Countrycore e Sophia, com o grupo deixando as guitarras momentaneamente de lado em prol de um som menos enérgico. Essa mudança deveria finalmente ser visível dentro do terceiro álbum, porém não é afinal, a banda experimenta demais, prova de novos sons em excesso e não se concentra na concisão do álbum. Bonanza segue por muitos caminhos, contudo nenhum deles parece ser o certo.

Antes que a profusão de fãs invadam a página de comentários, cumprindo sua função, que é a de defender a banda, tirem um mínimo tempo para rever os dois anteriores trabalhos do grupo, a fim de compreender de fato onde vivem as verdadeiras criações dos cariocas. A Ramirez já foi uma banda melhor, e é simplesmente não justo que se entreguem de forma enfadonha na criação de faixas como as encontradas dentro do atual trabalho.

Bonanza (2011)

Nota: 5.0
Para quem gosta de: Moptop, Vivendo do Ócio e Rockz
Ouça: Garotas do Interior

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.