Disco: “Born in the Echoes”, The Chemical Brothers

/ Por: Cleber Facchi 17/07/2015

The Chemical Brothers
Electronic/Dance/Alternative
http://www.thechemicalbrothers.com/

É admirável que mesmo 20 anos após o lançamento de Exit Planet Dust (1995), primeiro álbum de estúdio do duo The Chemical Brothers, Tom Rowlands e o parceiro Ed Simons ainda sejam capazes de manter a mesma proposta que apresentou o projeto: fazer o público dançar. Oitavo disco de inéditas da dupla original de Manchester, Inglaterra, Born in the Echoes (2015, Virgin / EMI), não apenas preserva a essência dançante das antigas composições, como expande ainda mais a fluidez enérgica das melodias e batidas.

Com 52 minutos de batidas firmes e bases psicodélicas, Born In The Echoes é uma obra que prende o ouvinte sem dificuldades. Do momento em que tem início Sometimes I Feel So Deserted, hipnótica faixa de abertura, Rowlands e Simons criam um verdadeiro cercado de temas e arranjos sedutores, prendendo o espectador com naturalidade até a derradeira e “compacta” Wide Open. A mesma coerência ressaltada no antecessor Further (2010), como o presente disco, um álbum feito para ser apreciado do começo ao fim.

Ao mesmo tempo em que mantém firme a composição dançante, ritmo eufórico e rico acervo de hits, efeito típico dos comerciais Push the Button (2005) e We Are the Night (2007), nítido é o interesse da dupla em construir faixas marcadas pelo experimento. Contrapondo o som pegajoso, pop, de músicas como Go, uma seleção de faixas planejadas aos moldes de EML Ritual. Verdadeira coleção de batidas tortas, sobreposições instáveis e constante quebra, a canção é apenas a ponta do iceberg reforçado por Reflexion, Radiate ou mesmo a própria faixa de abertura.

Repleto de boas parcerias, em Born In The Echoes, a dupla britânica resgata o mesmo espírito criativo do clássico Dig Your Own Hole (1997). Mais do que “simples vozes”, o time de convidados formado por Beck (Wide Open), Q-Tip (Go), Cate Le Bon (Born In The Echoes), Annie Erin Clark (Under Neon Lights) e Ali Love (EML Ritual) interfere diretamente na construção do disco. Enquanto Under Neon Lights soa como um remix torto do último álbum de St. Vincent, Wide Open converte o mesmo sofrimento explorado por Beck no álbum Morning Phase (2014) em algo dançante.

Longe do seleto time de convidados, o acerto da dupla inglesa parece ser ainda maior. Basta a inaugural Sometimes I Feel So Deserted para perceber isso. Em pouco mais de cinco minutos de duração da faixa, Rowlands e Simons são capazes de ir mais longe do que qualquer gigante da EDM nos últimos cinco anos. Uma atenta colagem de texturas, sintetizadores letárgicos e ruídos que bagunçam a cabeça do ouvinte. O mesmo acerto se repete em Reflexion. Faixa mais extensa do disco, a composição de quase oito minutos arrasta lentamente o espectador para um domínio de forma instáveis, distorções e batidas precisas, como um verdadeiro delírio transformado em música.

Explícito em uma rápida passagem da enérgica Go, com o novo álbum “não há tempo para descanso”. Parte de um cenário hoje dominado por novatos e conterrâneos como Disclosure, Jamie XX e Totally Enormous Extinct Dinosaurs, Born in the Echoes é a prova funcional de que a dupla The Chemical Brothers ainda mantém firme seu próprio espaço.

Born in the Echoes (2015, Virgin / EMI)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Daft Punk, Justice e Disclosure
Ouça: Reflexion, Go e Sometimes I Feel So Deserted

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.