Disco: “Boys & Girls”, Alabama Shakes

/ Por: Cleber Facchi 10/04/2012

Alabama Shakes
Rock/Soul/Blues Rock
http://www.alabamashakes.com/

Por: Cleber Facchi

“Não se fazem mais bandas como antigamente”, “o rock não é mais o mesmo”, “todas os grupos atuais parecem cópias uns dos outros”, “a música de hoje não tem alma”. Quem nunca se deparou com esse tipo de frase ao debater sobre música com um ouvinte mais velho ou mesmo algum adolescente metido à besta em uma mesa de bar provavelmente passou tempo demais trancado em casa. Não é de hoje que as velhas gerações parecem temer o que há de novo no cenário musical – você próprio já deve ter feito isso ou ainda irá fazer com alguém mais novo do que você. Entretanto, estes mesmos indivíduos terão de se calar ao ouvir Boys & Girls (2012, ATO), primeiro e aguardadíssimo álbum da banda norte-americana Alabama Shakes.

Espécie de retomada não intencional do espírito que banhava o rock dos anos 60/70, o registro de 11 faixas resgata não apenas a sonoridade gloriosa de quando o estilo ganhou o mundo há mais de cinco décadas, como uma série de incontáveis campos musicais por vezes esquecidos ou simplesmente abandonados com o passar dos anos. Do minuto em que começa até o fechamento, o álbum se edifica como uma gigantesca ode aos sons do passado, mantendo (de forma sempre controlada) uma forte aproximação com o presente. Boys & Girls é o disco perfeito para empolgar seu pai ou seu avô, mas deve funcionar de maneira muito mais competente com você.

Do neo-soul rasgado que escorre dos vocais de Brittany Howard ao Blues Rock leve que explode da guitarra de Heath Fogg, tudo faz parte da produção musical do presente, claro, sempre temperada com um gostinho de passado. Há durante toda a execução do disco uma marcada herança do que artistas como Led Zeppelin, Otis Redding, Sly and the Family Stone e até AC/DC cultivaram em suas respectivas carreiras, porém, as referências exploradas pelo grupo parecem totalmente relacionadas a atual fase, com as guitarras de Jack White se encontrando com a voz de Amy Winehouse, ou o despojo da dupla The Black Keys dialogando com a fluidez chorosa do Band of Horses.

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Esse constante encontro de décadas e referências musicais acaba transformando o álbum em um trabalho inteiramente nostálgico. Uma espécie de sentimento acolhedor que se relaciona tanto com os sons empoeirados vindos de um passado longínquo – algo presente em You Ain’t Alone –, como toques de um passado ainda fresco e recente – expressão bem retratada na pulsaste e contemporânea On Your Way. É justamente essa constante aproximação entre diferentes épocas (e estilos musicais) que torna o trabalho interessante e dinâmico, como se todas as rachaduras do disco fossem aos poucos magistralmente cobertas pela hábil banda.

Capaz do agradar aos mais distintos públicos, Boys & Girls acerta justamente por se esquivar de grande hits. Mesmo as mais comerciais faixas do álbum – como Hold On, I Found You, On Your Way e Heartbreaker – indispõem de uma força absurda ou exagerada, o que acaba por estabelecer a estrutura linear do disco, como se cada canção tivesse o mesmo peso e influência dentro do álbum. A condução coesa e constante do trabalho possibilita que cada mínima fração do registro se revele repleta de nuances e detalhes assertivos, com o quarteto agradando tanto em criações mais aceleradas (situadas no princípio e fim da obra), como no conteúdo melancólico que se concentra na parte central do trabalho.

Boys & Girls é claramente um trabalho que não se arrisca em nenhum momento – ele não precisa disso. Tudo que se encontra dentro do álbum já circula pelos mais distintos planos musicais há décadas, a atuação da banda, entretanto, foi de unicamente catalogar e manter organizado cada um desses elementos, algo que eles assumem com perfeição até o encerramento da última música. Em quase 40 minutos, o álbum passeia por incontáveis décadas, influências e tendências musicais, resultando em um projeto que aponta para diversas direções e acerta em todas.

Boys & Girls (2012, ATO)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: The Hold Steady, The Black Keys e Kings Of Leon (dos primeiros discos)
Ouça: On Your Way e Hold On

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.