Disco: “Brasil EP”, People I Know

/ Por: Cleber Facchi 02/07/2012

People I Know
Brazilian/Electronic/IDM
https://www.facebook.com/seepeopleiknow

Por: Cleber Facchi

Mais do que predisposições aos mesmos estilos musicais e referências instrumentais próximas, o que une o bem sucedido primeiro registro do capixaba Silva e o recente Efeito das Cores, trabalho de estreia da carioca Mahmundi, está muito além dos padrões sonoros. Produtor responsável por grande parte da construção de ambos os registros, Lucas de Paiva parece ser a presença que mais define e conecta os dois projetos. Registros que mesmo apontando para direções quase opostas, trazem no acabamento eletrônico e nos ruídos sintetizados muito da presença do músico, que ao lançar o primeiro projeto em carreira solo permite que todas essas marcas e mínimas características sonoras se manifestem.

Com exceção do título verde e amarelo que dá vida ao registro, poucas ou talvez inexistentes sejam as referências tupiniquins que aparecem ao longo do primeiro disco do produtor. Das batidas diminutas, passando pelos teclados sutis e samples pouco exaltados, o grande foco de Brasil EP (2012, Independente) está nos sons vindos do exterior. Seja pelos ecos de IDM – que muito se relacionam com o mais recente lançamento do britânico Actress, R.I.P. – ou as doses controladas de chillwave manifestas no início do trabalho, todas as engrenagens do trabalho são estrangeiras, o que não impede que por vezes o produtor se deixe consumir por uma dose leve de batuques, resultado que bem define grande parte de Brasil 02 (todas as faixas trazem o mesmo nome, trocando apenas numeração), a composição mais “brasileira” do álbum.

Com uma proposta bem estabelecida na música eletrônica, Paiva – que aqui se apresenta como People I Know – se divide na criação de dois grupos bem definidos de faixas. O primeiro resultado se estabelece logo nos minutos iniciais do álbum, quando Brasil 01 e a soma delicada de teclados que a definem arrastam o registro imediatamente para uma proposta ambiental e sutil. Por vezes lembrando o trabalho do Memory Tapes no álbum Seek Magic ou mesmo a atuação de Daniel Lopatin nas composições menos esquizofrênicas do Oneohtrix Point Never, esse grupo de canções parece beber diretamente do synthpop da década de 80, mantendo no ritmo leve a grande marca de boa parte do trabalho.

Já o outro grupo de canções aposta em uma sonoridade bem diferente da que define os momentos mais climáticos do álbum. Mesmo que a proposta amena prevaleça em todo o disco, faixas como Brasil 02 e Brasil 03 se desprendem do caráter atmosférico para focar inteiramente em um som mais dançante e que se entrega por inteiro às pistas. Por vezes incorporando o mesmo acabamento dado ao recente Kindred EP, último lançamento do produtor britânico Burial, e até flertando com os minimalismos que definem o trabalho do The Field no ótimo Looping State Of Mind, esse pequeno concentrado do álbum permite que Paiva passeie por diversos campos da música eletrônica de forma a hipnotizar e instigar o ouvinte.

Como se ainda estivesse em pleno processo de descoberta, testando o maior número de influências e fórmulas possíveis, o carioca faz do pequeno grupo de seis composições uma verdadeira visita aos sons e referências que definiram o cenário eletrônico (principalmente o britânico) dos últimos cinco anos. Seja pelas transições pela IDM, Dubstep, Ambient, Grime ou Chillwave, cada faixa do álbum se abre para um mundo de possibilidades sonoras, exercício que talvez parecesse confuso nas mãos de alguém inexperiente, mas que se resolve de forma inteligente ao longo do disco.

Mesmo rico em referências e sonoridades que se sobrepõem o interesse de Lucas de Paiva em experimentar os mais variados estilos e possibilidades dentro de Brasil EP acaba em alguns momentos favorecendo o surgimento de canções que se fecham em torno de um resultado deveras complexo e inacessível ao ouvinte. É como se algumas das faixas estabelecessem um som capaz de ser compreendido apenas pelo próprio criador das músicas, o que inviabiliza um melhor recebimento do trabalho. O álbum, entretanto, se apresenta visivelmente como um teste, uma preparação para os futuros inventos do produtor, que pelo menos por enquanto, consegue estabelecer diversos momentos de puro agrado.

Brasil EP (2012, Independente)

Nota: 7.4
Para quem gosta de: Actress, Pazes e Memory Tapes (do disco Seek Magic)
Ouça: Brasil 03 e Brasil 05

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.