Disco: “Breakthrough”, The Gaslamp Killer

/ Por: Cleber Facchi 01/11/2012

The Gaslamp Killer
Experimental/Hip-Hop/Electronic
http://www.thegaslampkiller.com/

Por: Gabriel Picanço

The Gaslamp Killer segue uma receita que, pelo menos no mundo da arte, costuma dar certo. Um sujeito que se destaca dos demais por suas atitudes e comportamento (e em muitos casos, visual) completamente foras de sintonia com o padrão considerado normal. William Benjamin Bensussen vai além e consegue ser mais obscuro e amedrontador que a maioria. O sujeito é claramente perturbado e apaixonado. Sem deixar de fascinante, é claro. Um cara bizarro e hiperativo que canaliza toda essa energia em forma de música. Como gosta de lembrar, a sua música é para a mente, não para o corpo. Pode ser definido ainda como uma evolução sintética, mais dark e eletrônica dos doidões que há algumas décadas atrás também faziam “música para mente”, ali, na mesma California onde o produtor atua.

Em Breakthrough, álbum de estreia oficial, o DJ e produtor, cujo interesse é manipular sentimentos e criar sensações com a sua música, dá continuidade ao que vinha mostrando em seus dois EPs anteriores e em sua colaboração com o rapper Gonjasufi, o disco A Sufi and a Killer, de 2010. Beats originais, quase sempre tocados diretamente em uma bateria física, construções instrumentais complexas e abstratas, além da aprimorada técnica de utilização de samples. Colando tudo isso, elementos que não são diretamente musicais, mas que se tornam característica das mais fortes de Breakthrough: a atmosfera sombria e a forte carga mística nas músicas.

A partir da introdução que abre o disco, texturas que causam estranhamento e incomodo invadem por todos os lados, como elementos propositalmente bagunçados e sem coesão. Em alguns momentos as faixas se tornam extremamente obscuras e distorcidas, beirando o incomodo, como em Peasants, Cripples & Retards, ou ainda na pesada Meat Guilt, em que o baixo lúgubre adiciona um clima de filme de terror. Mas, tal como ocorre ao assistir filmes desse gênero, as sensações aterrorizantes trazem certo prazer e fascínio, na mesma medida do medo.

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Em mais da metade das faixas, The Gaslamp Killer divide a autoria com outros produtores ou instrumentistas. Se por um lado isso adiciona diferentes e interessantes temperos ao disco, por outra, tira bastante da unidade e da identidade de Breakthrough como um disco de um artista só. Para os que não estão com os ouvidos acostumados a sonoridade de Gaslamp Killer, pode ser difícil identificar e diferenciar o que é característico a sua produção e o que é trazido pelos convidados. O time de participações, alias, é impecável. Em Breakthroug” estão alguns dos maiores produtores de hip-hop, IDM ou seja-lá-o-que-for da atualidade, como Shigeto, Daedelus e Samiyam. Uma falta não explicada (e inexplicável) é a de Flying Lotus, conterrâneo, parceiro de longa data e colega do selo Brainfeeder.

Em faixas como Dead Vets e Nissim são claros momentos onde os convidados se tomam os grandes destaques. Na primeira, Adrian Younge, o homem capaz de transformar qualquer música em algo vindo diretamente da década de 70, adiciona bastante funk ao clima tenebroso do álbum, resultando em algo que serviria muito bem como trilha sonora de um filme blacksploitation de terror setentista, no melhor estilo Blacula. Já na segunda, o tambur (instrumento tradicional da música turca) tocado por Amir Yaghmai transporta de imediato o disco para um ambiente mais místico e zen, transformando essa na grande faixa de Breakthrough.

Além da bateria vigorosa e pesada presente na maioria das faixas, Gaslamp Killer mostra o que tem de único no uso perfeito de samples nada tradicionais, de fontes obscuríssimas e quase impossíveis de serem identificadas, buscadas em registros quase perdidos de música oriental e africana. Fica difícil, por exemplo, imaginar uma base que funcionasse melhor em Apparitions, com a participação certeira de Gonjasufi, do que o Ethio-jazz Fetsum Denq Ledj Nesh do quase anônimo Mahmoud Ahmed. Mais do que produto de intencionalidade, “Breakthrough” é o registro do que sai naturalmente do corpo e da mente de Gaslamp Killer, mesmo que essa última seja um tanto perturbada. Ainda assim, o resultado parece um pouco perdido, com pontos altos, mas incapaz de transmitir toda a energia musical que o produtor acredita ter.

Breakthrough (2012, Brainfeeder)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Gonjasufi, Flying Lotus e Teebs
Ouça: Father, Fuck e Mother

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.