Disco: “Burst Apart”, The Antlers

/ Por: Cleber Facchi 28/04/2011

The Antlers
Indie/Slowcore/Alternative
http://www.myspace.com/theantlers

Por: Cleber Facchi

 

Embora sejam inúmeros os trabalhos que tragam os relacionamentos (ou términos deles) como força motriz para as composições, raríssimos são os álbuns que conseguem abordar o tema de maneira verdadeiramente sincera ou que se desvencilhem das redundâncias que por vezes os transformam em algo cansativo e desnecessário. Fazendo parte do grupo dos raros, Peter Silberman, líder do The Antlers, fez de seu termino de relacionamento uma analogia à loucura, transformando Hospice em um dos mais belos e sentimentais registros da primeira década dos anos 2000. Com o novo disco, a banda nova-iorquina ainda apresenta pequenos resquícios da loucura de outrora, embora encaminhamentos apontem para um novo futuro.

Se no trabalho anterior o The Antlers transferia a loucura para dentro da própria instrumentação do disco, mesclando momentos de serenidade, que imediatamente se transformavam em picos raivosos, ou trechos sorumbáticos, que logo se convertiam em uma forçada aceitação, Burst Apart (2011) se revela como um disco controlado, ou que pelo menos sabe como fingir isso. Em todas as dez canções, os integrantes do grupo – que se completa com Michael Lerner (bateria) e Darby Cicci (teclados e trompete) – movimentam uma sonoridade estável, nem muito baixa, nem muito alta, mas sempre de maneira equilibrada, embora penda eventualmente para os toques de ponderação do trabalho que o precede.

É possível até afirmar que com este quarto álbum – os anteriores são Uprooted (2006), In the Attic of the Universe (2007) e Hospice (2009) – o trio busca desenvolver um tipo de musicalidade menos ponderada, se aproximando do que foi explorado nos dois primeiros trabalhos do grupo. Faixas como French Exit, por exemplo, entregam a banda de forma inédita, lançando uma sequência de acordes menos depressivos e até mesmo “dançantes”. Não existem mais faixas que despontem o caráter minimalista, como o que era encontrado anteriormente em músicas como Atrophy ou Prologue, agora tudo soa sob um leve entusiasmo.

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Se instrumentalmente Burst Apart soa de maneira mais “animada”, as poesias do recente álbum não repassam a mesma sensação. Abrindo o trabalho, Silberman já demonstra todas as dificuldades dessa “nova vida” em I Don’t Want Love, mostrando a tentativa do eu-lírico em se deparar com novos relacionamentos e todo o receio em amar. Remetendo aos tempos de Hospice, No Widows traz também elementos da tentativa de readaptação do personagem (ou o próprio compositor), elemento que se encontra também em Every Night My Teeth Are Falling Out e demais composições ao longo do disco.

Enquanto Hospice permitia, que tanto a instrumentação explodisse apenas nos momentos de desespero propostos no decorrer das faixas, o o novo registro permite que tanto os instrumentos, quanto o próprio vocal de Peter Silberman sejam entregues de maneira vigorosa, não apenas em pontos chaves do trabalho, mas em um número maior de canções. Faixas como Every Night… e Hounds permitem que o vocalista passeie de maneira mais solta através das bases instrumentais, que por sua vez também são autorizadas a se preencherem com diversos arranjos de sopro, teclados climáticos e parcas aplicações de percussão. A instrumentação ruidosa e ponderada de outrora abre espaço para faixas aos moldes de Corsicana, em que todos os elementos convergem em prol de uma sonorização minuciosa.

Não se deve ouvir Burst Apart na tentativa de encontrar algo que supere seu antecessor (cuidado com o monstro da expectativa e que atrapalha inúmeros lançamentos), afinal, ambos funcionam como peças que se encaixam. O novo disco parece dar perfeita sequência de onde a banda parou no último disco, contando inclusive com uma instrumentação ainda mais cuidadosa. Um belo registro sobre a readaptação e um trabalho tão primoroso quanto Hospice.

Burst Apart (2011)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: The National, Grizzly Bear e Bon Iver
Ouça: Every Night My Teeth Are Falling Out

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.