Disco: “California Nights”, Best Coast

/ Por: Cleber Facchi 28/05/2015

Best Coast
Indie Rock/Alternative/Garage Pop
http://www.bestcoast.net/

Poucos artistas atuais sabem como explorar tão bem as melodias quanto Bethany Cosentino. Seja no ambiente sujo que marca o álbum de estreia do Best Coast, Crazy for You (2012), ou na limpidez instrumental que preenche toda a estrutura do sucessor The Only Place (2012) – obra que conta com a produção do compositor Jon Brion -, ao visitar o cercado autoral da cantora e compositora californiana, vozes, arranjos e até mesmo as confissões mais amargas ecoam de forma acolhedora, em um ambiente sutil.

Quase uma continuação do material apresentado em Fade Away EP, de 2013, California Nights (2015, Harvest), terceiro álbum de estúdio da banda, cresce como uma obra que mesmo raivosa em diversos instantes, mantém firme o uso de harmonias brandas, típicas da artista. Enquanto a voz de Cosentino cresce (Fine Without You), explode (So Unaware) e até assume o tom dramático (Wasted Time), guitarras versáteis – em parte assumidas pelo parceiro Bobb Bruno – aos poucos preenchem todas as lacunas da obra, resgatando elementos característicos de veteranos como R.E.M. ou mesmo de artistas próximos, caso dos conterrâneos do Real Estate.

Mesmo montado em uma estrutura padronizada, alternando entre arranjos de temática litorânea, solos carimbados e refrão pronto, difícil não sucumbir aos encantos de Cosentino. Emulando um típico exemplar do Pop-Rock dos anos 1970 – ou seria 1990? -, faixas como When Will I Change, Feeling Ok e In My Eyes prendem o ouvinte sem dificuldades, padrão que em nenhum momento transforma o disco em uma obra cansativa ou previsível.

Verdadeira fábrica de hits, California Nights segue de forma intensa até o último acorde, ocupando todos os espaços da obra com música de forte apelo radiofônico. Da abertura com Feeling OK, passando pelas guitarras sujas de In My Eyes até alcançar os versos de apelo imediato em Sleep Won’t Ever Come e Wasted Time, no encerramento do disco, cada composição parece projetada de forma a grudar no cérebro do ouvinte. Uma clara evolução quando comparado ao antecessor The Only Place, um disco de fato inaugurado por boas canções, porém, arrastado nos instantes finais.

Honesto do primeiro ao último instante, California Nights resgata de forma particular a mesma leveza dos primeiros registros da banda – singles ou EPs. Enquanto as guitarras crescem enérgicas, o vocal firme de Bethany Cosentino detalha versos de pura comoção, replicando a mesma atmosfera assertiva de faixas como When I’m With You, Boyfriend e Why I Cry.

Componente central em toda a discografia da banda, o amor – ou mesmo a falta dele – continua a servir de estímulo para cada verso ressaltado no interior de California Nights. Talvez a maior diferença esteja no completo distanciamento de Cosentino, não mais a “protagonista” das canções. Diferente dos dois últimos discos, principalmente o primeiro, de 2010, mesmo as composições mais tristes e confessionais da obra soam como a personificação de diferentes indivíduos; personagens que passeiam pelas “noites californianas” como bem resume o título do álbum.

California Nights (2015, Harvest)

Nota: 7.6
Para quem gosta de: Dum Dum Girls, Wavves e Tennis
Ouça: Feeling OK, In My Eyes e When Will I Change

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.