Disco: “California X”, California X

/ Por: Cleber Facchi 03/04/2013

California X
Indie/Garage Rock/Alternative
http://californiax.bandcamp.com/

 

Por: Cleber Facchi

California X

É surpreendente a forma como as guitarras simplesmente deslizam nos ouvidos durante os mais de 30 minutos de duração que sustentam o primeiro álbum do Califonia X. Próximo e ao mesmo tempo distante de diversas marcas que predominam no rock clássico ou mesmo na cena alternativa recente, o autointitulado disco do grupo de Amherst, Massachusetts é praticamente um convite para um cenário semi-desértico, motocicletas e doses imoderadas de cerveja. Canções que praticamente se transformam na trilha sonora alternativa de um filme B da década de 1970 e ainda assim mantém firme a relação com o presente. Um som nostálgico, raro, mas que não deixa em nenhum momento de ser atual.

Por conta da movimentação crescente de trabalhos íntimos da eletrônica ou mesmo de registros sustentados de forma leve dentro da proposta do rock, ao ouvir o primeiro álbum do California X é como se deparar com uma obra impregnada pelo frescor. Cada riff, batida exata de bateria ou vocal firme corresponde ao que gigantes do meio desenvolvem desde o fim da década de 1960. São faixas rápidas que mergulham na herança do Black Flag, tropeçam no Punk nova-iorquino, até se acomodar de maneira decidida no rock alternativo e em tudo o que foi construído desde o final dos anos 1980. Um pouco das guitarras do Dinosaur Jr, doses consideráveis das linhas de baixo do Nirvana, e, claro, a capacidade do grupo em transformar velhas referências em algo totalmente novo.

Assumindo o mesmo caráter áspero que orienta o trio METZ no decorrer do primeiro disco de estúdio, a banda ganha notoriedade por trabalhar as guitarras não apenas dentro de uma medida de peso e agressividade, mas por saber como lidar com as melodias. Não por acaso, quanto mais tempo passamos dentro do cenário que cheira a óleo diesel, cerveja e mulheres, mais encontramos semelhanças com assertividade que orienta o Japandroids no enérgico Celebration Rock (2012). São composições que se agarram de forma intencional aos maiores clichês do rock clássico e ainda assim conseguem parecer inéditas, mesmo aos ouvidos experientes.

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Assim como aconteceu com a dupla canadense no último ano (ou mesmo no debut Post-Nothing, de 2009), logo que a banda abre as portas do trabalho com a densa Sucker, a mesma proposta instrumental se estende até a execução do acorde final do disco. A estratégia firma uniformidade ao álbum, que contrário a muitos lançamentos do gênero, não se orienta por ressaltar diferentes marcas do rock alternativo através de cada nova faixa, mas por aglutinar todas as marcas de diferentes épocas como um todo. Dessa forma, tanto Spider X no meio do álbum, como Mummy no fechamento do disco partilham de um mesmo composto raivoso e crescente.

Talvez o que mais acrescente ao disco não seja a relação cuidadosa da banda com os sons quase caricatos de diferentes épocas do rock, mas o descompromisso do grupo em construir um trabalho que não pretende mudar nada e quer apenas divertir momentaneamente. Assim como nas faixas de Celebration Rock, ou mesmo do recente Afraid of Heights, novo álbum do Wavves, com o primeiro disco o California X abre espaço para que o vocalista Lemmy Gurtowsky discorra sobre temas cotidianos, quase “sem grande importância”. Um complemento lírico brando, suficiente para manter nas guitarras, bateria e baixo o principal esforço de toda a obra.

Depois da seleção de bons discos lançados no último ano e que partilham de experiências sonoras bastante similares – além dos registros acima é possível mencionar Attack On Memory do Cloud Nothing, Open Your Heart do The Men e a estreia do King Tuff -, com o primeiro álbum o grupo mostra que ainda há muito a ser feito. Não há nada no decorrer do disco que outras centenas de bandas já não tenham experimentado, a diferença esta em perceber o quanto o uso de guitarras firmes e a vontade de construir um disco dinâmico garantem novidade. A estreia do California X tinha tudo para soar como uma verdadeira ressaca, mas acabou surgindo como um convite obrigatório para uma nova festa.

 California X

California X (2013, Don Giovanni)


Nota: 8.0
Para quem gosta de: METZ, Japandroids e The Men
Ouça: Sucker, Pond Rot e Spider X

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.