Disco: “Caminando Y Cantando”, Wander Wildner

/ Por: Cleber Facchi 16/02/2011

Wander Wildner
Brazilian/Punk Brega/Alternative
http://www.myspace.com/wanderwildner

 

Wanderley Luiz Wildner ou como é conhecido em sua carreira artística, o Wander Wildner é uma quase unanimidade musical. Você pode nunca ter ouvido um disco dele de cabo à rabo, mas certamente também deve ter uma camisa escrita eu te amo, já se cercou de anjos e demônios, pode ter se entorpecido bebendo vinho, já passou por alguma fase hippi-punk-hajneesh, há tempos não acredita em milagres e muito menos deve ser alegre o tempo inteiro.

O leitor em algum momento da sua vida já deve ter sido tocado pelas composições Wildner, mesmo que involuntariamente, afinal suas criações focam em termos e momentos universais e exploram crises individuais que perpassam diversas fases de nossas vidas. Caminando Y Cantando (2011) sexto disco da carreira solo do músico gaúcho de Venâncio Aires traz as mesmas desavenças particulares embaladas pelo cantor e seu violão, num caminho solitário e sofredor que se emoldura pelas versões angustiantes de clássicos do cancioneiro universal. De Belchior à Sérgio Sampaio, cada faixa desse novo disco parece tão produto das mãos calejadas de Wander como foram de seus compositores originais.

“E bravo/ Ficou só/ Do mundo tornara-se ridículo/ Para nele se viver” com essa frase amargurada de As Coisas Mudaram, uma das poucas não-versões, Wander despeja todo seu lado melancólico e nostálgico. Por meio de um violão ritmado por uma fluência voltada aos filmes do velho oeste – o músico já afirmou que a faixa faz referência ao filme O Pequeno Grande Homem de 1970, com Dustin Hoffman e direção de Arthut Penn – a faixa abre de maneira climática o trabalho, permeada ao fundo por uma percussão quase imperceptível e intimista. Dani, originalmente presente na estreia do músico Jimi Joe traz o mesmo macambúzio musico entoando os versos como se a cada acorde um pedaço seu fosse perdido.

Mais à frente chega a versão de A Palo Seco, clássica composição de Belchior que trata sobre a situação do povo e do Brasil nos anos 70, mas que aqui parece como uma lamúria individual, um sofrimento não compartilhado e único apenas Wildner. Até a falta dos momentos exaltados, tão comuns em seus trabalhos anteriores aqui se faz por esquecida. É como se a partir dessa faixa o ouvinte de fato fosse arremessado para dentro da estética sofredora do músico, por mais que em alguns momentos ela chegue de maneira forçada demais.

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Um pouco mais “aberta” A Razão do Meu Viver (presente de Sérgio Luffing à Wander Wildner) parece como qualquer canção amargurada do músico com aquele toque de dramaticidade tão costumeira, que poderia ser encontrada em álbuns como Baladas Sangrentas (1997) ou Buenos Dias! (1999), primeiros trabalhos de estúdio do músico em carreira solo. Mas é com Puertas Y Pertos entoada em português e castelhano, uma parceria com o músico uruguaio Santiago Guidotti, que Wander arrebata de vez os ouvintes. É nessas horas que você abre a garrafa de vinho, senta no sofá e sofre amargurado, como se o gaúcho disparasse aqueles versos para mais ninguém além de você.

Amor e Morte é outra balada daquelas de rasgar o coração, mas é com a serenata punk-folk com ares de tango Calles de Buenos Aires, com Wildner cantando apertando seus braços e olhando firmemente para você que a melancolia toma conta mais uma vez. Apesar da similaridade Viajei de Trem, uma das principais obras do maldito Sérgio Sampaio surge aqui de maneira distinta se comparada das canções anteriores. Talvez os violões mais arejados tragam esse ar à composição, mesmo os vocais do cantor se comportam de maneira mais aberta e livre do hermetismo depressivo de outrora.

Para as gravações do novo disco WW convidou Thomas Dreher (que já trabalhou ao lado de gente como Bidê ou Balde e Beto Só) para a produção do álbum. Há também a presença de Flu (ex-De Falla), do músico Santiago Guidotti do Uruguai, Guilherme Almeida vindo da banda Pública e Pedro Petracco do Cartolas, entre outros mais. A presença desses músicos e sua funcionalidade fica mais do que visível em faixas como Para Ti Juana (talvez a única canção “alegre” do disco) em que a sonoridade não se limita apenas ao básico ambiente acústico das faixas anteriores.

Caminando Y Cantando cai facilmente na rotulação de um trabalho clichê, coisa que em nenhum momento ele deixa a esconder. Porém todos os chavões fluem coerentemente com os sentimentos naturais de um coração partido, afinal, não há como escapar de se sentir tocado por canções como Dani, A Razão do Meu Viver ou Puertas Y Puertos. Esse sexto trabalho de Wander Wildner é um disco para ser apreciado por quem sofre de amor em suas inúmeras tonalidades e formas, um álbum que cedo ou tarde você acabará ouvindo ou mesmo vivenciando.

Caminando Y Cantando (2011)

 

Nota: 7.7
Para quem gosta de: Os Replicantes, Stuart e Graforréia Xilarmônica
Ouça: Puertas Y Puertos

Por: Cleber Facchi

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.