Disco: “CAMP”, Childish Gambino

/ Por: Cleber Facchi 08/12/2011

Childish Gambino
Hip-Hop/Rap/Alternative
http://www.childishgambino.com/

Por: Cleber Facchi

 

Donald Glover é um canastrão de primeira linha. Comediante, escritor e ator (ele se tornou conhecido por interpretar o personagem Troy Barnes na série Comunnity), o californiano de 28 anos soube como poucos a maneira como se aproveitar dos maiores clichês do Hip-Hop ao lançar o primeiro registro em estúdio sob a alcunha de Childish Gambino. Entre versos que atacam o racismo e se voltam ao passado “sofrido” do artista, Glover aproveita ainda para estabelecer a busca por um som comercial e incrivelmente dançante, transformando o acessível CAMP (2011, Glassnote) em um dos trabalhos mais bem sucedidos do rap norte-americano de todo o ano.

Estudante entusiasmado dos ensinamentos de Kanye West no clássico Graduation – sim, há um pouco de Late Registration também -, o “jovem” rapper ocupa os quase 60 minutos do trabalho com uma busca constante por um som dividido entre beats eletrônicos e versos marcados pela fluidez radiofônica. Dessa forma, Glover estabelece um trabalho movido por uma energia musical versátil e sempre crescente, algo que o hit Bonfire (um hit fácil para o próximo verão), logo na abertura do disco já traduz com força e propriedade. Mas existe algo além disso no trabalho de Gambino?

Sim. Por mais que se valha de todos os clichês e experimentos já datados de diferentes décadas ou períodos do Hip-Hop, Glover consegue alcançar uma medida musical que mesmo fácil garante à ele “originalidade” e até um pequeno fundo de credibilidade. Acompanhado do jovem compositor Ludwig Göransson (no melhor estilo Kanye West e Jon Brion), que entre trabalhos voltados para a trilha sonora de séries televisivas se responsabiliza pelo toque de erudito que preenche o presente disco. Assim, o duo segue de maneira pretensiosa montando uma série de hits que explicam o alto número de vendas do trabalho, bem como o respeito de algumas publicações americanas.

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Entre faixas marcadas pelo uso de elementos essencialmente sintéticos – o melhor exemplo está em Heartbeat, com um sample no melhor estilo Maximalismo Francês que muito lembra Justice ou SebastiAn -, o destaque do álbum fica por conta da busca do californiano (e do parceiro Göransson) por um som menos plástico e mais natural. O resultado disso está em faixas com um pé no R&B, algo que a doce Kids (Keep Up) e Letter Home (com um plano de fundo todo orquestrado) conseguem estabelecer.

A sensação estabelecida em CAMP é a de que estamos presenciando uma espécie de Wiz Khalifa menos explosivo ou quem sabe um Lupe Fiasco (da fase atual) em contornos um pouco mais modestos. De fato, o álbum vai se revelando como um enorme catálogo de tendências, algumas até opostas ou dificilmente capazes de se relacionar, repassando a clara sensação de que Glover, mesmo ciente do todas as experiências ressaltadas no decorrer do trabalho ainda busca por uma sonoridade decisiva e que possa afastá-lo de quaisquer comparações ao trabalho de outros rappers conterrâneos.

Totalmente afastado do mesmo panorama que absorve com destaque o trabalho da nova safra de representantes do hip-hop – como A$ap Rocky, Tyler The Creator ou Frank Ocean -, o californiano parece se encaminhar para uma facção intencionalmente orientada por uma sonoridade pop e até mais “óbvia” do setor, algo que Donald Glover administra com destaque. Por mais que o rapper não venha dotado da mesma originalidade (e até do mesmo toque desbocado) dos conterrâneos, é bastante provável que seja ele a mais nova sensação do rap norte-americano, sendo CAMP apenas o começo de uma longa e provavelmente aclamada carreira.

CAMP (2011, Glassnote)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Wale, Wiz Khalifa e Kanye West
Ouça: Bonfires e Kids (Keep Up)

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.