Disco: “Canções de Guerra”, Pública

/ Por: Cleber Facchi 03/09/2011

Pública
Brazilian/Indie/Alternative
http://www.myspace.com/publicarock

Por: Cleber Facchi

Tão logo após o lançamento de Polaris havia uma clara percepção de que a forma como a gaúcha Pública elaborava seu som e traduzia suas letras, se organizava de forma distinta aos demais grupos que naquele momento começavam a brotar. Em um cenário independente que parecia caminhar cada vez mais com passos firmes e decididos, a presença do ainda quinteto gaúcho proporcionava uma certa dose de reforço e credibilidade ao rock nacional daquele momento, um grupo que parecia ir contra a infestação de bandas que sugavam ao máximo todas as referências lançadas pelo Los Hermanos, um grupo de garotos que pareciam ter seu próprio som e saber para onde ir.

Embora cantassem ao amor e aos momentos de perda e solidão, a melancolia cuidadosamente trabalhada nas composições do grupo tornava ainda mais estreito o elo entre a banda e seu público. Músicas que mesmo tratando de temas “convencionais” soavam de maneira fresca aos ouvidos, talvez pelo entrelaçar de sons que flertavam eventualmente com o rock britânico de diferentes décadas ou pela estrutura musical que parecia se opor ao que existia de mais convencional e repetitivo em solo gaúcho naquele período. Em pouco tempo de atuação, o grupo já havia alcançado uma distinção, um público e uma linguagem extremamente específica, algo que talvez se reforçasse pelas letras singulares de Pedro Metz ou pelas guitarras de Guri Assis Brasil, algo que pouquíssimas bandas da última década conseguiram elaborar.

Embora toda essa constatação da singularidade presente no trabalho do grupo já estivesse visível logo nos minutos iniciais de Nem Sinal, faixa que inaugurava o debut da Pública, somente quando Como Num Filme Sem Fim foi lançado em idos de 2008 que todas estas constatações puderam ser melhor compreendidas. Distantes da sonoridade introspectiva e confessional do álbum de estreia, a banda partia agora para a construção de um som calcado em novas experiências, um registro que mesmo tomado de sensações e canções nostálgicas – 1996 e Sessão da Tarde mostravam bem isso – se apoiava em novos elementos, com o grupo deixando seus versos pós-adolescentes e se apoiando no elaborar de um trabalho mais sério, variado e consequentemente ainda mais distinto.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=cSihpYUrV34?rol=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=OfFLkI_sm2w?rol=0]

É agora, em pleno 2011 e passados exatos dez anos desde que a banda passou a apresentar suas primeiras criações, que toda a sonoridade própria e a produção singular do agora quarteto alcança seu melhor resultado. Sob o nome forte de Canções de Guerra (2011, Cornucópia Discos), o terceiro disco do Pública concentra o que parece haver de melhor em uma década de produções constantes, unindo um pequeno arsenal de versos excepcionalmente elaborados e uma instrumentação que se afasta do básico ou do que já se materializara como tradicional na carreira do grupo. Um disco que traz o que há de melhor na sonoridade da banda, mas que já antecipa novos e concretos rumos.

Diferente dos registros que o precedem, o novo álbum do grupo gaúcho não parece concentrar seus esforços em cima de alguns parcos hits, ou de algumas composições que se abrem ao grande público, pelo contrário, se movimenta como um trabalho de essência centrada, quase fechado, onde todas as composições partilham de uma mesma experiência. Enquanto pianos soturnos se derretem em meio ao corte brusco de guitarras – que parecem retirar todas suas referências do som inglês do fim dos anos 80 e início da década de 90 -, Metz nos cerca com versos tomados de maturidade, canções que entre doses de um romantismo não exagerado refletem sobre a vida, a fé, o crescimento, além de pequenas doses de existencialismo.

Mesmo doloroso em diversas composições, o disco passa longe de se transformar em um registro sentimentalmente excessivo, parece até um oposto dos trabalhos anteriores, se propondo como um álbum muito mais sério, sóbrio e quase reflexivo em determinados momentos. Em seu atual projeto, a banda parece ter alcançado um novo patamar, tanto poético como instrumental, como se os dois trabalhos anteriores fossem apenas uma indicação do ponto em que eles realmente gostariam de alcançar, e que finalmente parecem ter alcançado. Canções de Guerra é simplesmente o melhor e mais bem desenvolvido trabalho da Pública, sendo que qualquer um que busque contestar isso precisará de muito esforço.

Canções de Guerra (2011, Cornucópia Discos)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Volantes, Pullovers e Vanguart
Ouça: Cartas De Guerra e Corpo Fechado

[soundcloud width=”100%” height=”81″ params=”” url=”http://api.soundcloud.com/tracks/21241210″]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.