Disco: “Casa das Macacas”, doo doo doo

/ Por: Cleber Facchi 22/11/2012

doo doo doo
Brazilian/Experimental/Indie
http://doodoodoo.com.br/

Por: Cleber Facchi

Dos ruídos obscuros que se expandem nos trabalhos do Sobre A Máquina aos inventos chapados que flutuam como brisa nos parcos singles do Dorgas, longe das barbas dos Los Hermanos o panorama carioca se encaminha para um novo rumo. Experimental e ausente da redundância que povoou boa parte dos lançamentos até meados de 2009, a prova de novos conceitos é o que guia parte de recentes estreias na Cidade Maravilhosa. Até o pop de bandas como Mahmundi ou Tereza vem marcado pela novidade, raspando vez ou outra em conceitos não convencionais para o gênero. Dentro desse cenário de constantes transformações e apropriações de novas tendências surge Casa Das Macacas (2012, Independente), álbum de estreia do grupo doo doo doo e um recorte excêntrico de tudo que caracteriza a nova música carioca.

Registro feito para quem gosta de invenção e percursos não óbvios, em cada nova faixa o quarteto – Dudu Guedes (Voz e Guitarra), Pablo Lisboa (Teclados), Alberto “Ludo” Kury (Voz e Teclados) e Marcelo Renovato (MPC e Samplers) – apaga tudo que parecia firmá-los em uma sonoridade específica para mais uma vez recomeçar. Não existe qualquer ponto seguro para o ouvinte de primeira viagem, música após música, acorde em cima de acorde há sempre transformação, com o grupo chacoalhando o disco antes que algo definido, prático ou talvez tátil possa se formar.

Com base nessa proposta, Casa Das Macacas é tudo aquilo que a banda quer que ele seja. É rock em orockok, Dub nas emanações chapadas de Não Sei Não, Pop-eletrônico nos teclados e vozes da faixa Nem ou simples experimentação em Dia de Jogo. Um eterno composto de sobreposições, provas e incorporações curiosas que expandem as tramas irregulares testadas pela banda no último ano, dentro de um pequeno, porém curioso EP. Assumindo o uso desse jogo de colagens e encaixes sombrios, aos poucos é possível estabelecer alguns padrões em relação aos rumos do projeto e da própria atuação do quarteto, o que de forma alguma garante respostas claras ou conclusões imutáveis.

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Ao assumir a mesma estratégia incorporada pelo Radiohead no clássico Kid-A (2000), o grupo se mantém o tempo todo distante do grande público, encontrando nesse limite extremamente particular a formação de um som curioso e que desperta as atenções do ouvinte que passa despercebido. Por mais complexas ou incompreensíveis as armações impostas no decorrer do álbum, permanecer até o fim de cada faixa é um exercício necessário uma vez que o ouvinte precisa entender o que virá logo em frente. As vozes ásperas (e irritantes em alguns instantes), as guitarras quebradas, batidas inexatas, tudo se orienta sem que haja qualquer certeza, servindo como um gancho de motivação que lentamente consegue capturar quem passeia atento pelo álbum.

Por vezes esbarrando na construção épico-obscura de grupos como WU LYF (Negócio), brincado com o mesmo experimental colorido dos Mutantes (Nem) e até grudando nos inventos do Animal Collective (Carnaval no Fogo), a banda encontra nessa multiplicidade de ritmos e formas a base para um composto raro e próprio. Mesmo que a associação com o trabalho dos conterrâneos do Dorgas seja inevitável – principalmente nos pontos etéreos da obra, como Dia de Jogo e Mais -, o quarteto alcança uma medida favorável, bizarra e curiosamente até mais pegajosa.

Inexato, Casa das Macacas planta um novo desafio em toda recente faixa. Curioso pela forma como nos leva a desvendar cada composição, complicado na maneira como algumas músicas parecem abertas apenas ao entendimento dos próprios criadores, o álbum vai até a última canção brincando com a mente e os limites do espectador. Tão logo o álbum inicia a banda já avisa sobre a Maré Exquizita que o ouvinte há de encontrar. Dessa forma, navegar no oceano irregular da Doo Doo Doo é um exercício complexo, assumidamente pensado para poucos, porém, de grande recompensa ao final.

Casa Das Macacas (2012, Independente)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Dorgas, Animal Collective e Team.Radio
Ouça: Nem, Carnaval no Fogo e Maré Exquizita

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.