Disco: “Cassettes”, Cadu Tenório

/ Por: Cleber Facchi 11/03/2014

Cadu Tenório
Experimental/Ambient/Post-Industrial
http://sinewave.com.br/

Por: Cleber Facchi

Cadu Tenório

As trevas dançam nas mãos de Cadu Tenório. Em uma constante travessia por um cenário de ruídos, sobreposições e arranjos que mergulham em ambientes essencialmente sombrios, o músico carioca alcança o “primeiro trabalho solo” em um exercício autêntico de (mais uma vez) brincar com as interpretações do espectador. Catálogo curto de memórias e sons acumulados ao longo dos anos de forma artesanal, Cassettes (2014, Sinewave) é um disco que não apenas expande os domínios acinzentados da obra do artista, como mais uma vez perverte as redundâncias do gênero em um trabalho que foge do conforto.

Em um sentido de quebra da sequência de trabalhos que vem desenvolvendo nos últimos anos – entre eles os álbuns ao lado do Sobre a Máquina, além dos registros paralelos com o VICTIM! e Ceticências -, Tenório utiliza da presente obra como um cenário de constante experimento. São apenas quatro composições – Prematuro, Valsa, Redoma e Ventre -, cada uma delas apoiada em um sentido estético específico, como uma colagem das diferentes referências e até mesmo regras que compõem o universo autoral do músico.

Orientado pela massa (quase) intransponível da extensa Prematuro, faixa de abertura do álbum, o carioca se perde em um ambiente em que violinos, vozes e sintetizadores se comportam como um só organismo. São paredões cíclicos que mais parecem um bloco de ruídos sedimentados. Contrariando o efeito exposto em Lua (2013), último registro em estúdio do Ceticências, Tenório foge da fluência regular e sintética das canções. Como os quase 13 minutos da música revelam, tudo é entregue de forma orgânica, como se cada ruído vocal ou harmonia suja crescesse como parte natural da composição.

Como um respiro – ou talvez necessidade em provar a paciência do ouvinte -, Valsa e Redoma, no eixo central da obra, reforçam o lado mais econômico do trabalho. São pequenos agregados de ruídos caseiros que fazem valer a proposta do disco. Pontuadas pelas interrupções (parecem gravações aleatórias em uma fita cassete), cada música brinca com a capacidade de Tenório em produzir um conjunto de experiências climáticas, quase aconchegantes. Uma sensação de que toda a avalanche negra da faixa de abertura fosse resumida com leveza.

De forma a regressar ao ponto inicial do álbum, Ventre traz de volta a capacidade de Tenório em manipular pequenas porções de ruídos de forma a hipnotizar o ouvinte. Como uma versão límpida das mesmas bases testadas por The Haxan Cloak no obscuro Excavation (2013), a canção arrasta mais de 10 minutos de sintetizadores cíclicos e rabiscos sonoros que parecem invadir a mente com parcimônia. Coberturas densas que assumem as imposições do drone, mergulham na própria obra do Sobre a Máquina, até fluir como um agregado abstrato de arranjos Lo-Fi.

Construído ao longo de quatro anos e vindo diferentes recortes musicais, como Tenório informa no texto do disco, Cassettes é uma obra que mesmo “picotada” reflete imediata aproximação entre as faixas. Seja pelo foco natural do músico em produzir um som denso, ou a simples capacidade de amarrar tudo em um mesmo pacote atmosférico, mergulhar nas reverberações do álbum é como entrar em uma piscina em que todas as colagens de sons são tratadas como iguais.

Cadu

Cassettes (2014, Sinewave)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Ceticências, The Haxan Cloak e Andy Stott
Ouça: Prematuro, Redoma e Ventre

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.