Disco: “Cassim & Barbária II”, Cassim & Barbária

/ Por: Cleber Facchi 24/08/2011

Cassim & Barbária
Brazilian/Psychedelic/Experimental
http://www.myspace.com/cassimf

 

Por: Cleber Facchi

“Distinção”, esta é uma palavra que o grupo catarinense Cassim & Barbária sempre soube muito bem como retratar em suas composições. Desde que os primeiros singles ou criações da banda passaram a se materializar pelas páginas das principais publicações nacionais que o grupo tem chamado as atenções por sua sonoridade meticulosamente excêntrica, ora calcada nas experiências esvoaçadas da música psicodélica, ora se derramando em experimentações concisas que passeiam por entre diferentes estágios da música folk, do blues ou do mais puro e simples rock.

Guardado desde 2007, quando foi finalizado, Cassim & Barbária II (2011, Midsummer Madness) novo trabalho da banda segue pelas mesmas tendências instrumentais, estéticas e esquizofrênicas dos registros anteriores, com seu grande idealizador, o curitibano Cassim Fagundes (Bad Folks e Magog) ainda delineando todos os aspectos e caminhos a serem percorridos através do trabalho do grupo. Menos hermético que o álbum anterior, o novo disco da banda funciona como uma espécie de retrato onírico instrumental, transitando por alguns momentos de pura tensão, desespero, ambientações amenas e nonsenses, típicas de um universo de sonhos e até pesadelos em alguns momentos.

Perdido em algum lugar entre as décadas de 1960 e 1970, o álbum, diferente de um bom número de lançamentos nacionais parece trilhar por um caminho completamente diferenciado, não fácil e tradicional, o que justamente transforma a obra do grupo catarinense em um projeto ousado e que aos poucos consegue hipnotizar e absorver o ouvinte. Cantado inteiramente em inglês (e alemão na faixa Mein Herz, Meine Seele), o disco transborda excelentes doses de guitarras e programações, emaranhados sintéticos que deixariam Frank Zappa orgulhoso de seus aprendizes.

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Contrário ao que fora proposto no anterior disco da banda – o homônimo álbum de 2009 -, em seu atual registro o grupo catarinense deixa de lado as predisposições em desenvolver um som orgânico e bucólico, partindo para a projeção de algo não urbano, mas delimitado de forma opaca, seca e demasiado vanguardista em alguns aspectos. Antes mesmo de chegarmos ao meio do álbum e sem que se possa perceber já estamos até o pescoço cobertos experimentos instrumentais, ruídos instáveis e emanações acústicas peculiares que estranhamente vão se familiarizando conformo o álbum vai se desenvolvendo.

Enquanto a primeira metade do disco parece manter uma sonoridade mais “acessível” ao ouvinte, em sua segunda metade o disco se perde em experiências musicais, deixando escorrer faixas aos moldes de Pan ou The Federation Of Light, que lentamente vão construindo um grande quebra-cabeças instrumental. Entretanto é através de Junia, faixa de encerramento do álbum, que o grupo eleva suas experiências ao máximo, cruzando batidas disformes, guitarras alucinadas e vocais que parecem balbuciar versos sem sentido, brincando sem pena com a lógica do ouvinte.

Embora pareça se situar em algum lugar do passado, bebendo de gêneros como o Krautrock e o Noise dos anos 70, a segunda epopeia musical do Cassim & Barbária se mantém tão atual quanto o que é projetado pelos grandes nomes da música experimental contemporânea. Enquanto um sem número de artistas parece imitar aquilo que grupos como Animal Collective e Deerhunter pregam em seus trabalhos, a banda sulista parece criar suas próprias regras e seu próprio tipo de som, o que obviamente acaba se traduzindo em um álbum original, e, mais uma vez, distinto.

 

Cassim & Barbária II (2011, Midsummer Madness)

 

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Pipodélica, Porcas Borboletas e Bad Folks
Ouça: Pan

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.