Disco: “Cat’s Eyes”, Cat’s Eyes

/ Por: Cleber Facchi 08/04/2011

Cat’s Eyes
Indie/Gothic/Ambient
http://catseyesmusic.com/

Por: Cleber Facchi

Em um ano em que The Kills, The Raveonettes e demais duplas de rock marcam seu retorno ao meio musical é uma estreia mais do que inusitada que acaba de fato chamando a atenção. De um lado os doces vocais da canadense Rachel Zaffira, do outro, a voz grave e obscura de Faris Badwan, também vocalista do The Horrors. A soma desses dois elementos tão distintos acontece no soturno Cat’s Eyes, projeto que acaba de ter seu primeiro disco de estúdio lançado.

Cantando em meio a uma climatização trabalhada na década de 1960, alguns toques de cabaré, música gótica e até o garage rock, a dupla passeia através de dez faixas em que o contraste de vozes surge como elemento fundamental para o trabalho. De um lado Badwan, lançando sua voz estrondosa e meio a solos de guitarras opacos e sintetizadores que edificam enormes paredões de som. No oposto, quase de forma angelical chega Zaffira, brincando de maneira a lembrar os grupos de pop dos anos 60, além de trafegar tranquilamente por uma sonoridade gótica-etérea.

Momentos repletos de texturas sonoras costuradas, como Not a Friend fazem o casal parecer uma espécie de Beach House menos sério e até mais romântico. O sofisticado arranjo de cordas se encontrando com as tristes reverberações de sintetizadores armam o cenário para que a canadense surja delicada, dançando suavemente com suas palavras esvoaçadas. A melancolia dá lugar a um clima apaixonado, com a bela fazendo exaltações ao seu amado.

Trazendo pequenos elementos do The Horrors, o dueto Face In The Crowd mescla uma sonoridade parcialmente suja, mas que cresce com a inserção de um pop grudento, em grande parte expresso pelo vocal quase pueril de Zaffira. Rápida, a canção chega toda inspirada no clima sessentista, ganhando até um discreto arranjo de sopros ao fundo da composição, elemento que torna a faixa ainda mais fácil de ser apreciada. O casal volta a repetir o mesmo clima em Over You, essa um pouco mais melancólica e deixando que a garota assuma os vocais em sua quase totalidade.

O álbum permite ainda a entrada de composições levemente experimentais, como ocorre com a sinistra Sooner Or Later, em que Badwan brinca de Bauhaus em meio a uma sonoridade pesada, marcada por sintetizadores sujos e que culminam em um dos momentos mais sombrios do trabalho. A sequência com The Lull faz surgir um dos momentos mais contemplativos e melhor instrumentados do disco. Quem está sempre acostumado a ver o músico aos berros em sua outra banda tem nessa faixa um registro marcado pela calmaria, feito que se complementa pela voz magistral de Zaffira, compondo um momento quase épico.

Mesmo que algumas dicotomias sejam percebidas ao longo do álbum, Cat’s Eyes (o disco) se mostra um trabalho fluindo dentro de um direcionamento único. Embora Rachel Zaffira pontue o trabalho com sua suavidade e Faris Badwan com seus toques de sobriedade, ambos estão amarrados dentro de um mesmo universo. Um panorama sombrio e acinzentado, mas que tem nos dois vocais alguns pequenos pigmentos de cores.

Cat’s Eyes (2011)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Zola Jesus, The Horrors e Rachel Zaffira
Ouça: The Best Person I Know

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.