Disco: “Celebration Rock”, Japandroids

/ Por: Cleber Facchi 03/05/2012

Japandroids
Canadian/Garage Rock/Indie Rock
http://japandroids.com/

Em um passado não muito distante rotular um disco como “Garage Rock” era praticamente um sinônimo para a execução de um álbum específico de um público extremamente reduzido. Todavia, com a chegada de bandas como No Age, Wavves e Titus Andronicus a partir da segunda metade da década passada, tal constatação não apenas se alterou por completo como deu um salto evolutivo surpreendente. Talvez na busca por um público maior, uma soma de artistas abandonaram a produção hermética de outrora para dar conta de um som abrangente, ainda ruídoso, mas naturalmente melódico e possivelmente comercial. No meio dessa onda estrondosa de distorção estavam Brian King e David Prowse, duo canadense que mesmo seguindo a mesma frente se posicionou em um posto particular e até certo ponto distante dessa “nova geração”.

Mesmo capazes de lançar um trabalho tão forte quanto Nouns (2008) da também dupla No Age ou os esquizofrênicos registros iniciais do Deerhunter, o duo canadense construiu à frente do Japandroids uma estrutura distinta, algo que o primeiro álbum da banda, Post-Nothing (2009) revela com guitarras aceleradas e batidas sufocantemente constantes. Diferente dos trabalhos lançados naquele momento, o disco de oito rápidas faixas mantinha na necessidade de soar musicalmente fácil e acessível ao grande público o grande acerto do projeto, proposta que alcança um novo resultado com a chegada do segundo e ainda intenso disco dos norte-americanos.

Talvez imperceptível, há um distanciamento imenso entre o lançamento de Post-Nothing e o recente Celebration Rock (2012, Polyvinyl). Mais do que o espaço temporal de três anos, a separação entre um trabalho e outro se manifesta em uma série de elementos por toda a obra. Experiências que se revelam de forma intensa tanto nas letras intencionalmente ainda mais comerciais que preenchem o novo disco, como na sonoridade não mais específica que movimentava parte do último disco, um verdadeiro exemplar de toda a potência que a “simples” união entre guitarra, bateria e vocais rasgados podem proporcionar.

Por mais assustador que isso possa parecer, do princípio ao fim do novo álbum o que vemos é a construção e materialização de um perfeito disco de música “pop”. Por mais que as guitarras ainda distribuam os mesmos acordes sufocantes do passado, e a bateria esteja tão firme quanto há três anos, o acabamento dado ao registro ecoa uma funcionalidade melódica e sempre radiofônica. Dos versos cantaroláveis que compõem faixas como The House That Heaven Built e Fire’s Highway – com seus “Oh Oh Oh Oh Oh Ohs” viciantes – ao modo como as guitarras parecem feitas para grudar, tudo contribui para a formação de um disco atrativo, capaz de prender mesmo os mais específicos ouvintes das redundâncias comerciais que circulam por aí.

Ao mesmo tempo em que o trabalho possibilita a aproximação do ouvinte por meio de músicas menos complexas, musicalmente a dupla dá um salto em relação ao último disco. Em For The Love Of Ivy, por exemplo, King e Prowse passeiam pelo hardcore, se ocupam das guitarras montadas por Robert Pollard, vez ou outra esbarram em J Mascis até fechar tudo com um acabamento punk rústico e estranhamente dançante. A mesma evolução e diversidade se manifesta em Continuous Thunder, onde a sobreposição constante das guitarras de King geram uma composição densa e ruidosa, uma espécie de Shoegaze que até flerta com o etéreo em alguns momentos, mas imediatamente puxa a banda de volta para o garage rock similar ao que se manifestou no começo da década de 1980 e que tanto caracteriza as músicas da dupla.

Provavelmente o que mais surpreende o ouvinte dentro de Celebration Rock é a maneira como os canadenses ainda mantém o mesmo frescor instrumental de outrora, aceitando a evolução (controlada, claro) de forma natural e necessária ao presente disco. O álbum não apenas traz de volta os mesmos acertos do passado, como garante todo um novo contexto e uma ampla soma de novas possibilidades ao trabalho da dupla, que depois de flertar com um resultado mais “pop” faz o ouvinte questionar ansioso pelo que virá em seguida. Independente dos experimentos, se os futuros discos vierem banhados pelo mesmo espírito de agora o resultado com certeza vai agradar.

Celebration Rock (2012, Polyvinyl)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: No Age, Male Bonding e Cloud Nothing
Ouça: Fire’s Highway, The House That Heaven Built e Younger Us

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/38026739″ iframe=”true” /]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.