Disco: “Celestite”, Wolves in the Throne Room

/ Por: Cleber Facchi 10/07/2014

Wolves in the Throne Room
Ambient/Drone/Instrumental
http://www.wittr.com/

Por: Cleber Facchi

A lenta transformação iniciada pelos irmãos Nathan e Aaron Weaver em Celestial Lineage, de 2011, atinge somente agora seu estágio final. Em Celestite (2014, Artemisia), quinto trabalho em estúdio do Wolves in the Throne Room, toda imposição caótica lançada nos primeiros anos da banda se organiza por completo. Completa desarticulação do Atmospheric Black Metal antes testado pelo duo, o novo álbum é a passagem para um cenário delicado e etéreo, trazendo na leveza o novo acervo instrumental do grupo.

Da mesma forma que os discos que o antecedem, o presente registro articula em atos lentos a estrutura de cada nova composição. Livre dos vocais, a dupla se concentra no uso apurado de texturas harmônicas, fazendo com que mesmo Bridge of Leaves, a canção mais curta do álbum, cresça substancialmente, como uma imensa colagem de ideias. Toda essa transformação vem da nova estrutura da banda, parcialmente livre das guitarras e investindo pesado no uso de sintetizadores – a principal “arma” do trabalho.

Mais do que substituir um instrumento por outro, ao entrar no território do quinto disco, o público mais uma vez é apresentado a todo um novo catálogo de referências. Se antes a dupla norte-americana parecia trilhar com firmeza em um caminho sombreado do Black Metal, aqui ela flutua. São faixas que escapam do delineamento orgânico e terreno – bem representado na capa do último disco -, para seguir em direção ao cosmos. Não por acaso Celestite carrega este título, um resumo das pequenas adequações da banda rumo ao espaço.

Espécie de trilha sonora para algum clássico da ficção científica nos anos 1970 – talvez Solaris (1972) ou Logan’s Run (1976) -, o novo álbum WITTR é uma obra que sobrevive de pequenas adaptações de conceitos – grande parte delas lançadas há três ou mais décadas. Há desde referências ao trabalho de veteranos da New Age, como Vangelis em Turning Ever Towards the Sun, até flertes com o Krautrock, relação escancarada no diálogo com o Tangerine Dream em Celestite Mirror.

Longe de ser apresentado como uma mera reciclagem de conceitos, Celestite funciona como um trabalho de forte imposição autoral. Perceba como a mesma Turning Ever Towards the Sun que adapta elementos “místicos” na New Age não esconde o lado agressivo do duo, espalhando ruídos e bases densas no bloco central da faixa. Mesmo a derradeira Sleeping Golden Storm e seus bips eletrônicos, esbarra em elementos apresentados originalmente no disco de 2011, cercando o ouvinte em um ambiente claustrofóbico.

Recheado por músicas como Initiation at Neudeg Alm e Sleeping Golden Storm, impossíveis nos primeiros lançamentos do grupo, a presente obra da dupla de Olympia vai além de uma alteração gratuita dentro de sua produção. Basta voltar os ouvidos para Celestial Lineage e perceber como todos os mesmos elementos estavam lá. Da completa leveza em Thuja Magus Imperium ao alinhamento etéreo de Woodland Cathedral, Celestite apenas filtra e sintetiza de forma minimalista uma série de marcas típicas do Wolves in the Throne Room.

Celestite (2014, Artemisia)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Tangerine Dream, Oneohtrix Point Never e Vangelis
Ouça: Celestite Mirror e Sleeping Golden Storm

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.