Disco: “Ciara”, Ciara

/ Por: Cleber Facchi 02/07/2013

Ciara
R&B/Hip-Hop/Pop
http://onlyciara.com/

Por: Cleber Facchi

Ciara

Das transformações melódicas na carreira de Beyoncé pós-4 (2011), passando pela inventividade que absorve a obra de Miguel em Kaleidoscope Dream (2012), lentamente a divisão entre o pop e o meio alternativo aproxima grupos de artistas na presente cena do R&B norte-americano. Assim como a relação que conduz a produção atual de Rihanna – que em Talk That Talk (2011) trouxe samples bem resolvidos de The XX -, ou na presente mixtape de Cassie – que voltou acompanhada de um time não usual de colaboradores -, a veterana Ciara faz do quinto registro solo um princípio de invenção.

Sem se distanciar do pop, e ainda assim capaz de corrigir erros específicos ao gênero, a cantora de Austin, Texas que cresceu influenciada por Aaliyah e Destiny’s Child usa de flertes com a cena alternativa para alimentar o novo álbum. Não espere pelo mesmo sintoma de experimento que paira na obra de How To Dress Well e muito menos a porção eletrônica que se dissolve no trabalho da dupla AlunaGeorge, entretanto, ao se esquivar de elementos convencionais, Ciara e o pequeno time de produtores que a acompanham garantem um trabalho difícil de ser evitado, algo próximo de Usher e Looking 4 Myself (2012).

Coerentemente dividido em dois estilos específicos de canções, o álbum traz nos instantes de maior aceleração e proximidade com a eletrônica uma extensão dos trabalhos anteriores de Ciara. Tendo em faixas como Super Turnt Up e I’m Out (uma das duas colaborações com Nicki Minaj) os momentos mais acessíveis do disco, a cantora usa do exercício melódico como um caminho seguro para o que se revela com maior beleza nas faixas mais sombrias da obra. Composições que dançam pela melancolia original do R&B, mas que encontram em uma sonoridade não óbvia e bases instrumentais criativas um princípio de evolução.

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A começar por Body Party, primeiro single do disco, a cantora se desmancha em um misto de erotismo e sofrimento que se cobre por uma instrumentação sombria. De proposta naturalmente delicada e em alguns aspectos lembrando The Weeknd, a canção traz nos inventos sonoros de Mike Will Made It (que já trabalhou com Juicy J e Drake) um composto seguro para aprisionar o espectador. Influenciada de forma confessa por Michael Jackson, a cantora usa das mesmas transformações vocais do Rei do Pop para conduzir a faixa, resultado que se repete de forma consistente nos inventos de DUI e Where You Go, esta última, parceria com Future e possivelmente a melhor composição do disco.

Da mesma forma que nos demais registros em estúdio, porém, de maneira bem resolvida, a beleza em torno da obra de Ciara não está em arrastar vocalizações letárgicas por todo o trabalho, mas em dividir instantes de canto com rimas bem construídas e amarradas com o instrumental. Enquanto Keep on Lookin e Read My Lips deixam claro o esforço individual de Ciara, Where You Go, Livin It Up e I’m Out passam o mesmo exercício aos convidados, principalmente no que reflete a atuação de Nicki Minaj – superior a qualquer lançamento recente da rapper.

Antecipando o que uma centena de outras cantoras devem assumir nos próximos meses, Ciara finaliza um verdadeiro catálogo de hits sem que pareça realmente intencionada a isso. Há na estrutura do disco uma exposição radiofônica de esforço melancólico, além de instantes de íntima aproximação com as pistas, entretanto, isso está longe de ser o único propósito do disco. Boa parte dos elementos que flutuam pelo trabalho já são parte fundamental na carreira da artista, a diferença está na forma como Ciara parece intencionada a tratar marcas gastas com uma boa dose de transformação.

Ciara

Ciara (2013, Epic)

Nota: 7.7
Para quem gosta de: Cassie, Miguel e Usher
Ouça: Where You Go, Body Party e Read My Lips

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.