Disco: “Cinderella’s Eyes”, Nicola Roberts

/ Por: Cleber Facchi 24/09/2011

Nicola Roberts
British/Pop/Electropop
http://nicolarobertsmusic.com/

 

Por: Fernanda Blammer

Há sempre certa dose de preconceito – ou talvez falta de esperança – em ouvir qualquer novo lançamento rotulado como a “mais nova sensação feminina do pop britânico”. Sejamos bem francos, com exceção de alguns parcos e raros nomes que de lá são lançados ao mundo – M.I.A., Florence + The Machine, Katy B e Lily Allen do primeiro disco, por exemplo – em sua quase totalidade o cenário pop inglês é tão repetitivo que chega até irritar. Até mesmo a elogiada Adele não escapa de alguns pequenos erros em seus registros, sendo salva obviamente por meio de seu vocal estrondoso e seus sofridos versos românticos.

Entretanto, estranho observar que ao fazer uso dos exatos mesmos elementos musicais e vocais de todas suas conterrâneas, a bela Nicola Roberts consegue proporcionar através de seu primeiro disco, Cinderella’s Eyes (2011, Polydor), um trabalho que é incrivelmente bom. Se você estiver afim de desligar seu cérebro, é claro. Nada – ênfase nessa palavra – ali é original ou pode ser classificado como novo, contudo, o encaixe perfeito entre os vocais artificialmente elaborados, os sintetizadores e as batidas cravadas no electropop, bem como o uso da já tradicional dose de R&B fazem com que o disco soe agradável, mobilizando um material perfeito para as pistas como para momentos em que você quer simplesmente se desligar de tudo.

O acerto óbvio do álbum não está nos vocais da garota – que são descaradamente carregados por uma maquiagem plástica e visivelmente artificial – ou mesmo em suas letras despojadas e tolinhas, mas no acertado corpo de produtores que vão aos poucos solidificando os degraus, para que a britânica possa brilhar em seu pequeno altar pop com unanimidade. Do norte-americano e bem conceituado produtor Diplo, aos conterrâneos do Metronomy, da dupla canadense Dragonette ao produtor francês Dimitri Tikovoi (que já trabalhou com The Horrors e Placebo), o que não falta ao trabalho da inglesa são indivíduos especializados em arquitetar músicas fáceis e pegajosas.

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Grande parte do trabalho – a melhor parte dele pelo menos –  fica nas mãos de Tikovai, que tenta na medida do possível gerar uma pequena dose de concisão ao disco, fazendo com que suas faixas partilhem de certa unidade instrumental. Tanto Gladiator, como o provável próximo single Yo-Yo ou mesmo a doce e sintetizada Porcelain Heart partilham de uma sonoridade bem similar, proporcionando ao acumulado de sons pop e eletrônicos um caráter de unidade e distinção. Além de delimitar a sonoridade dessas faixas, o francês assume a co-autoria das letras, resultando assim nos momentos mais sinceros e menos descartáveis do trabalho de Roberts.

Outra óbvio acerto dentro do álbum está na presença do Metronomy, ou mais especificamente do líder da banda, Joseph Mount, através da faixa I. Além de assumir a bela condução instrumental da composição – que de alguma forma se relaciona com os teclados sofisticados e reducionistas de The English Riviera -, o músico ajuda a construir os ótimos versos da cancão, todos iniciados a partir da palavra “eu”. Entretanto, assim como existem aqueles que buscam se esquivar do básico há também os que buscam se orientar por velhas fórmulas musicais ou mesmo até alguns plágios vergonhosos.

A elogiada Beat of My Drum (que conta com a produção de Diplo), por exemplo, nada mais é do que uma cópia descarada de L.O.V.E. Banana, do produtor brasileiro João Brasil e feita em parceria com a vocalista do CSS Lovefoxxx (ouça aqui e tire a prova). O mesmo vale para a fácil Lucky Day que traz a mesma base de sintetizadores de Firework da norte-americana Katy Perry, ambas faixas que, embora vendidas como composições originais e músicas construídas para fisgar o grande público, acabam por desmerecer a boa condução de Cinderella’s Eyes, que mesmo pegajoso e uma garantia de som para as próximas festas não consegue se esquivar do básico.

 

Cinderella’s Eyes (2011, Polydor)

 

Nota: 6.5
Para quem gosta de: Yelle, Katy Perry e Cansei de Ser Sexy
Ouça: I e Gladiator

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.