Disco: “Sinée Qua Non”, Bande Dessinée

/ Por: Cleber Facchi 21/10/2011

Bande Dessinée
Brazilian/Alternative/Indie Pop
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Por: Cleber Facchi

Enquanto grande parte das bandas iniciantes brasileiras parecem encontrar no uso de versos em inglês – muitas vezes aplicados de forma vergonhosa – a fórmula base para suas composições, o sexteto de Pernambuco, Bande Dessinée resolveu abrir o dicionário e estreitar sua ligação com a língua pátria de diferentes pontos do planeta. Entre versos em francês, italiano e português, a banda transforma seu primeiro disco, Sinée Qua Non em um amontoado de doces sensações multilinguísticas.

Soando de maneira sofisticadamente nostálgica, o disco e seu delicioso jogo de 12 composições passeiam pela música pop européia que inundou as décadas de 1960 e 1970.  Dividido entre o despojo colorido de France Gall e o romantismo experimental de Serge Gainsbourg, o álbum flui através de uma linha encantadora, deixando que escorram aos litros composições carregadas de romantismo, uma fina camada de melancolia e uma beleza instrumental que rompe com o óbvio.

Conduzido através dos vocais delicados e intensos de Tatiana Monteiro, o registro vai aos poucos abrindo espaço para que uma volumosa textura de variados instrumentos construa as paredes musicais do álbum. Entre solos de trompete de Marcio Oliveira e os teclados bem injetados de Ed Staudinger, o álbum vai se revelando como um trabalho sofisticado, engrossando o já denso caldo instrumental que banha cada canção projetada ao longo do encantador disco.

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Longe de seguir por uma linha única e imutável, o disco presenteia o ouvinte com pequenas e distintas sensações. Há desde composições dissolvidas de forma atmosférica, como a sedutora e atraente Premiers Temps, até faixas movidas por uma naturalidade pop contagiante, algo que Bande à Parte na abertura do disco assume com distinção. Até uma dose calorosa de dub acaba reverberando através da música De Verão, transformando o álbum em um diversificado quebra-cabeça musical.

Embora capazes de promover um disco repleto de acertos, a banda alcança seu melhor desempenho quando prima por um tipo de som mais climático e menos enérgico. Surgem assim canções como Intempestiva e Tramonto, que transparecem a figura de Gainsbourg em sua melhor fase, além de uma tonalidade jazzística, garantindo ao trabalho uma sonoridade não superficial e delimitada pela beleza.

Independente do idioma, cada espaço do álbum é desenvolvido de maneira precisa, expondo um grupo coeso e uma produção ímpar. Da bateria consistente de Thiago Suruagy, passando pelas guitarras de Filipe Barros e o contrabaixo erótico de Miguel Mendes, todos os instrumentos vem administrados de forma satisfatória, deixando para que a dupla de produtores formada por Missionário José e André Édipo fiquem com a tarefa de polir cada faixa do álbum, cobrindo todas as possíveis rachaduras do trabalho.

Sinée Qua Non (2011, Independente)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Blubell, Marcelo Jeneci e Cícero
Ouça: Intempestiva

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.