Disco: “Clash The Truth”, Beach Fossils

/ Por: Cleber Facchi 22/01/2013

Beach Fossils
Indie/Lo-Fi/Surf Rock
https://www.facebook.com/beachfossils

Por: Cleber Facchi

O lançamento de Oshin, trabalho de estreia do DIIV, no último ano teve um papel significativo na atuação individual do Beach Fossils. Projeto paralelo de Zachary Cole Smith, um dos principais colaboradores da banda nova-iorquina, o novo grupo deu vida a um resultado de grandeza maior do que qualquer anterior lançamento da banda comandada por Dustin Payseur (Voz e Guitarra) e Tommy Gardner (Bateria). Talvez pela aproximação maior com os sons da década de 1980, os pequenos toques de experimento ou uma valorização nítida do Garage Surf incorporado pela banda, cada instante no decorrer da obra se aproxima de um resultado de visível acerto e maturidade, feito raro para uma banda iniciante e proposta que se dissolve em oposições bem resolvidas em relação aos anteriores lançamentos do grupo do Brooklin.

Talvez como pressão (ou seria estímulo?), logo ao pisarmos em Clash The Truth (2013, Captured Tracks), todas as transformações em torno da obra da banda nova-iorquina se fazem claras e bastante expressivas. A leveza das guitarras, quase uma diretriz durante a construção do autointitulado disco de 2010 e posteriormente aplicadas no bem sucedido What a Pleasure EP (2011), agora abre espaço para um resultado que se afasta do óbvio. Longe de plagiar a concepção que delimita Oshin, faixa após faixa do novo álbum do Beach Fossils o peso e as distorções transportam o projeto para um novo entendimento.

É como se todas as experiências ensolaradas que alimentam a trajetória recente do Real Estate (livre das passagens psicodélicas, claro) fossem traduzidas dentro de um universo soturno, coberto pelas nuvens e pelo toque áspero das guitarras. Mesmo que os vocais permaneçam dentro de uma concepção entusiasmadas (marca visível logo na faixa de abertura do álbum), ao longo do disco a preferência por uma sonoridade sombria abre as portas para um resultado naturalmente criativo dentro do que a banda já vinha desenvolvendo. O que antes surgia como um passeio tímido à beira mar em uma manhã de Sol, hoje se revela como uma transição noturna por um cenário consumido pela cor acinzentada de blocos de concreto.


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Parte importante do que transforma Clash The Truth em uma obra de maior importância em relação aos anteriores registros do grupo está nas pequenas transições que separam os blocos de faixas no decorrer da obra. Imersas em uma formatação climática, vinhetas aos moldes de Modern Holiday, Brighter e Ascencion preparam o terreno para o que a banda desenvolve logo em sequência, garantindo a formatação de uma obra de maior alcance e até engrandecendo algumas canções menores. É o caso de Crashed Out, faixa posicionada ao final do disco e que só não passa despercebida graças ao estímulo ambiental e sujo da curta composição instrumental que a precede. O mesmo se repete em outros instantes do trabalho, que parece passear por um terreno muito mais inventivo do que outrora orientava a banda.

Outra transformação curiosa na execução da obra está em perceber que mesmo cercada por um reforço sombrio e por vezes experimental, Clash The Truth é o registro que mais se aproxima do grande público. Basta o riff leve de Generational Synthetic ou a relação com o rock alternativo da década de 1990 em Careless e Shallow para perceber o quanto a banda parece íntima do ouvinte médio. Espectador que (provavelmente) encontrará no decorrer do álbum uma resolução coerente do que o The Drums deveria ter construído com a entrega de Portamento em 2011 ou quem sabe um futuro coerente para o que outros artistas do gênero vêm desenvolvendo.

Mesmo a transformação clara em relação aos lançamentos passados, ao longo de Clash The Truth permanece um erro característico dentro da atuação do Beach Fossils: a similaridade exagerada de algumas faixas. Falta diversidade ao grupo, que talvez em busca de orientar um registro deveras conciso, esquece de ir além dos limites próprios, finalizando um álbum que talvez passe despercebido justamente por conta da inevitável aproximação entre as músicas. Por enquanto, apenas a resolução de alguns problemas antigos, resta saber o que a banda vai preparar de agora em diante.

 

Beach Fossils

Clash The Truth (2013, Captured Tracks)

Nota: 7.7
Para quem gosta de: DIIV, Real Estate e Mac DeMarco
Ouça: Clash The Truth, Careless e Generational Synthetic

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.