Disco: “Classic Creeps”, Fishboy

/ Por: Cleber Facchi 17/02/2011

Fishboy
Indie Pop/Folk/Twee
http://www.myspace.com/fishboy

 

Aos saudosistas de plantão que vivem agoniados pela falta de um trabalho que chegue à altura de discos como In The Aeroplane Over The Sea (1998) ou If you’re feeling sinister (1996) o novo trabalho de estúdio do grupo texano Fishboy é uma dica mais do que coerente a esse público. Não, o álbum não chega nem aos pés desses dois clássicos do Neutral Milk Hotel e Bellen and Sebastian respectivamente, mas sabe como conduzir o ouvinte por meio de faixas suavizadas e de puro teor melódico.

Formada no início dos anos 2000 na cidade de Denton no Texas a banda, que traz Eric “Fishboy” Michener como líder se apoia na construção e canções embaladas por violões rasteiros, uma bateria versátil, arranjos de cordas, teclados e um baixo claramente presente em todas as canções. Com Classic Creeps (2011), o mais novo trabalho do grupo a habilidade em contar histórias é o que acaba se fixando. Cada uma das dez faixas do álbum surgem como pequenos contos, e em geral levam o nome dos próprios personagens já em seu título. Há também um diferencial desse para os outros lançamentos da banda, cada faixa começa com a letra “a”. Seria um contraponto ao disco I (2004) do The Magnetic Fields, em que todas as canções começavam com a letra “i”?

Aaron the Afterthought Astronaut abre o disco embalada pela simplicidade de violões e dos vocais de Michener, que logo se tornam engrandecidos através da inserção de guitarras, teclados e de uma bateria suavemente abafada e contida. Lembrando bem de leve a voz de Jeff Mangum, se a instrumentação fosse um pouco mais caseira, a banda acabaria facilmente caindo em comparações com o Neutral Milk. Contudo, o Fishboy se apoia muito mais em canções alegrinhas e nada introspectivas, feito que se comprova com Alberto Simmons, a segunda faixa do álbum, que chega dando sequência ao som explorado no começo do álbum, só que agora de uma maneira muito mais aberta.

Adam “Sweatpants” Avramescu que é o tecladista da banda vai aos poucos lutando por seu espaço dentro do álbum, em Allen Moss, Victor, por exemplo, seu instrumento vai de um intimista piano, passando por teclados quase infantis até desferir acordes motivacionais que contribuem para engrandecer a voz do vocalista.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=0G1HfkBhAx0]

Alyson Revere, faixa seguinte, funciona quase como uma continuação da canção anterior, dessa vez adornada por um arranjo de cordas e sopros de pura beleza. O grupo comportado da faixa inicial parece cada vez menos limitado e não se importa em mostrar a habilidade de seus integrantes.

Mesmo se valendo de uma instrumentação quase toda acústica Andre Revere entrega o grupo de maneira muito mais crua e quase elétrica. Os violões fluem como tudo, menos como violões. Mais uma vez os pianos e teclados de Avramescu chegam para de vez se mostrar como elemento essencial dentro desse álbum, até surge um espaço muito maior para a utilização de instrumentos de sopro, como uma tuba controlada que vai se apoderando das pequenas lacunas deixadas dentro da canção. Esse mesmo tipo de instrumento se intensifica em Archibald Aspen, em que apenas violões “atrapalham” que tal instrumento possa brilhar ainda mais. É aí também, que o caráter de pequena orquestra acaba se evidenciando.

Para quem já estava encantado com a sonoridade dos texanos Aspen2k misturando doses de guitarras com violões delicados e uma bateria descontrolada mostra a banda no seu auge. Mais uma vez o grupo surge como uma banda de rock, mas que encontra nos violões uma forma de entregar seu som “embrutecido”. O final anárquico dado a faixa mostra que mesmo encantando com suas delicadezas é no peso que a banda mostra realmente a que veio.

O gosto por esse lado mais enérgico segue ainda com Autumn the Owl (Mistakes the Feelings of Being In Love with the Feelings of Being an Owl), mas é com a última canção de Classic Creeps que a banda faz uma espécie de retrospectiva de tudo que foi aproveitado dentro do álbum. A faixa começa discreta, com os vocais de Michener acompanhados apenas de batidas minimalistas de bateria e de doses melancólicas de teclados. Porém, logo a instrumentação cresce de maneira impecável com todos os sons fluindo em uma uniformidade perfeita. Mais alguns toques de delicadeza e logo o ritmo vai se encaminhando para um final gigantesco, com o músico berrando, as guitarras soando alto e a bateria explodindo em excelência. O álbum finda, mas a sensação de entusiasmo ainda fica.

 

Classic Creeps (2011)

 

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Belle and Sebastian, Neutral Milk Hotel e The Shins
Ouça: Ava Aviaria

Por: Fernanda Blammer

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.