Disco: “Cold Mission”, Logos

/ Por: Cleber Facchi 02/12/2013

Logos
Ambient/Experimental/Electronic
https://www.facebook.com/Keysoundrecordings

Por: Cleber Facchi

Logos

Não existem vozes moldadas de forma acessível, sons de apelo comercial ou qualquer passagem direta para o grande público em Cold Mission (2013, Keysound). Entretanto, a linguagem que abastece a obra de estreia do britânico Logos parece fluir de maneira universal. Construído em cima de uma coleção de ambientações soturnas, o climático registro aos poucos se distancia de outras obras próximas, trazendo no catálogo criativo de texturas e no jogo hipnótico que gerencia as faixas um magnetismo inevitável para qualquer ouvinte. Um convite para um cenário pontuado pela incerteza, mas que aos poucos revela a completude de suas formas.

Assim como o cometa que cruza a capa sombria do disco, Logos firma no isolamento autoral um ponto de natural invenção para a obra. Construídas de forma complementar, todas as canções do disco parecem flutuar em um ambiente próprio, descoberto em totalidade apenas pelo produtor. O exercício intencionalmente arquitetado dentro desse contexto potencializa o cruzamento entre as músicas, que ao serem absorvidas na ordem exata em que são dispostas pela obra, traduzem a produção de um bloco único de sons, essências e pequenos experimentos isolados.

Como se redescobrisse os gêneros, o britânico faz nascer desde músicas conduzidas por traços da nova ambient music (caso de Stasis Jam), até faixas em que a aproximação com as pistas se revela de forma pontual e parcialmente acessível (Wut It Do). São transições pelos cenários imensos construídos por Brian Eno na década de 1970, flertes com a proposta mais climática do Krautrock, até pequenas desconstruções do que centenas de produtores testaram na década de 1990. Cold Mission é praticamente um resumo de diferentes gêneros e propostas instrumentais, ao mesmo tempo em que se manifesta como um tratado de pleno invento e ineditismo.

Mais do que interpretar à sua maneira um catálogo de marcas instrumentais nostálgicas, Logos aproveita do disco para solucionar uma série de elementos ativos na cena atual. A julgar pela colagem de bases, samples de tiros e a desconstrução minimalista das batidas, diversos arranjos do disco brincam com a essência do Pós-Dubstep – vide Swarming e Surface Area. Já outras como Stasis Jam se apoiam nos mesmos enquadramentos escolhidos por Daniel Lopatin para o Oneohtrix Point Never, resultado evidente na forma como os sintetizadores são aproveitados. Todavia, as pequenas “referências” nunca se apoderam do álbum, que mantém a linguagem escolhida pelo britânico até o último instante.

Ainda que o isolamento de Logos sirva como um princípio para a projeção atmosférica do trabalho, em pontos estratégicos do álbum a chegada de outros colaboradores se revela como complemento necessário. Enquanto Rabit subtrai a calmaria em prol de um resultado caótico, em Swarming, cabe ao também britânico Jack Adams, do Mumdance, assumir o lado mais dinâmico da obra em Wut It Do. Alien Shapes, por sua vez, parceria com a dupla Dusk + Blackdown, as construções ambientais de Logos se encontram com as batidas complementares do duo, arrastando o ouvinte para um conjunto de referências isoladas do restante da obra.

Ao mesmo tempo em que sustenta um trabalho de regras e interpretações particulares, Cold Mission é uma obra que força a própria essência. São construções instrumentais específicas e que crescem no interior de cada faixa, marca que não apenas interfere na comodidade atmosférica do álbum, como encaminha o projeto para um novo cenário de ambientações e pequenas possibilidades. Em uma rota estável, mas que se permite ziguezaguear por entre cenários, Logos faz do primeiro álbum de estúdio uma obra alimentada pela certeza, mas que em nenhum momento parece pronta para esbarrar em comodidade.

 

Logos

Cold Mission (2013, Keysound)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Oneohtrix Point Never, Balam Acab e Jam City
Ouça: Stasis Jam, Swarming e Wut It Do

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.