Disco: “Collapse Into Now”, R.E.M.

/ Por: Cleber Facchi 05/03/2011

R.E.M.
Rock/Alternative Rock/College Rock
http://www.myspace.com/rem

Por: Cleber Facchi

O grande problema de artistas no nível de R.E.M., U2 e Pearl Jam, que já contam com mais de vinte anos de carreira, está na busca por uma sonoridade que se renove a cada lançamento, sem desmerecer toda a solidez e o resultado alcançado em trabalhos anteriores. Diferente da banda irlandesa e do grupo de Seattle, o trio de Atlanta conseguiu edificar uma bela discografia em seus mais de trinta anos de atuação, seja por meio de álbuns completos, que se convertem em clássicos imediatos, ou canções que justificam todo seu trabalho.

Depois de toda a expectativa criada com o ótimo Accelerate (2008), álbum que deu uma nova injeção de ânimo e criatividade à banda de Michael Stipe, Peter Buck e Mike Mills, o grupo volta com Collapse Into Now (2011), um disco que mescla elementos dessas três décadas de composições da banda. Partindo do ponto de vista de alguém que nunca tenha ouvido nenhum álbum do grupo norte-americano, esse décimo quinto trabalho de estúdio – o primeiro foi Murmur de 1983 – funciona de maneira responsável e introduz os leigos categoricamente ao som proposto pelo trio. Porém, um ouvinte mais assíduo ou um profundo conhecedor da banda, pouca novidade irá encontrar nesse álbum.

Com Around The Sun (2004) o grupo percebeu pela primeira vez que não poderia ser responsável pelo lançamento de um trabalho artificial ou descompromissado com sua vasta discografia. O resultado se traduziu no completo desprezo por parte da crítica e dos fãs, afinal, não há como contestar o quanto o disco tenta repetir o sentimento de Automatic for the People (1992), indubitavelmente de maneira fingida. A resposta para essa transição por um terreno enfadonho viria com o disco seguinte, Accelerate, que traria o grupo de volta aos eixos, focando na instrumentação dos primeiros discos, porém imersos em uma sonoridade muito mais “punk”.

A sensação absorvida com esse novo disco é a de que a banda não trabalha com a pressão de substituir um álbum fracassado, mas sim de dar sequência a um bom registro de estúdio. Dessa forma Collapse Into Now acaba se mostrando como uma bolacha mais solta, similar a outros discos do grupo, porém sem parecer uma cópia. A mescla de sonoridades dentro do novo trabalho revela-se logo nas três primeiras faixas, Discoverer, All The Best e Überlin.

Na primeira canção, a banda traz uma instrumentação, que de alguma forma remete aos sons propostos em álbuns como Monster (1994) e New Adventures in Hi-Fi (1996), juntando alguns toques de glam rock com proto-punk e certo espírito do rock de arena. A sonoridade crescente que se dissolve no ritmo da bateria e nas guitarras de Peter Buck dão uma clara sensação de abertura ao álbum. É o tipo de som que compactua com o R.E.M. dos velhos discos sem soar repetitivo.

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All The Best com seu ritmo acelerado e o uso de guitarras rasantes colocam a composição no mesmo pacote de faixas do álbum anterior. Com a terceira música o trio transita por um terreno mais acústico, semelhante ao que é encontrado em Out of Time (1991) e Automatic for The People (1992).

Com base nessas três faixas o que é encontrado na sequência surge como continuidade desse tipo de som, porém como já foi dito, não há como caracterizar isso como um auto-plágio é como se cada faixa soasse nova aos ouvidos. Talvez apenas Oh My Heart, por conta de sua letra excessivamente dramática acabe reduzindo o álbum (o mesmo não vale para os belos arranjos construídos para a canção). Contudo, tal queda não é nada que não possa ser esquecida com a chegada de It Happened Today, mais um bom momento em que a sonoridade bem arranjada gera ótimos resultados. A voz característica de Stipe chega de maneira acalentadora, sempre acompanhada por uso afinado de backing vocal.

A melancolia sincera de Every Day Is Yours To Win faz dessa uma das faixas mais agradáveis do álbum. Entretanto, é no instrumental detalhado que a canção firma-se. Guitarras, violões e principalmente os teclados fomentam um resultado quase adocicado, que de alguma forma lembra o som de bandas alternativas contemporâneas, principalmente o Beach House do último álbum (Teen Dream, 2010), exceto pela finalização mais polida do som. É estranhamente distinto e encantador, como se o R.E.M. fizesse algo tocado baixinho e de maneira cuidadosa.

Gravado em três cidades diferentes, é como se para cada novo ambiente o trio apostasse em um tipo diferente de som. De Berlin vem o lado mais enérgico do grupo, Nashville representa a aproximação com o lado mais folk do disco e mescla desses dois sons parece corresponder com Nova Orleans. Destaque para a beleza de Blue, faixa que não apenas conta com a presença de Patti Smith, mas produz um dos momentos mais brilhantes do álbum, convergindo solos obscuros de guitarra, com vocais declamados de Stipe e as sempre bem vindas sonorizações vocálicas da dama do punk.

Collapse Into Now conta com a produção de Jacknife Lee, que anteriormente trabalhou com a banda em Accelerated, além do disco ao vivo Live At The Olympia (2009). Responsável por discos de artistas relevantes dos anos 2000 como Bloc Party, The Hives e Kasabian, o produtor orienta eficientemente os rumos do álbum, trazendo certa aura jovial ao trabalho, explicando como o retrospecto de sons da banda soam de maneira quase inédita e deliciosamente envolventes. Um álbum indicado para quem desconhece o trabalho do trio, e quando livre de preconceitos pode agradar também os que já desvendaram sua discografia.

Collapse Into Now (2011)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Michael Stipe, Bruce Springsteen e Pearl Jam
Ouça: Every Day Is Yours To Win

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.