Disco: “Come On Feel The Riverbreeze”, Luziluzia

/ Por: Cleber Facchi 22/05/2014

Luziluzia
Indie/Psychedelic/Tropical
https://www.facebook.com/luziluzia

Por: Cleber Facchi

A capa cinza de Come On Feel The Riverbreeze (2014, Balaclava), registro de estreia da banda goiana Luziluzia, em nada representa o rico catálogo de cores expostas pelo grupo no decorrer da obra. Trata-se de uma barreira natural, como um amontoado de galhos e rochas capazes de ocultar a passagem para o lado mais impressionante e pouco explorado de uma praia. Fuga do óbvio, o debut assumido por (ex-)integrantes das bandas Boogarins e Riverbreeze é exatamente uma quebra de pequenas convenções e fórmulas estáticas, uma tentativa em agrupar harmonias tropicais e acordes psicodélicos sem necessariamente mergulhar no óbvio.

Contrariando o título em inglês, a obra assumida por Raphael (baixo e vocal, ex-Riverbreeze e Boogarins), Benke (guitarra, Boogarins), João Victor (guitarra e sintetizadores, ex-Riverbreeze) e Ricardo (bateria, ex-Riverbreeze) cresce a partir de um cardápio de versos assinados em bom português. Ambientado dentro do mesmo universo lisérico-nonsense de As Plantas Que Curam (2013), estreia da conterrânea/parceira Boogarins, o registro e suas 11 faixas dançam em um ambiente torto onde a única regra é não fazer sentido algum. Ou quase isso.

Como Summertime revela logo nos primeiros instantes do disco, Come On Feel The Riverbreeze se manifesta como uma morada alternativa para que canções de amor, hinos pós-adolescentes e versos de evidente apelo cotidiano possam se acomodar sem compromisso. Na contramão do trabalho apresentado por grupos como Holger, Tereza e demais representantes das emanações litorâneas/tropicais brasileiras, a estreia dos goianos está longe de ocupar espaço ou definir regras específicas. É apenas um disco leve, um agrupado de sensações românticas, tímidas ou chapadas, mas que usa do próprio descompromisso para pescar o ouvinte.

Conduzido com extrema leveza do primeiro ao último acorde, o debut da Luziluzia é um trabalho raro em se tratando do uso apurado das melodias e versos. Basta observar o desenvolvimento da pegajosa Tempo Tanto Faz, canção que elimina todo o caráter “sintético” do Strokes da fase Is This It (2001), ao mesmo tempo em que ecoa impregnada pelas emanações típicas do rock dos anos 1960/1970. Caso fosse lançado há uma ou duas décadas, a estreia dos goianos seria classificada sem dificuldades como um disco “para tocar nas rádios”, afinal, canções acessíveis ocupam todos os espaços do registro.

Livre da pressão em resolver todas as canções dentro de um mesmo contexto poético ou instrumental, a estreia da Luziluzia acerta justamente ao brincar com o experimento. Não, não se trata da necessidade em colecionar ruídos ou arranjos complexos, mas em saborear diferentes gêneros e temáticas com jovial liberdade. Dentro desse exercício, a banda mergulha no lado pop da neo-psicodelia (Cosmic Melodrama), resgata melodias esquecidas da década de 1960 (Polinésia) e soa tão íntima do rock dos anos 2000 (Alegria), quanto da cena alternativa dos anos 1990 (Monólogo do velho louco).

O mais atraente dentro da flexibilidade estética do álbum não está no passeio por entre décadas, tendências e estilos, mas em perceber como tudo se relaciona de forma coerente ao longo da obra. Representação natural dos próprios integrantes – todos com 20 e poucos anos -, Come On Feel The Riverbreeze é uma obra estimulada pela herança do rock clássico, mas traduzida por um quarteto de artistas que cresceram com as experiências lançadas musicalmente na década passada.

 

Luziluzia

Come On Feel The Riverbreeze (2014, Balaclava)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Boogarins, Tereza e Carne Doce
Ouça: Summertime, Tempo Tanto Faz e Polinésia

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.