Disco: “Coming Home”, Leon Bridges

/ Por: Cleber Facchi 24/06/2015

Leon Bridges
Soul/R&B/Singer-Songwriter
http://www.leonbridges.com/

Leon Bridges é um nostálgico. Nascido em julho de 1989 na cidade de Atlanta, Georgia, o cantor e compositor norte-americano parece viver em um mundo em preto e branco, vozes captadas em baixa fidelidade e temas que instantaneamente remetem ao som projetado na década de 1960. Orientado por Otis Redding, Al Green, Sam Cooke e outros gigantes do Soul e R&B do mesmo período, o novato (finalmente) abre as portas do primeiro disco solo: Coming Home (2015, Columbia).

Catálogo empoeirado de canções românticas, entristecidas e até mesmo dançantes, o registro segue um caminho isolado em relação a diferentes conterrâneos da música negra recente. Oposto ao trabalho de Janelle Monáe, Adele, Raphael Saadiq e tantos outros artistas interessados em brincar com referências lançadas há mais de quatro décadas, ao mergulhar no primeiro álbum solo de Bridges, a proposta assumida pelo cantor é clara e imutável. Trata-se de uma visita breve ao passado, como uma tentativa de replicar sons, temas e conceitos sem necessariamente investir na transformação.

Coeso, por vezes demasiado contido, Coming Home sustenta na forte aproximação entre as faixas outro importante acerto. Diferente de tantos outros registros que tentam amarrar um universo imenso de referências e movimentos musicais em um mesmo período de tempo, da abertura, com a faixa-título, ao fechamento em River, Leon Bridges em nenhum momento ultrapassa o cercado temático que se estende até o meio dos anos 1960. Nada de Dance Music, Funk e outras variações que invadiram a década seguinte. O controle é uma constante.

Como efeito dessa escolha, posicionado em um curto espaço de tempo, Bridges parece extrair o máximo de cada variação da música (não apenas negra) do período. Enquanto Smooth Sailin’ reverbera diversos elementos típicos da Surf-Music, composições como Better Man e Shine suspiram romantismo e arranjos nitidamente apaixonados, como canções de rádio há muito esquecidas. Como não se deliciar com os coros de vozes em Brown Skin Girl e Lisa Sawyer, faixas que espalham lentamente o pano de fundo nostálgico que cobre toda a obra.

Mesmo os versos, gírias e termos encaixados por Bridges no decorrer do trabalho parecem íntimos do universo musical de cinco décadas atrás. Romântico, o cantor se divide em diferentes personagens, homenageando musas (Lisa Sawyer, Brown Skin Girl) ou mesmo buscando conforto em tormentos particulares (Better Man, Pull Away), base para a formação de uma obra absorvida de forma descomplicada, mas não menos comovente.

O que separa Coming Home de outros tantos artistas movidos pela mesma temática? Ora, o ouvido atento e completa fidelidade do registro em relação ao passado. Do chiado sujo que abre e finaliza o disco, passando pelo uso de instrumentos analógicos e métodos caseiros de captação, cada instante dentro da obra serve de passagem para o universo musical dos anos 1950 e 1960. Seja na relação com o country (Twistin’ & Groovin’), flertes com o rock clássico (Flowers) e detalhadas confissões românticas (Lisa Sawyer), ouvir Coming Home é como apreciar um antigo disco de vinil.

Coming Home (2015, Columbia)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Janelle Monáe, Raphael Saadiq e O Terno
Ouça: Smooth Sailin’, Lisa Sawyer e Coming Home

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.