Disco: “Conatus”, Zola Jesus

/ Por: Cleber Facchi 28/09/2011

Zola Jesus
Lo-Fi/Electronic/Gothic
http://www.zolajesus.com/

Por: Fernand Blammer

Zola Jesus e seu obscuro Stridulum II foram provavelmente os últimos representantes de um pequeno grupo de cantores e produtores norte-americanos que em 2010 encontraram nos sons emanados pelos anos 80 uma nova possibilidade de desenvolver sua música. Enquanto uma maioria quase absoluta de artistas partem (ainda hoje) em busca de um sytnhpop chapado, tosco e já irritantemente conhecido, Jesus, Twin Shadow e Diamond Rings foram responsáveis por inverter as lógicas do período, se afastando de um som menos fluorescente e concentrando seus esforços em um misto de Lo-Fi e temáticas estranhamente dançantes.

Pouco menos de um ano após o lançamento do elogiado álbum – que circulou com amplo destaque através das principais publicações musicais de diversos países – Nika Danilova, a grande responsável pelo Zola Jesus volta com seu novo disco, o terceiro em uma série de trabalhos consecutivos e provavelmente o álbum que deve apresentá-la de fato ao grande público. Menos sujo e obscuro, Conatus (2011, Sacred Bones) não apenas reforça a tonalidade eletrônica da obra da musicista, como marca também uma profunda aproximação com uma sonoridade mais volátil, nada hermética e talvez até menos sofrida que aquela enaltecida há pouco mais de um ano.

Se em idos de 2010 a densidade gótica de Night era o que abria de maneira sublime o trabalho de Danilova, lentamente absorvendo o ouvinte para dentro de sua atmosfera sombria e melancólica, ao abrir de seu novo trabalho já temos uma clara percepção de que as escolhas da cantora agora são outras. Os pequenos experimentos de Swords deixam transparecer uma visível predisposição ao uso de elementos mais sintéticos, quase futurísticos, com a norte-americana dialogando de maneira ainda mais intensa com o que a colega além mar Karin Dreijer Andersson vem desenvolvendo através do Fever Ray.

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Muito embora faça uso de uma sonoridade e versos muito próximos daqueles experimentados em Stridulum, em Conatus torna-se visível a falta de ligação entre as composições, como se mesmo próximas as canções estivessem na verdade distantes umas das outras. Enquanto no anterior trabalho havia uma espécie de continuidade que interligava Night, I Can’t Stand, Sea Talk e todas as composições presentes no álbum, em sua recente obra Danilova explora o uso de músicas quase avulsas, como uma pequena coletânea de canções aleatórias, o que acaba resultando em um registro que mesmo complexo e cuidadosamente estruturado vai aos poucos perdendo sua força.

Grande parte do que acarretava na beleza instrumental do último registro de Zola Jesus estava relacionado ao ambiente cultivado ao longo do álbum. Cada composição apresentada ia aos poucos delimitando uma espécie de redoma instrumental, faixas que pareciam se cercar de pequenas particularidades geradas apenas dentro daquele espaço imaginário. Em Conatus cada música decide seu próprio rumo, acarretando em um projeto demasiado disperso, com músicas donas de uma linguagem particular e incapazes de serem relacionadas.

Por mais que falte ao disco a mesma união do trabalho anterior, há claramente um grande acerto de Danilova em buscar por novas experiências instrumentais ao longo do registro, algo que se reflete com primazia em músicas como Vessel e Shivers, ambas composições que se apoiam no uso de uma sonoridade mais leve, menos condensada, algo que remete quase diretamente ao visual esvoaçado que se ressalta através da capa do disco. Mesmo irregular Conatus não decepciona, servindo como uma boa introdução aos que ainda desconheçam o trabalho da musicista.

 

Conatus (2011, Sacred Bones)

 

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Fever Ray, Austra e Cold Cave
Ouça: Vessel

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.