Disco: “Confess”, Twin Shadow

/ Por: Cleber Facchi 26/06/2012

Twin Shadow
Electronic/New Wave/Lo-Fi
http://twinshadow.net/

Por: Cleber Facchi

Existe um motivo muito específico para o fato de termos gostado tanto do primeiro álbum do projeto nova-iorquino Twin Shadow. Embora emanasse referências aos sons da década de 1980 por todos os lados do doloroso Forget, George Lewis Jr., líder da banda, conseguiu dar outro enquadramento e acabamento ao som que circulava pelo disco. Como resultado, o músico nos arremessou direto para uma verve nostálgica, esculpida em cima de teclados lo-fi, batidas e vocais consumidos pelo eco e toda uma profusão de letras sorumbáticas que pareciam arquitetadas especialmente para o ouvinte. Havia nostalgia, mas havia principalmente inovação.

Por vezes erroneamente catalogado como um “membro” da mesma frente assumida por Neon Indian, Washed Out, Memory Tapes e outros grandes da cena Chillwave, Twin Shadow usa do novo registro como uma espécie mecanismo de distinção. É como se ao longo da execução de Confess (2012, 4AD) Lewis Jr. se posicionasse a frente de um movimento próprio, um universo musical compartilhado apenas por um reduzido número de grupos próximos a ele como Hooray For Earth, Twin Sister, Diamond Rings e Chairlift, artistas também partidários dessa necessidade de visitar os anos 80 sem jamais cair em referências plagiadas ou sonorizações excessivamente semelhantes.

Optando por uma solução muito próxima da testada em Forget, em novo disco Lewis Jr. se esquiva de um registro consumido pelos grandes hits e refrãos fáceis, abandonando todos estes benefícios para se concentrar na produção de um tratado “minimalista” e inteiramente cuidadoso. Das batidas aos versos, tudo funciona de forma tão delicada quanto o que fora testado há dois anos. Talvez com exceção da grandeza involuntária do poderoso single Five Seconds e em alguns momentos de Run My Heart (momento mais Joy Division do álbum), a explosão e a valorização de um instrumental mais forte seja sim necessária, rompendo de forma consciente com a tonalidade suave do restante da obra.

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Ao mesmo tempo em que este rompimento e necessidade de buscar por renovação impedem o Twin Shadow de mergulhar em um disco redundante, o abandono de certos acertos presentes no disco passado o impedem de alcançar um resultado tão surpreendente quanto o que se manifestou em 2010. Mesmo cuidadoso Confess é sim um álbum muito mais intenso que o antecessor, e isso não está visível apenas nos momentos mais radiofônicos do disco, mas também nos pontos mais sutis da obra. Seja no encerramento melancólico de Be Mine Tonight ou na abertura despretensiosa de Golden Light, tudo parece montado de forma a explodir nos ouvidos do espectador, não de maneira assertiva, como fora testado anteriormente em When We’re Dancing ou na surpreendente Slow, mas de forma irregular e por vezes morna.

Se ao longo do primeiro álbum o artista mantinha as guitarras em segundo plano, concentrando nas batidas elaboradas e nos teclados o grande certo e a principal marca da obra, agora temos um oposto. Por todos os lados do registro as guitarras parecem assumir o direcionamento das canções, quase arrastando Lewis Jr. para uma produção mais voltada ao pós-punk do que ao synthpop em si. Curioso notar que o grande acerto do trabalho, como na honesta When The Movie’s Over, se encontra exatamente os mesmos elementos que tornaram atrativa a estreia do Twin Shadow, algo que a sobreposição amena dos instrumentos, os vocais maquiados e a letra naturalmente confessional expressam em poucos segundos.

Irregular e assertivo (quase) na mesma medida, Confess passa longe de atingir um resultado que supere o álbum anterior, o que de forma alguma impede o músico de passar na “prova do segundo disco”. A presença de Chris Taylor (Grizzly Bear) na produção do registro passado se revela como uma das grandes faltas do novo disco, que por vezes tenta reciclar uma infinidade de sons e referências, sem de fato saber o que quer incorporar. Assim como aconteceu com o Beach House no recente Bloom, George Lewis Jr. parece pouco interessado em reformular bruscamente suas referências, mantendo as bases instrumentais de outrora (com alguns novos acréscimos) e investindo fortemente no conteúdo lírico da obra. Como o próprio título do trabalho assume, Confess funciona como uma série de confissões musicadas e Lewis Jr. faz disso a principal e mais competente ferramenta do registro. Pena que o trabalho não consiga ir além disso.

Confess (2012, 4AD)

Nota: 7.5 
Para quem gosta de: Hooray For Earth, Chairlift e Diamond Rings
Ouça: When The Movie’s Over, Five Seconds e Be Mine Tonight

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.