Disco: “Contact”, Noisettes

/ Por: Cleber Facchi 03/10/2012

Noisettes
British/Indie Rock/Female Vocalists
http://www.noisettes.co.uk/

Por: Fernanda Blammer

Shingai Shoniwa parece ter escolhido um caminho pouco óbvio em relação ao que tantas outras cantoras de vocais similares teriam percorrido. Procurando pelo rock, enquanto uma maioria quase absoluta teria se entregado ao Soul, ao Pop e ao R&B, a cantora e compositora londrina encontrou ao lado dos parceiros Dan Smith e Jamie Morrison a possibilidade de elevar sua voz a outros níveis, marca que praticamente se anuncia como base para todo e qualquer composto sonoro gerado dentro do Noisettes. Ainda dona dos mesmos vocais que lhe trouxeram destaque no meio musical, a inglesa e o parceiro Smith (Morrison deixou o projeto em janeiro de 2010) retornam para mais uma sequência de faixas tão pegajosas quanto as montadas em um passado recente.

Em Contact (2012, Mono-ra-rama) a dupla aposta na mesma sonoridade fácil, dançante e conduzida pelas vozes grandiosas da vocalista, figura que ocupa com beleza toda possível rachadura que possa surgir no decorrer do disco. Menos lamurioso que o anterior Wild Young Hearts (2009) e ainda mais atrativo (e enérgico) que o debut What’s The Time Mr Wolf? (2007), o novo disco parece inteiramente pensado para valorizar os peculiares e sempre invasivos timbres de Shoniwa. Tão logo a radiofônica I Want You Back inaugura o trabalho, somos inundados por uma porção volumosa de faixas comerciais e praticamente elaboradas para as pistas, feito que deve atrair sem grandes dificuldades o grande público.

Como o título do álbum garante, Contact é um registro que mantém constante a relação de proximidade com o ouvinte, feito que as letras românticas e nada banais anunciam com exposições sonoras feitas para grudar nos ouvidos tão rapidamente quanto são conduzidas. É como se a dupla mantivesse a mesma postura intimista firmada em músicas como 24 Hours e Never Forget You, mas livres dos realces dolorosos que tanto ditavam os rumos do álbum passado. O Sol brilha forte no decorrer do novo disco e este é o motivo que nos prende de maneira entusiasmada até os instantes finais do trabalho, que entre faixas como That Girl (um pop romântico típico da década de 1960) e Love Power (com um acabamento eletrônico nada artificial) parece entregar todos os motivos para nos encantar pelo álbum.

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Mesmo repleto de bons momentos, assim como nos dois trabalhos anteriores do grupo inglês, o grande erro do disco é se entregar ao uso de sons mais lentos ou que quebrem o ritmo ascendente estabelecido na abertura da obra. Logo, a presença de faixas como Never Enough parecem revelar um sentimento contrário ao que engrandece o fluxo do álbum, manifestando uma proposta contrária a exigida por Shoniwa e que tanto a distancia das demais vocalistas do gênero. Todavia, é preciso reconhecer que pela primeira vez essas canções parecem isoladas do restante do trabalho, surgindo próximas do encerramento do álbum, o que garante uma funcionalidade maior ao atrativa disco. 

Talvez pela relação com o pop e o rock da década de 1980, Contact soa em diversos instantes como uma versão competente de tudo aquilo que o The Gossip vem tentando há anos dentro dos sempre mornos trabalhos em estúdio. Perfeito oposto do que a banda norte-americana desenvolve em seus trabalhos, a dupla inglesa estimula o crescimento de um registro que mesmo fácil e descartável (não espere ouvir Contact como um disco que vai mudar sua vida) agrada em (quase) toda sua extensão, mesmo aos ouvintes de gosto mais exigente e que dificilmente vão passear pelo disco sem se entregar ao ritmo quente guiado pela voz de Shoniwa.

Desfalcados, os membros restantes do Noisettes garantem a construção de um álbum tão bom quanto o anterior Wild Young Hearts, com a diferença de que agora a fluidez do registro permanece atrativa até os últimos instantes – mesmo quando os desajustes estão claros e perceptíveis. Pronto para tocar nas pistas (Let the Music Play) ao mesmo tempo em que se mantém íntimo de um ambiente mais “familiar” (Ragtop Car), o álbum mantém as exatas mesmas características dos projetos anteriores, referências agora aprimoradas e ainda mais fascinantes do que em outras épocas. Um disco Pop, fácil e ainda assim distante de qualquer propósito tolo ou banal.

Contact (2012, Mono-ra-rama)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: V V Brown, Santigold e Janelle Monáe
Ouça: I Want You Back e That Girl

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.