Disco: “Contra Nós Ninguém Será”, Edi Rock

/ Por: Cleber Facchi 10/06/2013

Edi Rock
Brazilian/Hip-Hop/Rap
https://www.facebook.com/EdiRockOficial

Por: Cleber Facchi

Edi Rock

O lançamento das inéditas Mente do Vilão e Mil Faces de um Homem Leal, o aumento no número de apresentações ao vivo e os burburinhos davam a entender que o retorno do Racionais MC’s com um novo disco era algo iminente em 2012. Não foi. Há mais de uma década sem o lançamento de um novo registro em estúdio – o último trabalho do coletivo foi o ótimo Nada como um Dia após o Outro Dia, de 2002 -, os interessados no trabalho do grupo paulistano terão de esperar um pouco mais até serem brindados com uma nova obra de inéditas. Aproveitando do hiato, Edi Rock regressa para o que foi iniciado há mais de seis anos, transformando o aguardado Contra Nós Ninguém Será (2013, Baguá) em seu primeiro grande álbum em carreira solo.

Desprovido do propósito claustrofóbico que naturalmente abastece obra dos Racionais, Rock faz do presente álbum um encontro entre novos e velhos representantes do Rap nacional. Mais do que transformar o registro em um caminho para diferentes gerações, o paulistano desenha o álbum como um ponto de convergência inevitável entre estilos, aproximando amigos e colaboradores (por vezes externos ao Hip-Hop) dentro de uma massa sonora que dança pelas referências. Dessa forma, cada uma das 23 composições espalhadas pelo disco assumem um ponto de individualidade, indo do Samba ao R&B sem que haja qualquer qualquer incompatibilidade.

Quem espera por uma instrumentação tratada em cima de samples de pianos e batidas secas à exemplo do que abastece o trabalho dos Racionais terá uma surpresa. Do instante em que tem início Selva de Pedra, faixa de abertura do disco, a pluralidade dos instrumentos, sons e condimentos sonoros trazem novidade aos versos naturalmente sóbrios do rapper. São bem empregados samples de Bom Senso de Tim Maia, na faixa Estrela de Davi, tango em Voltarei Para Você, Soul em Final Feliz e todo um cardápio de referências que ultrapassam o óbvio. Mesmo os momentos mais “comuns” do álbum são tratados com novidade, resultado bem expresso nos coros de vozes em Homem Invisível (parceria com Mano Brown) ou os sintetizadores em Você Não Pode Se Enganar.

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Tão consistente quanto a proposta lírica que acompanha os Racionais MC’s, os versos de Edi Rock mantém o discurso afiado, indo da critica social ao posicionamento bem incluído de temas usuais. A exemplo do que conduz musicalmente a obra, o trabalho se desdobra em propostas amplas, passeando pelo toque sombrio dos marginalizados em Na Rota Da Ambição e Liberdade Não Tem Preço, ao acerto melancólico e simplista de Final Feliz. Contrário ao que poderia parecer, é justamente ao apostar em versos de esforço comercial e temáticas cotidianas que o rapper apresenta o melhor catálogo do álbum. São composições que olham com honestidade para as periferias, mostrando um lado muitas vezes esquecido tamanho o desgaste natural da criminalidade e outros temas amplamente relacionados.

Ao mesmo tempo em que se deixa influenciar por uma tonalidade mais branda, tratando disso como um dos elementos de destaque do álbum, Rock não excluí a presença de erros claros e que se arrastam por diversas partes do trabalho. Em Voltarei Para Você, por exemplo, parceria com Marina de La Riva, tudo é explorado de forma tão previsível e forçada que destoa sem dificuldades do restante da obra. A dualidade dos vocais e os versos em castelhano beiram o constrangimento, efeito que se estende na construção de Abrem-Se Os Caminhos, desnecessário encontro com Natiruts e O Rappa que aproveita de temas já debatidos pelo disco com o pretexto de passear pelas sonorizações do Reggae. Talvez se seguisse com o conceito de “rádio-álbum” firmado na parte final do disco, a presença de tais composições teriam melhor aproveitamento.

Extenso, Contra Nós Ninguém Será não esconde os pequenos exageros de Edi Rock, que parece interessado em reproduzir cada uma das composições e das parcerias captadas ao longo dos anos, um processo que talvez exija tempo demais do ouvinte para ser apreciado em totalidade. Os deslizes, entretanto, não excluem o grandiosismo de faixas como Selva De Pedra, Thats My Way e Homem Invisível, composições que de uma forma ou outra revivem a boa fase do paulistano, deixando mais do que claros os motivos que fizeram dele um dos gigantes do rap nacional.

Edi Rock

Contra Nós Ninguém Será (2013, Baguá)

Nota: 7.7
Para quem gosta de: Racionais MC’s, Rael e Dexter
Ouça: Thats My Way, Final Feliz e Homem Invisível

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.