Disco: “Contravento”, Andeor

/ Por: Cleber Facchi 29/11/2012

Andeor
Brazilian/Indie Rock/Alternative
http://andeor.com.br/

 

Por: Cleber Facchi

A serenidade que por vezes decide os rumos de grande parte dos discos nacionais passa longe do primeiro álbum da banda paulistana Andeor. Como o próprio título já avisa, Contravento (2012, Independente) bate de frente contra tudo – ou quase tudo – que atualmente decide os rumos da cena tupiniquim. Protegidos pela firmeza das guitarras, o disco passa intencionalmente longe da essência firmada pelo Los Hermanos há mais de uma década, encontrando nas boas doses de distorções, vocais ágeis e letras espontâneas um percurso novo. Um bom disco de rock nacional para quem talvez já tenha esquecido o que é isso.

Encontrando referências perceptíveis nos trabalhos de bandas como Foo Fighters (do começo da carreira) e Queens Of The Stone Age, o quarteto – Guilherme Xibrusk (Bateria e Voz), Lucas de Sá (Baixo), Lennon Fernandes (Guitarra e Voz) e Giovanna Vecchi (Guitarra) – pinta com sujeira os quatro cantos do rápido registro que pouco a pouco toma formas volumosas. Todavia é preciso notar que longe dos possíveis exageros ou aproximações demasiado penosas que direcionam discos do gênero, a banda está longe de assumir copiosamente a postura de David Grohl ou Josh Homme, encontrando uma medida própria para tal conexão.

Mesmo que a força das guitarras dite os rumos do álbum, movimentando tanto os vocais como as líricas, é nos versos de conteúdo dramático e na clara aproximação com o trabalho da extinta Silverchair que o grupo encontra fortes referências. Estão lá as composições de bases regulares que inesperadamente explodem em versos grandiosos e acordes ainda mais amplos, resultado visível em boa parte da discografia do grupo australiano. A própria música Fuga, segunda canção do álbum, trata exatamente disso, com a banda se dividindo em altos e baixos instrumentais que servem de gancho para os versos levemente ambiciosos.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=BsCGk5OGb5M?rol=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=rgDLs5XNff4?rol=0]

Embora lide com uma sonoridade de acertos raros dentro do atual cenário independente – ainda mais quando observamos os experimentos e nuances da recente música brasileira -, muito do que circula pelo trabalho dos paulistanos se relaciona de forma curiosa com uma variedade de extintas e quase esquecidas bandas nacionais. Enquanto Simples lembra em alguns aspectos o trabalho da mineira Monno, os versos curtos e a instrumentação raivosa de Sangue (1932) remetem à falecida Ecos Falsos, nos momentos sóbrios e livres do bom humor, claro. Sobram ainda toques de Superguidis (pós-A amarga Sinfonia de Um Superstar) e até Pullovers, quando a banda ainda cantava em inglês.

Como se fosse dividido em duas partes, o grupo concentra na primeira metade do trabalho todo o agrupado de referências que circulam na mente de cada integrante, deixando para a segunda etapa do disco o que parece ser o ponto de maior identidade do grupo. Dividindo o trabalho ao meio está Desenho Desanimado, composto delicado e melancólico que estimula a banda a se aventurar musicalmente. O resultando dessa maior predisposição em provar de novas experiências sonoras está em faixas como a complexa Disfarce, as pesadas Canção do Tolo e Abrigo, esta última dividida em dois pequenos atos.

Para além da divisão estrutural do disco, musicalmente Contravento se organiza em dois concentrados de faixas bastante específicos. O primeiro mais leve e comercial aproxima o grupo de uma flexibilidade radiofônica e convencional, contrastando com o segundo bloco, que flerta abertamente com o rock alternativo sem parecer demasiado hermético. Opostos que devem decidir o futuro do quarteto, mas que por enquanto parecem bem solucionados, solidificando as bases de cada faixa que cresce no decorrer do trabalho.

Contravento (2012, Independente)

Nota: 7.3
Para quem gosta de: Monno, Silverchair e Foo Fighters
Ouça: Fuga e Simples

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/playlists/2731259″ height=”200″ iframe=”true” /]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.