Disco: “Correct Behavior”, Eternal Summers

/ Por: Cleber Facchi 11/06/2012

Eternal Summers
Indie/Lo-Fi/Garage Rock
https://www.facebook.com/eternalsummers/

Por: Cleber Facchi

Eternal Summers

Quando lançado há dois anos, Silver, o primeiro álbum da dupla Eternal Summers veio embarcado por um forte sentimento de “ressaca”. Em meio ao oceano de bandas que despejavam seus primeiros discos inspirados pela verve praiana que se manifestava naquele momento, o registro de estreia do casal Nicole Yun e Daniel Cundiff não apenas soava como mais um trabalho genérico, como parecia usurpar de uma série de referências já testadas e abandonadas por seu caráter pouco inventivo. Insosso, o álbum fluía como um acumulado monótono de composições redundantes, uma espécie de sobra de estúdio ruim de tudo aquilo que o Best Coast conseguiu alcançar com o bem direcionado Crazy For You, também registro de estreia da banda e um dos mais importantes álbuns daquele ano.

Curioso perceber que ao longo destes dois anos valores se inverteram entre os grupos. Enquanto os californianos do Best Coast, contando com um bom investimento para a gravação do novo disco, um produtor de renome – Jon Brion – e tempo de sobra para a finalização do projeto deram formas ao penoso The Only Place, a dupla de Roanoke, Virgínia, mantendo a mesma estrutura de outrora deu vida a um rico e bem elaborado registro. Trata-se de Correct Behavior (2012, Kanine), um álbum que mantém no garage rock/pop o grande estímulo para suas composições, faixas que se dissolvem amenas nos ouvidos do espectador e parecem voltar todos os olhares em direção a redescoberta dupla.

Cientes de que o acerto da banda no primeiro disco estava em canções mais radiantes e melódicas, o casal acaba por converter todo o novo álbum em uma coletânea de hits fáceis, porém duradouros. É como se todos os acertos que residiam em faixas como Pogo e Running High fossem elevados de forma a preencher a totalidade do novo trabalho, um registro que assume de forma compromissada o garage pop que reside na faixa de abertura Millions e mantém essa proposta até o aparecimento da última canção. São apenas 10 faixas, criações de melodias simples e versos rápidos, mas que assim como fez o Best Coast em seu registro de estreia, conseguem tocar o espectador tamanha a sutileza das formas e das histórias de amor contadas pelo casal.

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Divididos entre as melodias caseiras que tanto marcaram o segundo disco do Real Estate, Days, e o toque de sujeira que preenche a mais recente obra do Dum Dum Girls, Only In Dreams, o álbum parece se fragmentar (involuntariamente) entre faixas mais brandas e criações dotadas de certa agressividade. A medida parece costurar o álbum da primeira à última faixa, afinal, enquanto Millions esbanja guitarras sutis e vocais bem arranjados, Wonder se deixa consumir por um toque de maior crueza, métrica que estabelece no disco pequenas doses dicotômicas que pouco à pouco acabam definindo a real estrutura do trabalho. Mais do que estabelecer uma funcional dinâmica ao projeto, em Correct Behavior a dupla parece pela primeira vez ter encontrado um som próprio e não apenas uma somatória de influências.

Ao mesmo tempo em que o casal se deixa consumir pelo velho espírito praiano de outrora, a força e a solidez das guitarras os puxam para um resultado mais urbano, manifestação que se expande brilhantemente no decorrer de faixas como You Kill e Heaven and Hell, músicas que por vezes beiram o noise rock, absorvendo características típicas das projetadas pelo Sonic Youth ao longo de toda a década de 1990. Outra referência que se edifica brilhantemente com o passar do álbum é o The Velvet Underground, algo que os versos declamados de Girls in the City (com Daniel Cundiff empregando de forma competente seus vocais) e o toque hermético de Summerset expõem com primazia e certa carga de maturidade. A dupla até tira um tempo para mostrar o que teria acontecido com o Best Coast se eles tivessem acertado no novo disco, algo que as reverberações românticas de Good As You assumem com competência.

Há dois anos, ao final do texto em que comentava o péssimo desempenho do disco Silver fiz torcida e assumi: “Ainda bem que esse é o primeiro álbum da dupla, sinal que ainda há tempo de sobra para a banda busque inspiração e descubra se de fato quer mesmo fazer música. Melhor sorte da próxima vez”. Nicole Yun e Daniel Cundiff não apenas se desfizeram dos erros que controlavam a banda no passado como apresentaram toda uma nova carga de renovações musicais e líricas no decorrer do novo disco. Se antes os verões que a banda anunciava no título do projeto pareciam escassos e próximos de chegar ao fim, ao ouvir Correct Behavior pela primeira vez eles parecem realmente eternos.

Correct Behavior (2012, Kanine)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Best Coast, Dum Dum Girls e Real Estate
Ouça: Millions, Wonder e Good As You

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.