Disco: “Crawling Up the Stairs”, Pure X

/ Por: Cleber Facchi 15/05/2013

Pure X
Dream Pop/Lo-Fi/Psychedelic
http://purexmusic.com/

 

Por: Cleber Facchi

Pure X (by Gorilla Vs Bear)

Com a construção do álbum Pleasure em 2011, Nate Grace e o parceiro Jesse Jenkins conseguiram estabelecer com exatidão os limites em torno do pequeno universo que alimenta o Pure X. Herdando marcas obscuras daquilo que The Jesus and Mary Chain e My Bloody Valentine alcançaram na década de 1980, o duo texano fez de cada instante do registro uma abertura para canções corrompidas pela perversão dos temas, sexualidade, medos e demais exaltações amargas que ocupavam a mente dos dois integrantes. Um espaço disputado entre a fluidez etérea do Dream Pop e camadas mornas de psicodelia, marca que a banda trata de aprimorar com certo toque de timidez na sequência Crawling Up the Stairs (2013, Acéphale).

Diluindo o trabalho em uma massa sonora de propriedades homogêneas, com o segundo registro em estúdio a dupla não somente parece conhecer cada aspecto específico da obra, como brinca com diversos elementos definidos na execução do último álbum. Ponto fundamental do trabalho, as guitarras abrem e encerram o novo registro em meio a colagens pastosas de ruídos e distorções brandas. É como se Kevin Shields flutuasse pelos trabalhos do Cocteau Twins, transformando os acordes densos de Loveless (1991) em um composto extremamente chapado e quase hipnagógico.

Livre da timidez por vezes exagerada que compunha o álbum passado, Grace, Jenkins e os novos parceiros caminham pelo novo registro valorizando a carga dramática das canções. Assumindo um papel muito mais nítido no decorrer da obra, o vocalista usa da voz como um complemento natural para a proposta sombria que se esparrama pelo disco, fazendo de Crawling Up The Stairs um projeto entregue aos pequenos exageros. À medida que faixas como How Did You Find Me e principalmente Shadows And Lies crescem instrumentalmente, os vocais assumem contornos bem definidos, esbarrando vez ou outra nos exageros intencionais que abasteceram Christopher Owens no último álbum do Girls, Father, Son, Holy Ghost (2011).


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Sem qualquer possibilidade de abertura para ouvintes inciantes, o presente registro praticamente exige que o espectador tenha se aventurado inicialmente pelo cenário obscuro de Pleasure. É como se a dupla mergulhasse em um ambiente ainda mais claustrofóbico do que o testado há dois anos, fazendo de cada canção um novo desabamento sentimental e sonoro que tende à dor. Parte desse exercício vem da extrema aproximação conceitual entre as músicas, o que resulta em um completo enclausuramento do trabalho. É só com a chegada de All Of The Future (All Of The Past), no encerramento da obra, que o ouvinte parece finalmente liberto.

Antes da liberdade, entretanto, a massa suja de vozes e sons influenciam à descoberta de cada mínima nuance oculta no decorrer da obra. Compartilhando referências que vão de Ariel Pink ao Deerhunter do álbum Halcyon Digest (2010), o registro oculta na densa nuvem instrumental uma variedade de elementos que atravessa boa parte da música recente. Há desde a manifestação letárgica de Written In The Slime, no que parece ser um Toro Y Moi em câmera lenta, até a psicodelia nostálgica do Tame Impala em I Fear What I Feel, sempre em um encaminhamento cuidadoso, como se o grupo buscasse a todo o instante esconder o real propósito do trabalho.

Delimitado em uma composição instrumental e lírica que parece retroagir a todo o instante, Crawling Up the Stairs segue um propósito que contraria o próprio título. Do momento em que inicia até o fecho da obra, todos os elementos do disco parecem inclinados ao agrupamento das canções, como se os acordes, vozes e pequenos fragmentos assentassem em uma massa única de sons. O próprio ouvinte parece ser arrastando para dentro desse cenário peculiar. Assim como no último álbum, Nate Grace faz do registro uma morada para os próprios sentimentos e desilusões, sendo que uma vez dentro dele, todas essas referências próprias acabam partilhadas.

 

Pure X

Crawling Up the Stairs (2013, Acéphale)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Deerhunter, Ariel Pink’s Hunted Graffiti e No Joy
Ouça:  Shadows And Lies e Someone Else

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.