Disco: “Cults”, Cults

/ Por: Cleber Facchi 25/05/2011

Cults
Lo-Fi/Indie/Alternative
http://cults.bandcamp.com/

Por: Cleber Facchi

Não é de hoje que os casais são uma peculiaridade no mundo da música. Desde os anos 50 com Johnny Cash e June Carter, na década de 60 Lennon e Yoko, Sid Vicious e Nancy na década de 1970, Madonna e Sean Penn nos anos 80 ou Kurt e Courtney na década seguinte, todas uniões marcadas pela relevância criativa ou polêmica desses encontros. Mas e nos anos 2000, quem seria o casal sensação do mundo da música? Mesmo longe das polêmicas os pouco conhecidos Brian Oblivion e sua amada Madeline Follin acabam por se revelar como uma das mais interessantes uniões do momento, tendo em seu homônimo disco de estreia um destacado conjunto de versos amorosos e um instrumental tomado pelo lo-fi.

Assim como são inúmeros os casais que perpassam as décadas de música, múltiplas são as influências que compõem as onze canções do disco de estreia do casal nova-iorquino, de cara lançado pela Columbia Records, hoje casa de um casting monumental de artistas, que vão de Beyoncé à Band Of Horses, passando por Foster The People até The Vaccines. Da música pop dos anos 60 e 80, do rock lo-fi da década de 1990 ao experimentalismo pop dos anos 2000, tudo funciona como um grande pano de fundo ao trabalho do duo.

Embora comparações os joguem para dentro do mesmo quadro de bandas como o também casal Tennis, a sonoridade proposta pelo Cults se distancia visivelmente das climatizações praieiras que assolam com intensidade o rock e a música norte-americana em geral. Mesmo que existam alguns poucos toques e reverberações nostálgicas que os joguem para dentro da surf music, conforme o álbum se desenvolve ampliam-se as percepções de uma instrumentação muito mais urbana é o que movimenta o disco. Dessa forma é possível traçar algumas similaridades com o trabalho de estreia da conterrânea Acrylics, Lives and Treasures (2011), trabalho que apresenta suas canções de maneira “suja”, como se uma leve camada de poeira se abatesse sobre as músicas, dando à elas um charme todo especial.

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Em seus momentos mais “esvoaçados” ou dando total destaque aos momentos de experimentação, Oblivion e Follin soam como um Beach House, embora menos denso, mais pop e colorido. Most Wanted é um belo exemplo disso, uma faixa que se fosse carregada por abafadas doses de teclados (feito o que a dupla de Baltimore desenvolve em seus discos) e uma bateria opaca poderia facilmente ser encontrada nos já clássicos Devotion (2008) ou Teen Dream (2010). Entretanto é explorando sua faceta enérgica que o casal dá vida aos melhores momentos de sua estreia.

Através dos momentos mais “espirituosos” do trabalho surgem faixas como Oh My God, um puro exemplar do pop oitentista recheado de doses expressivas de teclados, uma sujeira leve e os vocais entusiasmados de Madeline. Quando se volta aos anos 60, o disco desponta alguns toques mais sombrios, carregados de romantismo e um instrumental repleto de eco e sons que se sobrepoõe, como ocorre no delicado single You Know What I Mean. A faixa (uma das melhores do álbum) vem carregada por uma letra de pura declaração, que em conjunto com sua condução instrumental geram uma emoção sincera e um provável hit para as noites de solidão.

Quem quer que tenha se deparado com os primeiros singles da dupla e pensado que dali viria mais uma dose de “mais do mesmo”, logo verá que dentro da ótima estreia do Cults tudo se evidencia de maneira parcialmente inédita. A temática lo-fi é a mesma, embora os rumos dados ao disco são completamente outros.Entre declarações de amor, sons empoeirados e canções que vão do dançante ao comovente, o duo entra fácil no patamar dos grandes lançamentos de 2011, sem contar na possível lista dos grandes casais do novo século. Um disco para ser apreciado ao lado da pessoa amada, ou aguardando pela chegada da mesma.

Cults (2011)

Nota: 8.1
Para quem gosta de: Tennis, Acrylics e PURITY RINGS
Ouça:  You Know What I Mean

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.