Disco: “Cupid’s Head”, The Field

/ Por: Cleber Facchi 10/10/2013

The Field
Electronic/Minimal/Techno
https://www.facebook.com/thefield

Por: Cleber Facchi

The Field

Seis anos se passaram desde que Axel Willner entregou ao público From Here We Go Sublime (2007). Obra de estreia do The Field e um princípio para a nova leva do Minimal Techno, o registro forneceu as bases para toda a engenharia musical que o produtor alemão ampliou ao longo dos anos. Rompendo com a estética redundante que emburrece grande parte dos trabalhos do gênero – solucionados em uma fórmula rasa e repetida exaustivamente -, Willner aprimorou texturas, brincou com o azulejo das batidas e fez da trama eletrônica autoral, apenas o princípio para um jogo de sensações que muda completamente com a chegada de Cupid’s Head (2013, Kompakt).

Quem pensa que apenas a capa escura – rompendo com os padrões dos discos anteriores – é o único ponto de mudança da obra, vai precisar apenas da inaugural They Won’t See Me para perceber o quanto os rumos do The Field agora são outros. O detalhismo de Willner em relação às harmonias extensas de sintetizadores e bases quase intransponíveis ainda permanece o mesmo. A diferença está nas batidas. Enquanto nos trabalhos passados, principalmente o último, Looping State Of Mind (2011), tudo parecia tratado em um sintoma de fragilidade extrema, com o presente álbum a grandeza dos arranjos se manifesta como uma abertura, e qualquer resultado além desse limite se manifesta como a força complementar para a obra.

Livre da homogeneidade exposta no interior dos primeiros discos, Willner passa a observar cada faixa de maneira independente. São fórmulas que inauguram um novo segmento linear e de rumos bem estabelecidos a cada canção, mas que mantém esse princípio apenas até o encerramento da faixa. Nada além disso. A estratégia, longe de enclausurar o ouvinte em um ambiente de formas desconexas, apresenta o produtor em um campo seguro, afinal, mesmo isoladas, as canções jamais se distanciam da estética prévia do The Field, o que reforça o sintoma de segurança exposto longo nos minutos iniciais do disco.

Com base nessa concepção, Willner faz de cada música um campo aberto ao experimento. Extensa, Black Sea talvez seja o exemplar que melhor representa toda a estrutura que rege o álbum. Trabalhada em um loop crescente, a faixa oculta em cada batida matemática uma sequência bem projetada de harmonias, ruídos e até pequenas melodias espalhadas de forma aleatória no interior da canção. Cortada em duas metades bem definidas, a faixa alimenta com essa composição excêntrica o princípio para o que chega de forma ainda mais desafiadora na faixa-título, em sequência. Com um espaço maior para os vocais (espalhados como base pela canção), Cupid’s Head resgata uma série de conceitos propostos pelo artista há dois anos, porém, resumindo tudo em um efeito marcado pela instabilidade intencional das sobreposições.

A partir da faixa-título, o produtor parece mais uma vez livre para expandir os próprios limites. Em A Guided Tour, por exemplo, Willner surge distante do agrupado de experiências sintéticas das primeiras faixas, raspando em contornos vocais íntimos da psicodelia e todo um refinamento que se divide entre a obra do conterrâneo Gas e do escocês Aphex Twin. Entretanto, quem espera por esse sentido de comodidade, verá logo na faixa seguinte, No. No…, que Axel está longe de buscar conforto. Soturna, a canção expande o que já é uma das marcas do novo álbum, os vocais, arrastando o espectador para junto de um agregado amplo de experiências ora melancólicas, ora etéreas.

Nada urgente em relação aos inventos propostos por Willner até pouco tempo, Cupid’s Head é uma obra construída de forma clara para manipular as atenções do ouvinte. Apostando em efeitos, rumos e uma estética que reforça a transformação em lugar ao minimalismo dos resultados prévios, o produtor parece ter encontrado um novo cenário de possibilidades, seja para benefício próprio, ou apenas para hipnotizar o ouvinte com o sentimento de ineditismo.

 

The Field

Cupid’s Head (2013, Kompakt)

Nota: 8.4
Para quem gosta de: Pantha Du Prince, Gas e Gui Boratto
Ouça: Black Sea e A Guided Tour

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.