Disco: “Dádiva & Dívida”, Rashid

/ Por: Cleber Facchi 09/09/2011

Rashid
Brazilian/Rap/Hip-Hop
http://www.myspace.com/mcrashid

 

Por: Pedro Ferreira

A essência histórica que impulsionou a criação do Hip-Hop remonta à imensa necessidade de exteriorização da revolta face às mazelas e injustiças sociais. Com o tempo, o gênero foi ganhando espaço e conquistando o gosto popular, principalmente daqueles que sofriam na pele as degradações relatadas nas poderosas rimas. Assim como o samba, segundo João Nogueira, fora um dia, o Hip Hop se tornou o fiel mensageiro da população.

Se amoldando ao ambiente em que foi criado, o estilo acabou por evoluir do simples protesto à função de verdadeiro retrato das periferias, guetos e margens da sociedade. Assim, nada mais natural que suas letras fossem preenchidas por relatos da criminalidade, mostrando tais ações como uma influência desenfreada, lamentável e imediata do meio sobre o indivíduo.

Em algum momento, entretanto, os retratos de lamúria frente às fatalidades do crime foram se distorcendo, tomando uma forma diferente, culminando na atitude de alguns MCs de passar a se orgulhar dos ilícitos cometidos: ser bandido se tornou uma coisa bonita, algo a se ostentar. Pior: o sucesso de tal formato tornou seus praticantes ricos, quiçá milionários, e a temática se voltou aos rios de dinheiro que recebiam, e que, com a mesma facilidade, gastavam em coisas inúteis. Ou seja: o veículo enraivecido de condenação da pobreza tornara-se uma verdadeira piada.

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Como quase tudo o que ocorre em âmbito internacional se reflete em terras brasileiras, rolou, por aqui, uma, digamos, 50centização do Hip Hop nacional: letras fúteis, preocupações inúteis, sobre dinheiro e sacanagem. Aos poucos, no entanto, a consciência política e as angústias pessoais foram voltaram à tona, e uma nova leva de artistas, talentosos e descontentes com a situação, despontou com força.

No Brasil, Rashid é uma das principais apostas para o resgate dessas tradições. Ao lado do genial Emicida e do talentoso Projota, Michel Dias Costa, seu nome de nascença, forma a principal tríade que alimenta as esperanças de que o rap nacional ressurja de modo triunfal. Em Hora de Acordar, seu EP de estreia, se mostrou incontestavelmente promissor e lhe outorgou um certo hype, gerando grande expectativa. Em Dádiva e Dívida, sua primeira mixtape oficial, o que era promessa se tornou realidade: o flow potente dá vida a temas diversos, todos relevantes, com letras igualmente notáveis.

Rashid demonstra, aqui, como matou no peito todas as adversidades para ascender e se afirmar como prodígio do Rap, como artista independente. Não se esquece, entretanto, de retratar aqueles que se enveredaram por caminhos mais tortuosos, assim feito em Vou Ser Mais. Os temas vão além: chega, até mesmo, a falar de amor, em Talvez e Volto Logo; da trajetória da carreira, em Porradão de Cinco; e, seguindo a mesma linha de seu Extended Play inicial, o caráter motivador, de injeção de autoestima, está presente na faixa título, em E Se Remix, Poucos e Bons e Plantar o Bem.  Se dádiva é dívida, como prega esse lançamento, Rashid segue à risca tais diretrizes: paga a dádiva –  o dom –  que recebeu, atendendo às expectativas geradas em torno de seu trabalho, adimplindo sua dívida de forma magistral.

 

Dádiva & Dívida (2011, Independente)

 

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Projota, Kamau e Emicida
Ouça: E Se, Poucos e Bons e Porradão de 5

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.