Disco: “Dalva Suada EP”, Dalva Suada

/ Por: Cleber Facchi 13/06/2011

Dalva Suada
Brazilian/Psychedelic/Stoner Rock
http://www.myspace.com/dalvasuada

 

Por: Cleber Facchi

Se um dia o diabo resolvesse andar pela Terra e no meio dessas andanças surgisse o interesse em montar uma banda, então a paraibana Dalva Suada seria a escolhida para ecoar seus tenebrosos sons. Ponto de encontro de diferentes músicos do cenário formalizado em João Pessoa, o grupo faz de seu recente EP um cruzamento dos mais variados estilos musicais, sempre ordenados de forma caótica, suja, mas acima de tudo intensa. Em apenas quatro faixas, a banda arrasta o ouvinte por entre décadas, dimensões, gêneros e sensações distintas, resultando em um trabalho de puro primor e caos.

Quatro são responsáveis por construir o jogo acústico que compreende o pequeno, porém eficaz registro. Para os vocais, a figura de Marcelo Piras é quem assume os comandos, deixando o backing vocal para o parceiro Felipe Augusto, também responsável por construir toda a virtuosa coleção de guitarradas ao longo do trabalho. Tão fugaz quanto a guitarra é o baixo de Daniel Jesi, que tempera cada uma das faixas com seus graves colossais. Orquestrando e dando controle às composições entra a bateria de Nildo Gonzales, instrumento que muda suas formas e direcionamentos constantemente, investindo na pluralidade de ritmos que se encontra dentro do álbum.

Embora seja quase uma heresia delimitar gêneros ou rótulos ao trabalho dos paraibanos – tamanha a efervescência de sons que brotam em cada faixa – é possível evidenciar algumas claras pendências da banda enquanto os quatro pilares que constituem o curto álbum são edificados. Amarelo, faixa que inaugura o disco entrega um stoner rock funkeado, quase possível de ser dançado. Mesmo a curta duração da música é suficiente para que o grupo abra seu leque de experiências, descendo momentaneamente aos anos 70 para trazer ao disco uma carga extra de especiarias.

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Quando Cabritado, segunda faixa do EP aparece, você logo percebe o quanto a canção que a precede soa como um singelo aperitivo. Em mais de nove minutos, o quarteto destila todo o brilhantismo de sua música, costurando um gigantesco cobertor de retalhos, que traz elementos da cultura regional, muita psicodelia, as já conhecidas tendências ao stoner rock, além de uma leve predisposição ao post-rock, sempre desenvolvendo tais ritmos de forma totalmente customizada, própria. Mesmo que as guitarras de Augusto ganhem um crescente destaque ao longo da faixa, o acerto da canção está na colagem de todos os instrumentos, além do diálogo estabelecido por cada pequeno elemento.

Um pouco menos viajada e com uma peso muito maior nos instrumentos, a também gigante Inseto Castanho vem para apresentar o lado mais denso do trabalho. Mais uma vez as guitarras se sobressaem, porém agora cruzando o fino do rock setentista com certa carga de experimentalismo, lembrando de maneira intensa o Macaco Bong em diversos momentos. Na faixa seguinte, Boca Seca, o grupo retoma as pendências ao stoner rock revelado na faixa de abertura, soando de forma ainda mais pesada e dinâmica e se afastando de vez dos toques de psicodelia que se inserem nas faixas anteriores.

Cru e ao mesmo tempo carregado de elementos grandiosos, o novo EP do Dalva Suada vem como uma espécie de oposição aos quase sempre polidos lançamentos do rock nacional. Produzido por Pepeu Guzman e masterizado pelo mestre Buguinha Dub, o álbum vem da mesma leva de bandas como Nuda e Cidadão Instigado, que tem na redescoberta da música da década de 1970 a fórmula base para desenvolver álbuns sempre distintos e carregados de uma vivacidade genuína.

 

Dalva Suada EP (2011)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Nuda, Hierofante Púrpura e Macaco Bong
Ouça: Cabritado

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.