Disco: “Darlings”, Kevin Drew

/ Por: Cleber Facchi 26/03/2014

Kevin Drew
Indie/Alternative/Singer-Songwriter
http://www.kevindrewmusic.com/

Por: Cleber Facchi

Kevin Drew

Kevin Drew parece seguir de perto uma fórmula própria que o acompanha há bastante tempo. Valendo de arranjos compactos e vocalizações melódicas, o músico canadense encontrou não apenas a base para um dos projetos mais criativos da década passada – o Broken Social Scene -, como as próprias criações. Sete anos depois de surpreender o público com o sutil e particular Spirit If… (2007), primeiro invento em carreira solo, o dono do selo Arts & Crafts abre as portas do segundo projeto de sua autoria: Darlings (2014, Arts & Crafts).

Manipulado por um conjunto de histórias que acompanham o cotidiano do músico, o trabalho vai da inaugural Body Butter, ao fechamento, com And That’s All I Know, em uma sonoridade que ecoa aproximação e diálogo instrumental. Movido por um toque de erotismo proposital, Drew passeia por canções que anunciam sexo, amor e separação em um mesmo universo temático. Um registro que se acomoda em pequenas emanações compactas, mas parece orquestrado em totalidade para provocar a mente do espectador.

Posicionado em um meio termo entre os arranjos do último álbum do BSS, Forgiveness Rock Record (2010), e as ambientações típicas do R&B, Drew apresenta uma obra que soa parcialmente oculta até mesmo para ele. Quem buscava pelas vocalizações doces do disco de 2007 ou talvez o mesmo catálogo de acordes marcados pelas cores que apresentaram o cantor, ainda nos anos 1990, verá que a busca por um ambiente sombreado e tímido define toda a composição da presente obra.

Livre de quaisquer exageros, Drew projeta um disco que funciona dentro de uma medida particular de tempo. São guitarras compactas, como as de It’s Cool, faixas ambientais, vide My God, e sobreposições de voz que se acomodam em um tratamento cíclico, evidencia marcada em You Got Caught e Good Sex. Até mesmo quando passeia por universo de possibilidades exaltadas, como em You in Your Were e You Gotta Feel It, o controle parece ser a chave para o crescimento do trabalho – estável até o último segundo.

Ao mesmo tempo em desenvolve o disco em um cenário redundante – esforço naturalmente proposital -, o músico usa dessa atmosfera próxima como um mecanismo de conforto para o espectador. Perdido em um mar de guitarras compactas e vozes amenas, o ouvinte caminha com liberdade pelo labirinto sonoro de Drew, que entre pequenas exaltações pop (It’s Cool) e faixas dinâmicas (Bullshit Ballad) entrega ao público determinados pontos de localização. Todavia, se perder no meio do trabalho parece traduzir o grande acerto da obra do canadense.

Partilhando uma série de conceitos que esbarram na obra recente de Jim James (Regions of Light and Sound of God, 2013) e James Vincent McMorrow (Post Tropical, 2014), Kevin Drew promove um registro em que o uso acertado de melodias confortáveis subtraem qualquer tropeço. Como uma obra em constante estágio de ebulição (vide os arranjos de You in Your Were), Darlings, diferente de outros projetos similares, encontra no “quase” um mecanismo de acerto e continua provocação para o ouvinte.

Kevin Drew

Darlings (2014, Arts & Crafts)

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Broken Social Scene, Jim James e James Vincent McMorrow
Ouça: Good Sex, You in Your Were e It’s Cool

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.