Disco: “David Comes To Life”, Fucked Up

/ Por: Cleber Facchi 17/05/2011

Fucked Up
Canadian/Hardcore/Punk
http://www.myspace.com/epicsinminutes

Por: Cleber Facchi

 

Se em 2008 você soube destinar uma pequena parte de sua vida para apreciar o trabalho da canadense Fucked Up, ou mais especificamente seu segundo disco The Chemistry of Common Life, então você provavelmente destinará muitas horas a mais para David Comes to Life (2011), terceiro trabalho de estúdio do sexteto de Toronto e que apenas vem para solidificar ainda mais a curta, porém essencial discografia da banda. Esqueça o hardcore “tradicional” ao qual você está habituado a ouvir e tenha com esse trabalho a possibilidade de ver o estilo através de novos ângulos, sons, e versos, todos tomados por uma funcionalidade única.

É bem provável que se há tempos você acompanha o gênero possa levar alguns minutos para se adaptar às composições do grupo, não marcadas pela crueza acelerada do estilo e nem por versos em diversos momentos tocados por um niilismo sintomático, pelo contrário, dentro da sonoridade proposta pelo sexteto tudo vem carregado por uma densidade, que abrange tanto a formatação de suas músicas, quanto da poética existencialista das letras. Entretanto, ao mesmo tempo em que a banda se entrega à uma instrumentação recheada por elementos mais específicos há espaço de sobra para boas gritarias, guitarras certeiras e uma bateria espancada até os últimos segundos.

Diferente dos dois álbuns anteriores (principalmente do último), o novo registro transita por um instrumental que se posiciona muito mais dentro do rock alternativo do fim dos anos 80, do que através da temática versátil do punk setentista, encontrado anteriormente nos trabalhos da Fucked Up. Se em  The Chemistry of Common Life havia o que parecia ser uma homogeneidade nas canções, aqui a sonoridade é exposta de forma muito mais despojada, porém ainda assim tão consistente quanto fora no passado recente do grupo, fazendo com que as guitarras construam gigantescos castelos de distorção ou acúmulos certeiros de acordes, sem que para isso estejam intrinsecamente ligadas.

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Talvez o elemento que mais faça falta dentro de David Comes to Life sejam pequenas experimentações ou composições diferenciadas ao longo do disco, algo explorado com afinco nos trabalhos anteriores e que consequentemente davam um charme especial aos LP’s da banda. Se no segundo disco o sexteto preenchia suas enérgicas composições com faixas tomadas pelo noise ou mesmo distanciamentos mais detalhistas e comportados – como o que era exposto em Golden Seal – no novo álbum tais formas de som acabam limitadas, convertidas em pequenas introduções para determinadas faixas ou fechamentos para outras.

Se instrumentalmente o novo álbum traz algumas pequenas faltas em relação ao disco anterior, em termos “conceituais” a nova abordagem escolhida pelo grupo faz com que todas as falhas sejam superadas. Mais do que um disco de hardcore, David Comes to Life é uma sincera história de amor entre dois personagens (David e Veronica), transformando o álbum em uma verdadeira ópera rock contemporânea. Dividido em quatro atos – Ato 1: “Love, then tragedy, strikes the town”; Ato 2: “David loses Veronica, and then himself, as he succumbs to guilt and despair”; Ato 3: “another character is revealed, putting the responsibility for Veronica’s death into question”; Ato 4 – o álbum (e a história dentro dele) apenas evidenciam a soberania da banda canadense em reformular (e confundir) ainda mais o estilo ao qual estão integrados.

Todos os caminhos levam a entender este terceiro álbum como um trabalho de contornos grandiosos em seus múltiplos aspectos. Tanto a instrumentação, quanto seus versos e sua duração (78:26 minutos) ganham aspectos que beiram o épico, o que obviamente os separa ainda mais do que tradicionalmente é exposto através da efemeridade do hardcore. Se no álbum anterior o grupo fixava de vez seu nome na história recente da música, com o novo disco vê-se que o sexteto ainda tem muito com o que nos presentear.

David Comes To Life (2011)

Nota: 8.4
Para quem gosta de: Titus Andronicus, Ted Leo and The Pharmacists e OFF!
Ouça: The Other Shoe

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.