Disco: “Days Of Abandon”, The Pains Of Being Pure At Heart

/ Por: Cleber Facchi 24/04/2014

The Pains Of Being Pure At Heart
Shoegaze/Indie Pop/Dream Pop
http://thepainsofbeingpureatheart.com/

Por: Cleber Facchi

The Pains

Pode uma banda se manter confortável dentro de uma fórmula própria e ainda assim conseguir inovar? Basta ouvir o novo registro em estúdio do grupo nova-iorquino The Pains Of Being Pure At Heart para entender que sim. Em Days Of Abandon (2014, Yabo), todas as experiências ressaltadas pelo grupo desde o autointitulado debut, de 2009, continuam a se repetir sob doce exaltação. Uma construção que não distorce os ruídos inaugurais da banda, potencializa as melodias típicas do Dream Pop e apresenta o terceiro álbum do grupo em um cenário tão característico, quanto desconhecido.

Em um sentido de recolhimento quando próximo do disco anterior, Belong, de 2011, o novo álbum quebra a fluidez crua do shoegaze para reforçar o lado mais “doce” da banda. Lembra de todas as emanações lançadas por Young Adult Friction, A Teenager In Love e demais faixas entregues no debut? Basta a inaugural Art Smock ou mesmo a “sujinha” Simple and Sure para perceber que todas essas experiências estão de volta. Amor, melancolia e as experiências típicas de jovens adultos. Versos confessionais que crescem em cima de massas quase colhedoras de ruídos.

Como se estivesse em busca de novas possibilidades para o projeto, Kip Berman, vocalista, guitarrista e grande nome aos comandos do grupo, apresenta ao público um novo conjunto de referências. Ainda que a veterana The Pastels, grande influência da banda, seja a matéria-prima para o exercício seguido até The Asp In My Chest, cada passado dado ao longo da obra ecoa novas inspirações. Enquanto Kelly é praticamente uma música “clone” dos britânicos do The Smiths, a delicada (e crescente) Coral and Gold flui como uma herança típica da banda Galaxie 500. Mais uma ponte curiosa do grupo para o passado.

Em se tratando do registro de 2011, talvez o que tenha “sobrevivido” são as melodias de vozes aproveitadas agora com maior segurança. Basta a colagem vocal que ocupa todas as esferas de Eurydice ou mesmo Simple and Sure para ver isso, músicas que crescem como uma sequência ao resultado entregue em Heart in you Heartbreak e The Body, alguns dos exemplares mais acessíveis do último álbum. A mesma preferência se revela em outras como Life After Life e Beautiful You, faixas que usam dessa característica, porém, voltam os acordes para o novo catálogo de referências do grupo.

Livre da fluidez ascendente de Belong, Days Of Abandon é um trabalho de momentos. Ainda que partilhem de uma mesma base conceitual, as faixas espalhadas pela obra caminham em um sentido próprio de isolamento, como pequenos singles amontoados em uma coletânea. Há desde composições “colegiais”, caso da leve Masokissed, até faixas marcadas pela colisão de ruídos, posto defendido por Until The Sun Explodes e Beautiful You. Fragmentos da mente conturbada de Berman que continua a cantar sobre o amor e suas próprias desilusões de forma particular.

Por conta desse enquadramento “avulso” das faixas, o novo álbum começa e termina em poucos instantes, como um suspiro. São menos de 40 minutos em que as composições do disco usam do espaço para crescer (Beautiful You), costurar boas melodias (Kelly) ou simplesmente derramar as confissões do próprio criador (The Asp In My Chest) de forma segura. Memórias recentes armazenadas em um espaço tão familiar e doce, que uma vez dentro de Days Of Abandon, fugir parece ser a última opção.

Days Of Abandon (2014, Yabo)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Rocketship, The Pastels e Fear Of Men
Ouça: Beautiful You, Kelly e Eurydice

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.