Disco: “Days”, Real Estate

/ Por: Cleber Facchi 06/10/2011

Real Estate
Indie/Surf/Lo-Fi
http://www.myspace.com/realestate

Por: Cleber Facchi

Agraciados foram aquelas que em 2009 trocaram o duro chão de asfalto pela areia fofa da praia, os acinzentados paredões de concreto pelo azul do mar e o ruidoso som urbano pela suaves emanações praieiras do Real Estate. Principais representantes da explosão de artistas que encontraram no revisitar da música psicodélica e da surf music suas principais referências instrumentais e líricas, o quarteto Ridgewood, New Jersey (hoje situado no Brooklyn) fez de sua homônima estreia um dos mais interessantes trabalhos apresentados há dois anos, algo que eles buscam repetir agora com a chegada do álbum Days (2011, Domino), segundo e mais recente lançamento da banda.

Como seria de se esperar, diferente do disco de estreia a sonoridade proposta pelo quarteto Alex Bleeker, Martin Courtney IV, Etienne Pierre Duguay e Mathew Mondanile III não mais chega entalhada por uma doce instrumentação lo-fi, algo que os próprios membros da banda já haviam anunciado em entrevistas, explicando que a tonalidade caseira do primeiro álbum só foi apresentada daquela forma em virtude das baixas condições econômicas para a gravação e produção do álbum. Agora, contando com o aval do selo Domino Records, o trabalho surge límpido e confortavelmente audível, embora ainda reforce o mesmo aspecto instrumental de outrora, elemento que obviamente trouxe amplo destaque ao grupo tão logo ao lançamento de seu primeiro disco.

Além da óbvia mudança na captação instrumental da obra, torna-se visível uma clara reformulação na própria sonoridade proposta pelo grupo. A psicodelia, antes elemento de centro no trabalho do Real Estate e preferência musical que definia praticamente todos os rumos da banda em suas canções, agora surge como um elemento de segundo plano, com o quarteto se apoiando inteiramente no uso de sons muito mais voltados para a surf music. Muito mais melódicos e raspando em diversos momentos na música pop, o grupo norte-americano transforma Days em uma verdadeira coleção de hits e faixas deliciosamente ensolaradas.

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Por mais interessante que fosse o primeiro álbum da banda, a sonoridade proposta era visivelmente lenta, com as canções fluindo em contornos essencialmente lânguidos e chapados, um fruto óbvio da intensa relação do grupo com a música psicodélica. Em sua segunda grande obra o Real Estate ainda mantém suas preferências sonoras dissolvidas de maneira abrandada, entretanto, torna-se visível uma clara exposição mais direta do grupo, com as composições evitando momentos demasiado extensos ou intensos mergulhos instrumentais, o que pode soar como um erro aos que se encantaram pelas antigas canções do grupo, ou um acerto aos que preferem a banda em contornos menos esvoaçados.

As já tradicionais comparações ao trabalho da banda com antigos representantes da surf music – principalmente com os Beach Boys -, aqui deve ter essa relação ainda mais intensificada, afinal, o uso de harmonias de voz trabalhadas de forma intensamente melódica e a instrumentação menos carregada de referências psicodélicas tornam o quarteto de New Jersey ainda mais próximo desses grandes expoentes. Por todos os lados músicas aos moldes de It’s Real e Green Aisles surgem esbanjando uma sonoridade nada complexa e muito mais radiofônica, algo que em alguns momentos faltava ao primeiro registro da banda.

Mesmo com o vasto número de artistas que surgiram inspirados pelas mesmas tendências sonoras do quarteto, ao longo dos últimos dois anos poucos conseguiram realmente se aproximar da mesma formatação excepcional realçada pelo grupo de Ridgewood. A suave fluidez instrumental das faixas, o coro de vocais preguiçosos e o explorar da doce atmosfera ao longo do trabalho vão aos poucos transportando o espectador, posicionando-o à beira mar, com seus pés confortavelmente enterrados na areia enquanto no horizonte o Sol se põe de forma lenta e preguiçosa.

Days (2011, Domino)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Ducktails, Woods e Girls
Ouça: All The Same e It’s Real

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.