Disco: “De Baile Solto”, Siba

/ Por: Cleber Facchi 18/06/2015

Siba
Nacional/Alternative/Rock
http://www.mundosiba.com.br/

Conhecida como a “capital estadual do Maracatu”, em 2014, Nazaré da Mata, município localizado na região da Mata Norte, em Pernambuco, se dividiu. De um lado, músicos, foliões e representantes da cultura local, coletivos que se uniram para defender as tradições (musicais) da região, mantendo as apresentações de Maracatu de Baque Solto até o amanhecer. No outro lado, a Polícia Militar e membros do governo municipal, oposição de defendia o encerramento precoce dos festejos e apresentações do gênero, forçadas a acabar no começo da madrugada.

Um dos defensores do primeiro grupo – frente que conquistou na justiça o direito de manter as tradições, estendendo os festejos até as 5:00 da manhã -, Siba transporta para o interior do segundo álbum solo parte desse conflito e desrespeito pelas tradições locais. Misto de regresso aos sons regionais explorados desde os primeiros trabalhos com a extinta Mestre Ambrósio, em De Baile Solto (2015, YB), mais do que um retrato isolado da cena nordestina, o compositor pernambucano entrega ao público uma síntese do instável panorama político e social de todo o Brasil.

Conceitualmente amplo, com versos entregues à interpretação do ouvinte, músicas como Gavião, Três Carmelitas e O Inimigo Dorme, se acomodam em meio a temas políticos, discussões sobre abuso de poder, embates e a continua relação entre governantes e a população. Referências e relatos metafóricos que tanto se encaixam no contexto bucólico de Nazaré da Mata, como em qualquer grande cidade. Debates que escapam das redes sociais e cercam o congresso nacional. Da ironia fina que cresce nos versos Marcha Macia ao grito final em Meu Balão Vai Voar, diferentes histórias, temas e cenários sustentam o universo cada vez menos particular criado por Siba.

Em se tratando da estrutura musical montada para o disco, uma obra que busca apoio em duas bases distintas. De um lado, a continua interferência das guitarras, instrumento que não apenas reforça o diálogo de Siba com a própria obra, resgatando temas e arranjos explorados no antecessor Avante, de 2012, com garante novo encaminhamento ao mesmo som enquadrado em obras de apelo “regional”, caso de Toda vez que eu dou um passo o mundo sai do lugar (2008). No outro oposto, o inevitável passeio pela música pernambucana, tema explorado de forma cênica na curiosa faixa-título, uma cômica interpretação das típicas performances típicas da região a mata, mas que mantém firme o contexto político do disco.

De Baile Solto, como o título revela, é uma obra livre, versátil e festiva. Instantes de euforia (Quem e Ninguém), leveza (Mel Tamarindo) e provocação (Gavião) que conduzem o movimento sempre instável, incerto, de Siba. Um artista ainda íntimo da sonoridade explorada desde o meio dos anos 1990 com os parceiros da Mestre Ambrósio, porém, cada vez mais interessado na busca por novos caminhos.

Amplo e ao mesmo restrito, o álbum vai do experimento ao uso de arranjos dançantes e descomplicados em poucos minutos. Como explícito no próprio texto de apresentação do trabalho, parte da inspiração para o presente álbum está na utilização de elementos extraídos diretamente da música congolesa – marca ressaltada em cada acorde metálico impulsionado pelas guitarras. Difícil não lembrar de coletivos como Konono No. 1 durante a execução de músicas como Três Carmelitas ou Quem e Ninguém. Ainda assim, parte fundamental da estrutura que sustenta o novo álbum de Siba está ancorada na música regional de Pernambuco, elemento que funciona como ponte de equilíbrio para a extensa tapeçaria musical do disco, como para os versos, rimas e pequenos encaixes líricos que dançam por todo o trabalho.

De Baile Solto (2015, YB)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Cidadão Instigado, Metá Metá e Passo Torto
Ouça: Marcha Macia, De Baile Solto e Gavião

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.