Disco: “De Lá Até Aqui”, Móveis Coloniais de Acaju

/ Por: Cleber Facchi 08/08/2013

Móveis Coloniais de Acaju
Brazilian/Alternative/Ska
http://www.moveiscoloniaisdeacaju.com.br/

 

Por: Cleber Facchi

Moveis Coloniais de Acaju

De Lá Até Aqui. Não poderia existir um título mais coeso para o redundante ensaio da Móveis Coloniais de Acaju do que este. Mais um regresso aos sons festivos que apresentaram a banda em 2005 – com o lançamento de Idem -, o novo disco encontra no reaproveitamento claro de ideias um exercício cíclico, como se tudo o que o coletivo brasiliense construiu, aprimorou em C_mpl_te (2009) e entrega agora com o terceiro disco, fosse parte natural de um mesmo universo. Um ambiente eufórico, dominado visivelmente pelas apresentações ao vivo, a emoção assumida do público e um ato simplesmente desmotivador ao final.

É preciso concordar: da avalanche de bandas nacionais pós-Los Hermanos, quantas sobreviveram de fato e impuseram um estágio de extrema urgência perante o público? Poucas, raras para definir melhor. Assumindo um lugar de destaque, o grupo de Brasília não apenas pareceu alimentar a infinidade de órfãos do quarteto carioca, como soube ir além. Fez dos dois primeiros registros em estúdio obras complementares para a cena musical recente; transformou cada integrante da banda em uma parte importante na espécie de “empresa” que é o coletivo; encaixou música em trilha sonora de novela; lota shows; tocou de leve no mainstream e agora busca pelo conforto com o novo disco.

Da mesma forma que em 2005, ou talvez antes, quando as primeiras canções do grupo surgiram pela Internet, a banda revela um catálogo rico de sons efusivos e naturalmente enquadrados para as apresentações ao vivo. A mesma overdose de metais, batidas épicas, guitarras alimentadas por diferentes gêneros, temas e tramas distintas que alegram o público. Possivelmente, o melhor álbum da banda, se não fosse por um simples detalhe: As letras. Investindo forte na produção – cuidadosamente assumida por Carlos Eduardo Miranda -, o trabalho cresce em um cruzamento de vozes e sons assertivos, mas que morrem nas palavras. Versos infantis, tolos perante a analogia imobiliária de Aluga-se-Vende, as referências político-literárias de Idem, ou mesmo o romantismo lírico que acompanha grande parte de C_mpl_te.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=ytpfeRUrtgY?rel=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=OJiQ26w2Bec?rel=0]

I say I love You (Say)/ Três menos nove é seis/ Do Inglês pro português/ O amor é tradução/ O amor é tradução” proclama o vocalista André Gonzáles enquanto brinca de ser Renato Russo em Amor É Tradução, possivelmente a pior faixa do trabalho. Há também espaço para as rimas pueris de Saionara (“Cansei de falar português, francês, inglês/ E nada que eu dizia traduzia toda a nossa história/ Não me venha com Saionara/ Sol Nascente não retornará”), música que bem poderia ser encaixada no trabalho da extinta P.O. BOX. Na contramão dos discos anteriores, a poesia do Móveis se faz plástica, descartável, como se a banda planejasse de forma atenta toda a sonoridade do álbum, mas esquecesse da base lírica em torno dele. A decepção é ainda maior se levarmos em conta o cuidado de Abraço EP (2012), estreia solo de Beto Mejía (flautista da banda), e um esforço simples das palavras que parece longe de se repetir nas atuais canções da banda.

Mesmo a sonoridade que delimita o disco – impecável – surge como cópia de uma série de obras prévias. Amanhã Acorda Cedo, por exemplo, borbulha como alguma composição perdida de Lulu Santos (ou seria Skank?) na década de 1990 – aspecto potencializado na voz de Gonzáles. Já a amarga Beijo Seu, parece estranhamente posicionada em cima de Um Girassol Da Cor De Seu Cabelo, clássico do Clube da Esquina que quase brota ao longo da faixa. Somado a isso vem um catálogo extenso de 14 faixas, extremamente próximas, como um bloco único de sons ensolarados que fazem o ouvinte se perder ao longo do caminho. É preciso por diversas vezes respirar e depois voltar para junto do disco, que bem poderia ser resolvido em uma versão mais magra, afinal, faixas descartáveis para isso a banda tem de sobra.

Talvez seja a pressão em atender as exigências da Som Livre, selo que lança o álbum, mas o fato é que De Lá Até Aqui se apresenta como um registro totalmente óbvio. Parece até que a banda foca em desmerecer o público, deixando o exercício criativo de outrora em prol de rimas artificialmente pegajosas, sons formatados e uma completa falta de surpresa. Se a ideia do coletivo era a de agrupar os três registros de estúdio em um mesmo ambiente – cíclico, como a capa e o próprio título do álbum apontam -, ao final do presente trabalho fica a sensação de que alguém errou feio durante esse percurso.

 

Móveis

De Lá Até Aqui (2013, Som Livre)

Nota: 5.5
Para quem gosta de: Orquestra Imperial, Beto Mejía e Canastra
Ouça: Vejo em Teu Olhar, De Lá Até Aqui e Não Chora

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.