Disco: “Dead Son Rising”, Gary Numan

/ Por: Cleber Facchi 22/09/2011

Gary Numan
British/Electronic/Industrial
http://www.numan.co.uk/

 

Por: Fernanda Blammer

Em um ano em que The Clash, Joy Division, Gang Of Four e The Specials lançavam ao mundo suas maiores obras musicais, um jovem Gary Numan lançava seu primeiro registro em estúdio, ou pelo menos o primeiro longe de sua antiga banda, o Tubeway Army. A mistura entre os sintetizadores polidos do Kraftwerk, as letras e o modo de cantar próximos de David Bowie, além de todo um catálogo de referências musicais fariam do ainda pouco conhecido músico uma fonte de inspiração para um vasto número de artistas que naquele momento começavam a desenvolver seus primeiros trabalhos, gente como Trent Reznor e demais entusiastas de uma sonoridade sombria e cultivada por pequenos aparatos sintéticos.

Hoje, passados mais de trinta anos desde que Numan se lançou ao público, o músico capaz de influenciar uma pequena geração acabou influenciado, algo claramente observado em Dead Son Rising (2011, Mortal Records) mais recente lançamento do britânico de 53, que mesmo longe de promover qualquer registro tão conceitual quanto aqueles apresentados no passado ainda consegue acertar. Provável melhor trabalho do artista nos últimos dez ou talvez 20 anos, o disco amarra em pouco mais de 50 minutos todas as referências que há mais de três décadas delimitam a obra de Numan.

Entre passeios pela música industrial – preferência que vem administrando os trabalhos do músico desde idos dos anos 90 -, pequenas transições por um synthpop sombrio, doses de um post-punk eletrônico e controladas evidencias ambientais, o álbum e suas 11 faixas transpiram um sentimento e uma exaltação puramente mórbida, quase como se o músico fizesse de seu recente álbum uma ode à morte. Do título do disco, aos versos tétricos das faixas, do entrelace instrumental penoso aos vocais sombrios e quase fantasmagóricos em alguns momentos, cada segundo dentro do disco é de constante tensão, como se o músico quisesse sufocar o ouvinte.

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Seja por meio de músicas como For The Rest Of My Life (que posteriormente ganha uma versão permeada por pianos minimalistas e reverberações soturnas), The Fall ou a atmosférica e apreensiva Into Battle, todos os espaços dentro do disco são completados por uma estranha dose de amargura, dor e até mesmo desespero, como se Numan fosse encarregado para a construção da trilha sonora de um filme de terror futurístico e que estranhamente se encaixa nos dias de hoje. Contando com sintetizadores esquecidos em um looping constante e cacofônico e vozes que vão do berrado ao etéreo, o músico vai aos poucos nos sugando para dentro do panorama desenvolvido pelo disco.

Mesmo visivelmente inspirado em seu novo projeto – em relação aos anteriores Hybrid de 2003 e Jagged de 2006, o disco é simplesmente uma obra-prima perto de tamanha repetição e falta de entusiasmo -, muito do que delimita a obra de Numan hoje vem de suas constantes andanças não apenas com Reznor, mas outros expoentes da nova geração. Talvez a “influência” que mais se revele ao longo do álbum sejam os nova-iorquinos do Battles, banda com quem o britânico trabalhou recentemente através do disco Glass Drop, álbum que tem principalmente suas batidas e suas guitarras praticamente copiadas dentro desse Dead Son Rising, obviamente de maneira muito mais sombria.

A boa fase, porém, não impede que Numan acabe esbarrando em alguns pequenos erros, sendo a inclusão das versões alternativas de For The Rest Of My Life e Not The Love We Dream Of (ambas instrumentais e conduzidas quase inteiramente em um piano). Não que as músicas não sejam ruins, pelo contrário, talvez sejam melhores do que todas as outras faixas do disco, o que resultaria em algo muito mais proveitoso caso fossem desenvolvidas separadamente, em um EP à parte ou quem sabe em um registro inteiro de faixas do gênero, algo que o britânico poderia apostar que sem dúvidas passaria longe dos erros.

 

Dead Son Rising (2011, Mortal Records)

 

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Tubeway Army, The Human League e Nine Inch Nails
Ouça: For The Rest Of My Life

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.