Disco: “Dear Miss Lonelyhearts”, Cold War Kids

/ Por: Cleber Facchi 29/04/2013

Cold War Kids
Indie Rock/Alternative/Soul
http://www.coldwarkids.com/

 

Por: Allan Assis

Cold War Kids

Nathan Willet e os parceiros de banda têm pago o preço alto por tentar fugir da estrada mais óbvia de sua discografia. Ainda hoje, com quatro registros em estúdio, recebem saraivadas de críticas baseadas na comparação entre seus últimos registros e o primeiro Robbers & Cowards (2006). Bem sucedido, o trabalho surge como  espelho de alguns álbuns do início da década passada, projetos que aliavam as guitarras do blues à solos ruidosos que cortavam músicas ao meio, acrescentando curvas ao reto caminho do rock de singles que se vendem sozinhos – à exemplo de We Used to Vacation e Hang me up to Dry.

O segundo álbum e o EP que o seguiram um ano depois, acabaram implodindo ante a expectativa de uma sequência do que foi produzido em 2006. Loyalty to Loyalty (2008) e Be Yourself EP (2009) respectivamente, foram malhados sem dó pelos que esperavam hits fáceis e riffs pulsantes, quando os californianos resolveram enveredar pelo caminho da experimentação, mergulhando de vez no sempre cuidadoso e evoluído instrumental que promovem. Produziram assim, feitos rapidamente esquecidos pela grande mídia que em sua maioria acreditava que de bandas indie com retoque pop já estávamos bem servidos. A verdade no entanto, é que o Cold War Kids estava procurando diferentes maneiras de desenvolver um som, algo que não precisasse necessariamente se provar bom pela posição que ocupa nas listas dos principais sites e revistas.

No presente Dear Miss LonelyHearts (2013, V2), entretanto, há uma certa ponte com a fase mais comercial do quarteto, algo bem representado nas “porradas” em piano que sustentam Miracle Miles, não à toa escolhida como primeiro single. A faixa tem vocação pra grudar na memória e rivaliza com outros clássicos da banda. Em um primeiro momento, a veia pop sobressai e o flerte com uma sonoridade mais dançante vai ficando cada vez mais evidente, como em Loner Phase. Perfeita amostra do que um pouco de ousadia faria aos discos de Mark Foster, a faixa surge como um ótimo apanhado de sintetizadores que embora reconhecíveis caminham por linhas menos óbvias.

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À medida em que o disco avança, os sintetizadores e a voz de Willet em eco baixam volume para que as guitarras tomem frente nas composições. Como exemplo, Fear & Trembling, amostra da aproximação de uma atmosfera sombria, com mais peso nos acordes de Matt Maust e pulsações graves de um piano em jeito de órgão. Durante a transição que à passos lentos sai do pop e caminha ao encontro do rock mais calcado no soul encontra-se um preocupante apelo épico. É o lado Coldplay dos norte-americanos querendo aflorar em Water & Power, uma canção irmã de qualquer música grandiosa do U2, ou B-side esquecida de Strangeland, último de inéditas do Keane.

Daí em diante, o Cold War Kids muda de ares ao se lembrar que não precisam dar as costas aos avanços técnicos que conquistaram em álbuns menos populares. É Tuxedos que nos prova que os californianos não pretendem apagar Mine Is Yours (2011), resultado conciso e bonito, porém pouco inventivo, de suas memórias musicais. A faixa resgata o rock em tom de súplica que mistura o blues da guitarra melancólica com os uivos do vocalista amparado por um coro de soul gospel. Já a homônima faixa se desdobra num soul/folk que relembra a boa roupagem das aventuras espirituais de Father John Misty e fecha o registro com a balada Bitter Poem, aquela velha canção de esperança, presença quase certeira nos álbuns da banda.

Dear Miss LonelyHearts é uma rendição ao pop ao mesmo tempo em que lança um aviso aos preocupados com a instrumentação inventiva do grupo: ganhar em acessibilidade não é necessariamente perder em qualidade. Os pequenos escorregões iluminam, entretanto, certa falta de consistência como conjunto final, a ausência do elemento que costuma amarrar uma música à outra e revelar como resultado uma obra completa e sem espaços. O último Mine is Yours, apesar de odiado por muitos parece ser a obra mais bem acabada que, ainda que sem hits, corria sólido ao longo da audição. Nathan continua firme nos vocais, mas com a apresentação de uma sonoridade pop cada vez mais latente, às vezes é exigido demais, pecando por breve instantes à frente do microfone, mas nada que não possa ser perdoado.

Fazendo a retrospectiva a que os críticos insistem em se dedicar ao sentar os norte-americanos no banco dos réus, torna-se cada vez mais claro que o Cold War Kids, muda de registro em registro, adotando e abandonando referências ao longo dos anos. Talvez a banda continue em transição, talvez a temática e sonoridades mudem como um reflexo ao que seus integrantes ouvem antes de entrar em estúdio, se este for o caso, que assim seja, bandas que mudam o tempo todo fazem falta.

 

Cold War Kids

Dear Miss Lonelyhearts (2013, V2)

 

Nota: 6.8
Para quem gosta de: Delta Spirit, Grouplove e Dr. Dog
Ouça: Miracle Mile, Tuxedos, Bitter Poem

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.