Disco: “Dedication”, Zomby

/ Por: Cleber Facchi 12/07/2011

Zomby
Electronic/Dubstep/Grime
http://www.myspace.com/zombyproductions

Por: Cleber Facchi

Onde você estava em 92? Ao fazer essa pergunta em meados de 2008 o produtor inglês Zomby fez nascer um dos discos mais pulsantes e nostálgicos daquele ano. Inspirado na cena rave e pela música house do começo da década de 1990, porém, revisitando isso dentro dos padrões típicos do dubstep e do grime, o britânico agrupou um jogo de 14 faixas. Um conjunto rico de músicas carregadas por batidas aceleradas, sirenes esquizofrênicas, ecos de The Chemical Brothers, samples vindos diretamente de composições da época, além de uma nuvem de reverberações sujas e levemente chapadas que deram ao disco uma merecida posição de destaque no cenário eletrônico daquele ano – e dos anos que se seguiriam.

Agora, longe do apanhado de referências que delimitam a cena eletrônica dos anos 90, Zomby – que mantém seu nome original oculto e em quase todas suas apresentações se “revela” através de uma máscara – tenta manter a mesma energia ressaltada no disco anterior, dessa vez sem uma temática específica ou pelo menos em busca de uma. Mesmo que Dedication (2011, 4AD) apresente algumas canções que percorram as mesmas vias que as escolhidas por seu predecessor é visível o quanto o registro se afasta das mesmas batidas esquizofrênicas e imponderadas de outrora, revelando aquela que talvez seja a verdadeira sonoridade de seu criador.

Enquanto o Where We U In 92? era conduzido por loopings matemáticos secos, entrelaces de samplers variados – em alguns momentos lembrando até um Girl Talk sombrio e anfetaminado – e uma orquestração eletrônica que mantinha seus elementos principais dentro de uma lógica hermética, com o novo álbum as composições tomam um rumo bem mais climático e denso, algo que o britânico parecia se desvencilhar o tempo todo no último disco. O resultado desse novo tipo de som resulta em um álbum que mesmo buscando a reprodução de suas frequências de forma dançante se veste com uma roupa experimental e introspectiva.

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Muito do que delimita o novo trabalho de Zomby já fora estabelecido em seu último EP, One Foot Ahead of the Other de 2009, em que o produtor se afastava bruscamente do resultado alcançado em sua estreia, o que tornava o pequeno registro algo difícil de ser absorvido e indisposto de qualquer qualidade acústica. O novo álbum, mesmo se evidenciando como um trabalho distante daquele apresentado em 2008 parece ser um disco mais conciso, ainda desnorteado, porém ciente de sua estrutura. Se Where We U In 92? funciona como uma grande festa, então Dedication é a ressaca, soando suave, repleto de batidas abafadas e carregando todas as culpas e os mais sombrios arrependimentos da noite anterior.

A sonoridade mais densa propagada através das faixas abre a possibilidade para que o inglês se aproxime de Noah Lennox (Panda Bear), resultando em uma faixa que mesmo agradável se revela como desnecessária dentro do disco. Things Fall Apart soa de forma demasiadamente similar ao que o norte-americano vem desenvolvendo em seu último disco, Tomboy (2011), lembrando muito uma versão mais suave e sintetizada de Last Night At The Jetty, de Lennox, o que acaba trazendo certa perca de identidade para dentro do trabalho proclamado por Zomby.

Os ecos da última grande festa animada por Zomby ainda se fazem presentes, como o pequeno ecoar de sirenes em alguns pontos do disco (preste atenção nos segundos iniciais de Things Fall Apart), uma espécie de vaga recordação ou alguns flashes de memória do que fora a noite anterior. Por mais que Dedication não seja capaz de competir com a boa (e explosiva) condução apresentada por seu predecessor, o registro acerta ao passar longe das redundâncias, partindo em busca de uma identidade própria que talvez já esteja presente em um futuro trabalho. É tempo de ressaca para Zomby, e nós embarcamos com ele.

Dedication (2011, 4AD)

Nota: 7.7
Para quem gosta de: Joy Orbison, SBTRKT e Africa Hitech
Ouça: Black Orchid

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.