Disco: “Delta Machine”, Depeche Mode

/ Por: Cleber Facchi 22/03/2013

Depeche Mode
British/Electronic/Synthpop
http://www.depechemode.com/

 

 

Por: Cleber Facchi

Depeche Mode

Não existe mais espaço para o Depeche Mode dentro do que é produzido na música atual. Ou pelo menos não existira se Dave Gahan, Martin Gore e Andy Fletcher se mantivessem dentro da mesma proposta ultrapassada que vinham acumulando desde o ápice com Violator, em idos da década de 1990. Era como se o mundo e os ritmos tivessem mudado, mas a banda – talvez com medo de perder os velhos seguidores – se mantivesse dentro da mesma estrutura redundante construída desde o começo da carreira, em princípios dos anos 1980. O tempo de Personal Jesus, Enjoy The Silence e Strangelove já passou e ao que tudo indica a banda finalmente se deu conta disso.

É de onde parou com Sounds of the Universe (2009) que o grupo britânico retoma as atividades no soturno Delta Machine (2013, Columbia). Nada exaltado em relação aos fraquíssimos trabalhos lançados no começo dos anos 2000, e cada vez mais distante dos sintetizadores caricatos que apresentaram o trabalho da banda há quase três décadas, o recente álbum impulsiona as composições do trio de forma a desenvolver um som brando, ainda obscuro, mas cada vez mais intimista. É como se a banda substituísse o uso de teclados crescentes, por sonorizações compactas, ambientando tudo dentro de uma atmosfera voltada a construção de músicas leves e climáticas.

Quem espera encontrar canções volumosas e hits fáceis como os produzidos pela banda no passado vai se depara com um corpo de composições marcadas pelo oposto. Tudo é pensado dentro de um regime delicado de sons comportados, encaixes precisos e batidas que só se manifestam quando necessário. Com exceção de Heaven e outras raras composições espalhadas pela obra, nada parece voltado ao grande público, como se o trio deixasse os palcos – trama bem aproveitada no último disco – para lidar com um registro de razões intimistas. O público agora é menor, e o palco, talvez, seja substituído pelo ambiente acolhedor de um quarto, ou quem sabe de uma cama como Gahan parece inclinado a exaltar.


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Pela forma como os sintetizadores são aproveitados ou pela maneira como as compactas sequências eletrônicas se espalham pela obra, muito do que alimenta o disco parece vir do trabalho de Thom Yorke em carreira solo ou com o Atoms For Peace. My Little Universe, por exemplo, concentra todos os elementos necessários para se transformar em uma canção irmã do que foi sustentado em The Eraser (2006). São batidas presas a pequenos loops, harmonias matemáticas e um pequeno acolchoado sintético que abre passagem para a chegada dos vocais de Gahan – um misto constante de melancolia e sedução.

Outra preferência curiosa, porém, bem empregada na atual fase do grupo se revela logo nas composições iniciais do disco, Welcome To My World e Angel. De acabamento letárgico e possibilitando um emprego maior dos vocais, as faixas transitam entre o apelo erótico do Trip-Hop e a melancolia sublime do R&B, deixando o Synthpop em um segundo plano coeso e bem aproveitado pelo trio. A mesma proposta se repete ainda na formatação dolorosa de Alone. Antepenúltima faixa do álbum, a canção prepara o registro de maneira atmosférica para seu fechamento, fazendo de Soothe My Soul e Goodbye continuações precisas do que a canção incorpora com um fluxo naturalmente hipnótico.

Com um foco no reducionismo dos elementos, solos de guitarras, acompanhamentos vocais etéreos e pequenas sobreposições instrumentais vão se revelando ao fundo do trabalho, sempre em um regime de constante aproximação entre as músicas. Mais distinto projeto da banda desde que Violator lavou as composições com sintetizadores amargos, Delta Machine lentamente abandona os vícios e exageros de outrora em prol de um Depeche Mode quase renovado, mas que já merece um espaço de destaque na cena atual.


depeche Mode

Delta Machine (2013, Columbia)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Dave Gahan, New Order e Atoms For Peace
Ouça: Heaven, Welcome to My World e Alone

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.