Disco: “Demolished Thoughts”, Thurston Moore

/ Por: Cleber Facchi 18/05/2011

Thurston Moore
Alternative Rock/Folk/Indie
http://www.myspace.com/treesoutside

 

Por: Fernanda Blammer

 

Ao que tudo indica 2011 é o ano escolhido pelos grandes nomes do rock alternativo dos anos 90 para que estes aposentem temporariamente suas guitarras e se concentrem na calmaria. Primeiro foi o eterno líder do Dinosaur Jr J Mascis, que trocou os paredões de guitarras pela suavidade de Several Shades of Why. Na mesma levada veio Eddie Vedder, que munido apenas de um ukulele e alguns parceiros deu formas ao Ukulele Songs. E finalizando a lista chega Thurston Moore, um dos mestres do noise rock, mas que soa muito mais com um trovador da música folk em seu novo disco, o comportado Demolished Thoughts.

Enquanto nos registros anteriores do músico – Psychic Hearts (1995), Root (1998) e Trees Outside the Academy (2007) –  a sensação é a de que tínhamos uma espécie de continuação daquilo que o norte-americano explorava dentro de sua banda oficial, o Sonic Youth, com o novo disco o cantor deixa sua guitarra parcialmente de lado, fazendo com que violões, harpas e violinos sejam empregados não de maneira doce, mas dentro das quase mesma reverberações do noise, naquilo que parece ser uma versão acústica da banda de Moore.

Com produção de Beck Hansen e gravado entre Los Angles e Massachusetts, o quarto disco de Thurston Moore se apresenta como uma pequena epopeia folk em um mundo cinza e urbano, como se a figura do músico fosse vista caminhando em meio a altos prédios e circundado por uma tonalidade escura, despejando ali seus versos desolados e reflexivos. Da mesma forma que ocorre em White Chalk (2007) da britânica PJ Harvey, quando a cantora deixou de lado os instrumentos elétricos em busca de um som mais orgânico, o músico ícone dos anos 90 se entrega por completo nas mesmas sonoridades, fazendo com que seu disco seja de uma profunda beleza do princípio ao fim.

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Como bom guitarrista que sempre foi, Moore transforma seu violão em uma verdadeira guitarra, dissecando o instrumento ao máximo e retirando dele nuances maduras, suavemente tomadas por ruídos e mínimos efeitos de distorção. Enquanto a faixa de abertura (Benediction) se revela como um delicado lamento, sendo preenchida por pequenos agregados de violinos melancólicos, a medida que o álbum vai crescendo o cantor vai se aproximando da mesma instrumentação ou levada abordada dentro do Sonic Youth, claro, sem deixar faceta acústica de lado.

Um belo exemplo dessa ligação entre o músico e suas “antigas” preferências musicais faz-se audível em Circulation, onde o violão, acompanhado de um coro de violinos decadentes faz ressoar algo explorado pelo cantor em seus melhores momentos na década de 90, como o que era exposto em Goo (1990) ou Dirty (1992). Se nas mãos do músico estivesse uma guitarra ao invés de um violão, não há dúvidas que teríamos um verdadeiro clássico do rock alternativo, repleto de camadas e mais camadas de distorção.

E é dentro dessa lógica, mantendo suas raízes, mas brincando com novos instrumentos que Thurston Moore acaba por transformar seu novo trabalho solo em um poderoso delírio acústico. A produção coerente de Beck faz parecer com que todas as canções estejam de alguma forma interligadas, não estando ali apenas como um apanhado de faixas distintas, mas parecendo nove criações irmãs, todos similares e oriundos de um mesmo pai.

Demolished Thoughts (2011)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Sonic Youth, J Mascis e Eddie Vedder
Ouça: Circulation

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.