Disco: “Dentro do Tronco Oco”, Bruno Fleming & Paula Lombardi

/ Por: Cleber Facchi 06/03/2011

Bruno Fleming & Paula Lombardi
Brazilian/Indie/Experimental
http://www.myspace.com/dentrodotroncooco

Por: Cleber Facchi

Talvez uma das coisas mais interessantes que chegaram via e-mail nos últimos tempos seja esse estranho, doce e bem produzido Dentro do Tronco Oco (2011), trabalho em parceria dos mineiros Bruno Fleming e Paula Lombardi. Enquanto o primeiro dá vazão às canções por meio de seus vocais e da instrumentação que permeia o álbum, a segunda se responsabiliza por cada verso, estrofe ou mínima poesia dentro do trabalho. O resultado está em dez canções numeradas, que transbordam uma sonoridade agridoce e bem calculada.

Fluindo dentro de uma sonoridade que vai da música folk ao experimentalismo, passando pelo indie rock, a música brasileira dos anos 60, além do rock alternativo, o disco de título cacofônico funciona como uma espécie de livro de contos, feito que vem ilustrado da capa às faixas, sendo cada música um pequeno capítulo. Logo em sua abertura, na faixa Primeira, a dupla abre seu leque de referências, indo de momentos comportados de beleza acústica formidável a momentos viajados, repletos de interferências sonoras, sons de despertadores, pessoas conversando e uma bem inserida guitarra. Já nesse capítulo a dupla deixa claro, que sua história não é um conto de fadas simplista, mas sim uma narrativa de múltiplas tonalidades e camadas.

Na sequência, as historietas que a princípio pareciam fatos e sons alegres, logo se modificam em um universo sombrio, seria ali a aparição do vilão ou da vilã? Pelo menos é isso que Segunda deixa transparecer, canção em que o uso de uma guitarra obtusa vai ocupando todas as lacunas, deixando com que parcos instrumentos ensolarados consigam se evidenciar. Mesmo livre de todas as experimentações quase caóticas, Terceira ainda se aventura por um terreno misterioso, embora lentamente se encaminhe para um final redentor.

Toda e qualquer instrumentação que pudesse focar o grupo na mesma linhagem de grupos/artistas como Sufjan Stevens, Iron & Wine e Departament of Eagles é momentaneamente abandonada para que a crueza de Quarta pudesse se evidenciar. Livre dos adornos melancolicamente elaborados das faixas anteriores a canção abre com uma sequência bem coordenada de acordes sujos de guitarras, até uma pequena pausa e por fim o desfecho novamente acelerado e seus vários toques abafados. Contudo, Quinta já traz de volta o álbum para dentro do mesmo som de outrora, porém as guitarras e os solos sujos ainda estariam presentes.

No sexto capítulo do livro/álbum a captação de sons aquáticos retoma o caráter experimental da obra, se adornando pelo canto de pássaros e uma instrumentação que segue de maneira crescente. Mais “aberta”, Sétima carrega um “q” de brasilidade, e vem reforçada pelo uso de guitarras que se dividem em momentos mais limpos e toques sujos esporadicamente inseridos. Oitava parece aquele momento em que o herói se encontra amargurado, após uma perda lastimável. Tanto letra como melodia evocam um ar sóbrio e entristecido.

O ritmo levemente mais acelerado prepara o leitor/ouvinte para o fim da história. É o momento de enfrentar os inimigos e Fleming faz isso com uma instrumentação energizada e direta, mesmo os momentos mais sossegados funcionam como pequenas pausas respiratórias para que novo fôlego seja tomado e a canção tenha sequência. Após uma árdua batalha e inúmeros momentos, tristes ou explosivos, chega Décima e pelo tom quase sussurrado e alegre, o final de Dentro do Tronco Oco só poderia ser um: um final feliz.

Dentro do Tronco Oco (2011)

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Pélico, Câmera e Colorido Artificialmente
Ouça: Terceira

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.