Disco: “Different Gear, Still Speeding “, Beady Eye

/ Por: Cleber Facchi 17/02/2011

Beady Eye
British/Rock/Britpop
http://www.myspace.com/beadyeye

Por: Cleber Facchi

No dia 28 de agosto de 2009 Noel Gallagher (ou seria Liam? Sempre confundo, certeza que não são a mesma pessoa? Não? Ok) anunciava no site oficial do Oasis, que por conta de divergências com o irmãos Liam (agora sim) o grupo chegava ao fim. Encerravam-se ali as atividades daquela que foi uma das mais amadas e odiadas (ênfase aí) bandas da história do rock contemporâneo. O grupo dono de Definitely Maybe (1994) e (What’s the Story) Morning Glory? (1995), dois álbuns fundamentais para entender a música dos anos 90, extinguia ali qualquer possibilidade de um futuro lançamento.

Bem de verdade, a banda há tempos não laçava nada profundamente interessante ou dotado da mesma excelência de seus primeiros trabalhos de estúdio. Desde Be Here Now (1997) que os irmãos Gallagher seguiam com uma série de lançamentos burocráticos e que em nada lembravam a fluência do início da carreira. Muito mais marcados pelas constantes participações nos tablóides de fofoca e nas frases de efeito que um soltava contra o outro, o fim do Oasis não era nada imprevisível. Dig Out Your Soul de 2008 até apontava para um possível restabelecimento da banda, já que era o melhor trabalho do grupo em tempos, mas eis que veio o derradeiro desentendimento familiar e o final todos sabem.

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Mas o fim do Oasis significava o fim da carreira dos irmãos mal-encarados? Pelo menos não para Liam. Poucos meses após o término da banda e o irmão mais novo da família Gallagher já anunciava via rede que se uniria a antigos integrantes da banda para dar força a um novo trabalho. Surgia assim o Beady Eye, o primeiro projeto Pós-Oasis, mas o que esperar desse novo trabalho? A resposta viria com o primeiro single Bring the Light lançado em novembro de 2010 e que era estranhamente… Bom. Uma velha composição no melhor estilo britpop e com tudo que pudesse sugar do rock inglês dos anos 60. Os fãs foram à loucura. Quem não gostava de Oasis teve de se conformar com mais uma enxurrada de noticias, twitts e afins sobre essa nova banda.

Com a estreia do primeiro disco de estúdio prevista para fevereiro, antes o Beady Eye chegaria com mais dois singles. O primeiro, Four Letter World é uma daquelas faixas que fizeram o público se apaixonar pelo Oasis nos anos 90 e que nas mãos do novo grupo britânico funciona muito bem, embora venha embebida pelo básico que já circundava os anteriores trabalhos da banda de Manchester. E antes que alguém reclame: não há como falar de Beady Eye sem falar de Oasis, uma está ligada a outra e isso é involuntário. The Roller lançada mais ao fim do mês de janeiro não é nada além de uma balada “daquelas faixas que fizeram o público se apaixonar pelo Oasis nos anos 90”, embora nem se compare com “clássicos” como Don’t Look Back in Angar.

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E eis que chega a estreia do Beady Eye, Different Gear, Still Speeding (2011) e para a surpresa de muitos (ou não) um disco agradável, mas nada muito além disso. O grupo não apenas suga suas referências do som dos Rolling Stones, Beatles e Bob Dylan (coisa que o Oasis já fazia) como se aproveitam traiçoeiramente do som de artistas da nova geração como o Black Rebel Motorcycle Club (por um momento pensei que os discos B.R.M.C. de 2001 e Take Them On, On Your Own de 2003 que estivessem tocando).

Esse “debute” da banda britânica acaba se dividindo claramente em duas metades bem distintas: uma pior e outra menos pior. A parte mais coerente vai da primeira à sétima canção, trecho em que se situam os primeiros singles lançados pela banda, além de faixas que dão certa aura de novidade e frescor ao disco (mesmo que seja um frescor já desgastado). Desse grupo faz parte Millionaire uma composição melódica e uma das faixas mais aproveitáveis do disco. A enérgica Beatles and Stones (…) é outra que mesmo com a letra fraquíssima consegue cultivar um bom momento dentro do álbum, algo que se intensifica com a baladinha folk e simpática For Anyone, em que os contornos simplistas dados à música fazem dela um belo exemplar desse trabalho.

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Da sétima canção até o final do disco uma sucessão de composições maçantes é o que toma conta do álbum de estreia do Beady Eyes. A banda chega ao cúmulo com Wigwam, algo tão ruim que faria qualquer coisa dentro do Be Here Now soar como canções entoadas por deuses. Bem observada essa “segunda” parte do disco funciona mais como um enorme cemitério de faixas banais e pretensiosas. The Morning Son, por exemplo, se não te causar sono no mínimo vai lhe proporcionar náuseas. O misto de balada com doses de psicodelia mostra o quanto Liam e seus parceiros conseguem ser ruins.

Quem chegou a pensar que o Oasis havia acabado acabou sendo redondamente enganado. A banda não apenas está viva, como conseguiu ganhar uma versão piorada dela mesma. Resta ainda ver o que Noel tem para nos presentear, e pelo nível desse Beady Eye, boa coisa não deve ser.

Different Gear, Still Speeding (2011)

Nota: 4.5
Para quem gosta de: Oasis, Black Rebel Motorcycle Club e The Verve
Ouça: Millionaire

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.